Variedades

“Outono” aborda relações com a natureza

“Outono” aborda relações com a natureza
Crédito: Hermes Oliver

A Cia. Mineira de Teatro chega pela primeira vez a Belo Horizonte com o espetáculo de dança-teatro “Outono”. Dirigido por Diego Matos, o quarto trabalho do grupo de São João Del-Rei une, em cena, as linguagens da dança e do teatro mesclando coreografias e jogos verbais para refletir sobre as relações do ser humano com a natureza.

A montagem tem curta temporada, na Funarte, hoje e amanhã, às 20h, e domingo, às 19h, dentro da programação do Programa Funarte Aberta – Mostra Minas. Todas as sessões possuem intérprete de libras. Os ingressos custam R$20 e R$10 (meia) e estão à venda na bilheteria do teatro ou pelo Sympla: https://bit.ly/3gzd2pk.

“Outono fala de um mundo cheio de polaridades e jogos de poder, com menos didatismo e mais poesia, para quem sabe, tocar o espectador numa via diferente: pela pele, pela beleza e pela técnica. É uma metáfora existencial dos nossos tempos: remonta paisagens de um mundo vivido e paisagens de um mundo possível”, explica a atriz e uma das fundadoras da Companhia Mineira de Teatro, Priscila Natany.

No palco, a artista e o parceiro de cena, o ator e bailarino Júnio de Carvalho, se encontram num espaço de convívio delimitado e vivenciam situações cotidianas em que tentam reconstituir a natureza. A partir de narrativa atual sobre uma sociedade devastada, em declínio, o trabalho apresenta, de forma poética, o conflito entre a natureza humana e o mundo artificial. “Fomos inspirados por Ailton Krenak quando o indígena fala de um mundo que está em queda e do nosso divórcio com a natureza que nos coloca diante de algo cada vez mais mecânico e artificial”, acrescenta Júnio de Carvalho.

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O texto também faz referência à poesia de Matilde Campilho (escritora portuguesa) e de Bruna Beber (poeta fluminense), que criam paisagens visuais dentro dos seus poemas. Embora a dramaturgia acene para a relação ser humano versus natureza, o espetáculo dá margem para que o espectador crie o próprio roteiro e faça diferentes leituras. “Está longe de entregar ao público uma comunicação única, mas perto de provocar diferentes sensações”, acrescenta o diretor Diego Matos.

É na sala de ensaio que a temática ambiental de “Outono” ganha corpo, a partir dos experimentos de dança-teatro. O ponto de partida foi investigar o movimento como possibilidade de comunicação e o verbo como alternativa, e não como essência da performance teatral. “Apostamos na relação dos corpos dentro de um espaço reduzido, depois a relação entre corpos e objetos, corpo e som. Começaram a surgir pequenos fragmentos que, para nós, diziam muito sobre diferentes tipos de relação, entre elas, homem e natureza”, relata Diego Matos.

Os processos de criação da Cia Mineira são historicamente pautados pelo entrecruzamento de linguagens. Seus integrantes possuem formação e experiência nas áreas da Fotografia, Artes Visuais, Teatro, Dança e Performance. Em cena, essa diversidade de referências é estendida aos elementos da encenação. “No caso do figurino, optamos por peças minimalistas, atemporais e versáteis, capazes de contribuir para a formação de imagens poéticas e possibilitar o amadurecimento das personas dos atores”, conta Diego Matos. O cenário de “Outono” traz a reprodução artificializada de um mundo natural como grama sintética, água engarrafada, sons mecanizados, fios de microfones, extensões, galhos simulados, ventiladores e cadeiras metálicas, retilíneas e padronizadas. “Elementos que ampliam o conflito da relação homem x natureza e contribuem para uma leitura mais direcionada”, completa o diretor.

A dramaturgia sonora do espetáculo é guiada pelo som mecânico de ventiladores junto à trilha do compositor Divan Guattamorta. Há também, em cena, um microfone, que atravessa as barreiras do espaço e ultrapassa limites físicos, permitindo aparições de uma voz que simboliza um eco “ou quiçá um último grito de sobrevivência”, afirma Júnio. O bailarino conta que a iluminação ajuda a recortar quadros da encenação. “Ora revela detalhes minuciosos, ora varre todo o palco de uma floresta devastada”, afirma. A fotografia também é explorada como linguagem.

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