Pascoal da Conceição é Mário de Andrade

A relação do ator, dramaturgo e diretor Pascoal da Conceição com Mário de Andrade, precursor do movimento modernista brasileiro, vai além dos palcos e textos. A simbiose entre os dois perpassa a poética e os modos de pensar. Na interlocução, que transcende a antropofagia das linguagens e estéticas, Pascoal incorpora Mário não apenas naquilo que o escritor deixou como legado, mas também nos traços físicos herdados ou adquiridos, como gosta de dizer o ator, incorporados por uma espécie de osmose do pensamento.
O laço que une um dos principais nomes da literatura e da intelectualidade brasileira e o renomado artista, conhecido, entre outros trabalhos, pela interpretação do Dr. Abobrinha, no “Castelo Rá-Tim-Bum”, pode ser apreciado hoje, às 20h30, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. Pascoal leva ao público a obra “Mário de Andrade desce aos infernos”, escrito a partir do poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, concebido logo após a morte do escritor paulista e publicado em “A rosa do povo”, livro do poeta mineiro de 1945.
O evento faz parte das comemorações dos 120 anos de Carlos Drummond de Andrade e integra as ações do programa “O Modernismo em Minas Gerais”. Os ingressos podem ser retirados gratuitamente em www.fcs.mg.gov.br ou na bilheteria do Palácio das Artes.
O espetáculo, dividido em nove atos, que apresentam continuidade entre si, incorpora textos originais de Mário de Andrade em entrevistas, prosa, poema e crônica. A encenação passa pelas viagens que Mário de Andrade realizou pelo país em busca da identidade nacional, fundamentais para moldar o modernismo brasileiro, e textos proeminentes do pensamento modernista, como “Macunaíma”. “São nove estações, cenas, que discorrem sobre momentos da vida e obra de Mário de Andrade. O espetáculo apresenta um pensamento para lubrificar nossas reflexões sobre o agora, o Brasil, o brasileiro, o mundo e a arte”, reflete Pascoal.
Além da confluência de pensamentos, Mário de Andrade e Pascoal da Conceição compartilham na identidade a data em que vieram ao mundo, 9 de outubro, e o fato de terem nascido na capital paulista. “A minha conexão com o Mário vem de diversos lugares. Seria simples se fossem apenas o local e o dia de nascimento. Nossos pensamentos sobre sociedade, cultura, artes e de linguagem são muito próximos, tão próximos que fisionomicamente me pareço com ele”, brinca Pascoal.
De acordo com Pascoal da Conceição, o pensamento de Mário de Andrade é coletivo e não se encerra em suas concepções. Ao contrário, é um espaço aberto para novas significações. “Esse é um dos aspectos que fazem Mário de Andrade tão atual, e extremamente contemporâneo. O pensamento dele é coletivo e só pode fruir em sua infinidade de significações por meio da coletividade. É algo em intensa construção e desconstrução, pois é no cotidiano, naquilo que o presente tem de concreto, que se desdobram as linguagens que querem absorver e ao mesmo tempo transcender o agora. O Mário de Andrade que eu penso representar é o Mário de Andrade do presente”, conclui.
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