“Sagoma” abre calendário expositivo da Casa Fiat

Dissecar a relação afetiva com os espaços naturais e urbanos, ao mesmo tempo em que discute o que é natural ou artificial e a interferência dos homens com a paisagem a seu redor, são algumas das reflexões propostas por “Sagoma”, mostra que abre o calendário expositivo da Casa Fiat de Cultura de 2021. De autoria do belo-horizontino Henrique Detomi, com curadoria de Marina Câmara e João Guilherme Dayrell, a mostra, que será aberta hoje e poderá ser vista até 15 de março, apresenta paisagens naturais e artificiais, ressignificadas pelo olhar do artista.
A mostra é composta por 12 obras, sendo dez pinturas em óleo sobre tela e madeira e duas esculturas em terra e ferro. A exposição está montada no espaço da Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura e poderá ser vista pelo público de forma virtual, por meio de percursos em vídeo, mediações on-line e conteúdos especiais criados pela equipe da instituição em conjunto com o artista. Hoje, às 19 horas, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo on-line ao vivo com o artista plástico Henrique Detomi. As inscrições gratuitas podem ser feitas pela Sympla.
O título da exposição — a palavra italiana sagoma — significa silhueta ou contorno. E essa é, justamente, uma das características marcantes nas obras, que têm uma área específica, composta apenas pela forma. Esse contraste entre as texturas aveludadas das pinturas e dos espaços vazios traz à tona a discussão central de “Sagoma”: as diferenças e semelhanças das paisagens artificiais e naturais, mediante a ação humana; a noção do homem de localização e ocupação, e como ele interage com a natureza e modifica o cenário ao redor.
“Os recortes introduzidos em minha pintura ganham magnitude de síntese conceitual dentro do âmbito da paisagem e expandem, principalmente nesta exposição, para o espaço físico, tornando-se, além de silhueta, um espaço vazio dentro da obra, que, contudo, ocupa e preenche nossos imaginários”, observa Henrique Detomi.
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A pesquisa pictórica do artista surge a partir de uma investigação pessoal sobre a paisagem, ainda em 2014. Detomi realizou uma série de caminhadas no interior de Minas Gerais. Esse contato com a natureza foi a base para o desenvolvimento das obras. Mas elas não são reproduções do que os olhos viram. Foram realizadas em ateliê e buscam representar os sentimentos que ele viveu ao passar por esses lugares. “A partir dessa experimentação do espaço natural, percebo mais amplamente a interferência humana nessas paisagens. Ao me colocar em situações diversas, percebo os limites culturais que me impedem de ter uma relação afetiva com o espaço e as formas com as quais, por um outro lado, me identifico como habitante tanto do espaço natural quanto do espaço urbano”, reflete o artista, ao destacar como a paisagem acaba se tornando um lugar de confrontação pessoal, em que é preciso sair de um espaço estável para encarar o acaso e o estranho.
Esculturas –“Sagoma” é um recorte das pinturas mais recentes de Detomi e uma incursão no mundo da escultura, formato que o artista apresenta pela primeira vez. As duas manifestações artísticas estão integradas dentro da proposta expositiva e estabelecem uma relação que produz novas interpretações por parte do público.
As esculturas serão instaladas na parede do fundo e na parede de vidro, na entrada da Piccola Galleria, criando um diálogo em um espaço retangular, que, visto de cima ou pela lateral, criam um contorno geométrico perfeito, que participa da identidade visual e conceitual das obras.
Em cada uma das dez pinturas e nas duas esculturas, poderá ser vista uma forma que, ao mesmo tempo que está ausente, se faz muito presente. Essas lacunas, que ora parecem um monólito, ora uma forma mais abstrata, configuram a Sagoma de Detomi, conduzindo o observador a reflexões contemporâneas sobre a interferência humana no interior da paisagem, a partir de soluções plásticas e pictóricas.
Detomi esclarece e sintetiza o conceito chave que perpassa as dez obras de Sagoma: “O artista, tanto quanto o viajante, tem na memória e na imaginação a sua maneira ímpar de dizer sobre aquilo que é a paisagem, subjetivamente. Tenho interesse em entender a paisagem como uma relação físico/mental entre a pessoa e o mundo”, explica.
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