Peça de teatro transita entre mistério e suspense
A Fundação Clóvis Salgado (FCS), por meio da Escola de Teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), apresenta a peça teatral “Sharing: The Night”, que marca formatura do curso técnico de teatro do turno da manhã.
O espetáculo, que transita entre os gêneros do mistério e do suspense, será transmitido por meio de live no canal do YouTube da FCS, até o próximo domingo, sempre às 21 horas. Com dramaturgia e direção de Júlio Vianna, o espetáculo tem classificação livre e o acesso é gratuito.
“Sharing: The Night” é uma obra que conta a história de um grupo de pessoas que se hospeda em um grande casarão, em um local isolado. Ao longo de uma noite, acontecimentos estranhos e misteriosos demonstram que nem tudo é (ou pode ser) exatamente o que parece. Para criar a peça, o diretor se inspirou em alguns clássicos do cinema e da literatura com temáticas que giram em torno de mistério, suspense e romances de época.
À turma, Júlio Vianna apresentou cerca de 20 filmes, dentre eles “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock, e “Orgulho e Preconceito”, adaptação da obra literária de Jane Austen, como parte de um estudo para a compreensão e familiarização com os dois gêneros. O nome da peça faz referência à música “Sharing The Night Together”, da banda pop norte-americana Dr. Hook, fundada no final dos anos 60.
Como parte de um processo que visa criar uma atmosfera real de tensão, Júlio Vianna adotou o mistério como método de trabalho. Durante o processo, era habitual que o diretor revelasse para os atores e o restante da equipe detalhes do enredo apenas momentos antes dos ensaios acontecerem.
“Eu resolvi colocar o elenco nesse estado de tensão, de não entender completamente todas as dinâmicas e propostas, ao soltar aos poucos a narrativa dramatúrgica. Ou seja, aos poucos os artistas vão descobrindo quem eles interpretam. Dessa forma, todos os personagens são passíveis de serem culpados, inocentes ou vítimas. Isso cria uma ambivalência dentro dos atores que me interessa trabalhar”, explica Vianna.
Para Giulia Haua, atriz da peça, é instigante o método aderido pelo professor e diretor do espetáculo de não passar para equipe determinadas informações com antecedência. “É uma experiência única. É um teste, porque a gente fica curiosa, querendo saber das coisas. Isso muda o nosso jeito de atuar e, ao mesmo tempo, nos alimenta”, avalia.
A direção musical do espetáculo é assinada por Ernani Maletta, conceituado artista, professor e pesquisador teatral. Segundo ele, trabalhar com o acesso limitado às informações sobre a peça o fez optar pela atitude de ser uma voz ativa no processo de criação do espetáculo. “Existem duas maneiras de trabalhar assim: assumir uma postura passiva e esperar que alguém lhe conte algo; e existe a maneira que eu escolhi: a ativa. Já que o mistério existe, eu comecei a inventar informações e contá-las para o Júlio e para os alunos. E assim fomos desenvolvendo as coisas, algumas que o Júlio aproveitou e inseriu no enredo”, revela Ernani.
Segurança – Em condições normais, é comum que o fazer teatral gere muito contato físico entre os profissionais e proporcione momentos coletivos de trabalho. Mas, diante de uma pandemia, esse processo de trabalho usual precisa ser repensado e adaptado. Nesse contexto, Vianna, ao criar “Sharing: The Night”, enfrentou desafios. Durante a concepção de todas as cenas, houve a preocupação de concebê-las respeitando as medidas de segurança. “Foi o espetáculo mais difícil que já fiz”, afirma.
De início, estudos do texto, pesquisas acerca da peça, das personagens e as próprias aulas teatrais que pareciam ser impossíveis a distância, tiveram que acontecer por meio de videoconferências, só retornando ao presencial quando a situação estava mais segura. Apesar dos obstáculos, Júlio não considera que a pandemia da Covid-19 tenha atrapalhado o processo de desenvolvimento da peça. Pelo contrário, ele acredita que o contexto potencializou da obra. “É possível criar nesse caos”, afirma o diretor.
Os ensaios e as apresentações do espetáculo seguem todos os protocolos de segurança, como: o uso constante de máscara, distanciamento entre os atores e a política da não aglomeração, tendo em vista que é uma peça online. Uma obra feita em um momento atípico que apresenta o cuidado com o outro, a adaptação ao novo e a resistência da arte.
O Palacete Dantas, um dos casarões mais antigos de Belo Horizonte e cuja localização fica em frente à Praça da Liberdade, é o palco de toda a encenação de ´”Sharing: The Night”. Desta forma, o diretor utiliza o conceito caracterizado por dramaturgia do espaço: “É a escolha de um espaço não convencional teatral, podendo ser um edifício urbano, um açougue, farmácia, rua, avenida ou sistema de esgoto”, explica Vianna. Assim, ele traz a peça para fora do palco comum e transforma o casarão em um ambiente cênico. Isso influencia diretamente na criação dramatúrgica, uma vez que é necessária a equipe de trabalho construir conexões entre o espaço físico e o roteiro.
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