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Palácio das Artes é palco de um encontro de corais

Mais de 150 vozes, de vários corais, vão homenagear o o maestro belo-horizontino Carlos Alberto Pinto Fonseca (1933-2006)
Palácio das Artes é palco de um encontro de corais
Crédito: Paulo Lacerda

Em 2023, são celebrados os 90 anos de nascimento de um dos mais importantes regentes e compositores de coro do Brasil, o maestro belo-horizontino Carlos Alberto Pinto Fonseca (1933-2006). Como forma de homenagem e reverência ao legado deste artista tão importante, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) se junta ao Coral Ars Antiqua para promover um encontro de dezenas de vozes em torno da obra de Carlos Alberto. As apresentações, que integram a série “Concertos da Liberdade” e o “Festival Carlos Alberto Pinto Fonseca”, acontecem no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.

Hoje, às 20h30, estarão reunidos o Coral Lírico de Minas Gerais (CLMG), o Ars Nova – Coral da UFMG, o Coral Ars Antiqua e o Coro Contemporâneo de Campinas, interpretando peças compostas e arranjadas pelo maestro Carlos Alberto. Já amanhã, às 20h30, todos os coros se juntam para cantar a grande “Missa Afro-Brasileira” no mesmo palco, somando mais de 150 vozes, além de solistas e percussionistas. O concerto contará, ainda, com um profissional intérprete de libras para o acompanhamento das ações e orientação ao público com deficiência auditiva nos espaços que dão acesso ao Grande Teatro.

Falecido em 27 de maio de 2006, Carlos Alberto assumiu em 1962 a regência do Coral da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais (UEE), que, em 1964, passou a se chamar Ars Nova – Coral da UFMG. Foi regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG) e do Coral Lírico de Minas Gerais.

Premiado internacionalmente como regente e compositor, levou a música brasileira a diversos países e contribuiu para o reconhecimento da musicalidade orquestral e coral brasileiras. O autor deixou mais de 20 peças afro-brasileiras e mais de 100 arranjos e composições de outras escolas. Sua obra-prima, a “Missa Afro-Brasileira”, é considerada uma das mais importantes peças do repertório sacro para coro e solistas, e tem sido cantada e gravada por corais das mais diversas partes do mundo. Por ela, Carlos Alberto Pinto Fonseca recebeu, em 1976, da Associação Paulista de Críticos de Arte, a premiação de melhor obra coral estreada em São Paulo.

A “Missa Afro-Brasileira (de Batuque e Acalanto)”, de Carlos Alberto Pinto Fonseca, foi composta em aproximadamente três meses, entre os anos de 1970 e 1971. O maestro decidiu compor esta missa utilizando elementos da cultura afro-brasileira, quando o então papa João XXIII – por ocasião do Concílio Vaticano II – sugeriu que compositores de todo o mundo utilizassem elementos populares e folclóricos de seus países em obras sacras ou de inspiração religiosa.

A missa recebeu o subtítulo de “Batuque e Acalanto”. Segundo o compositor, o acalanto representa a canção de ninar brasileira, enquanto o batuque, de forma geral, remete à percussão de origem africana. Há ainda a presença de vários outros elementos na obra: a marcha-rancho, o samba-canção, o ritmo do maracatu, o folclore estilizado e até uma referência ao “vira” português.

A maestra Angela Pinto Coelho, que dividiu a vida e a carreira com Carlos Alberto Pinto Fonseca, e hoje é regente do Coral Ars Antiqua, participará das duas apresentações, regendo tanto o coro do qual é titular, quanto o conjunto de vozes que se reunirão para interpretar a “Missa Afro-Brasileira”. “É um evento que está reunindo quatro corais dos melhores do Brasil, três dos quais fizeram parte da história do Carlos Alberto Pinto Fonseca, além do Coro de Campinas, cujo regente foi aluno do maestro e é um grande admirador dele. Carlos Alberto fez uma escola, e esta homenagem é um momento muito emotivo e representativo, não apenas pelo sentimento, mas pelo reencontro dos cantores, pelo astral do acontecimento e pela energia daquela música”, afirma.

Dicotomias

Inúmeros fatores influenciaram o processo composicional da “Missa Afro-Brasileira”, e o principal propósito do maestro foi romper com as dicotomias entre os conceitos de sacro e profano, erudito e popular. A obra foi escrita com o texto completo da Missa, em latim e em português, sob a justificativa de que o português é um idioma mais brando, e, portanto, melhor para as melodias suaves, enquanto o latim é mais percussivo e articulado, ideal para as linhas mais enérgicas e para realçar a força, o impulso e o calor dos ritmos africanos. A “Missa Afro-Brasileira” une, assim, a estrutura da missa romana às características do nacionalismo brasileiro, criando um sincretismo musical, cultural e religioso vindo das tradições ancestrais indígenas, negras e europeias.

A obra termina de forma marcante. Após a turbulência da missa, com todos os seus pontos mais intensos e apoteoses, entra o “Dona nobis pacem”, característico pela suavidade. Repentinamente, na segunda parte, vem a fortíssima exclamação “Agnus Dei!”, como um pedido de socorro a Deus, um chamado para Ele clamando que o mundo não está em paz.

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