Setor audiovisual ganha linha de crédito de R$ 400 milhões

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) retomou o apoio à indústria audiovisual com o lançamento do Programa BNDES FSA Audiovisual, anunciado essa semana. A nova linha de crédito com orçamento inicial previsto em R$ 400 milhões pretende fomentar a indústria do audiovisual no País.
O crédito, elaborado em conjunto com o Ministério da Cultura e com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), pertence a um programa mais amplo de ações do governo federal para ampliar o desenvolvimento do setor, previstos para R$ 1,6 bilhão este ano, oriundos do Fundo Setorial do Audiovisual. Um valor recorde, segundo o Ministério da Cultura, e 23% superior ao registrado em 2023 (R$ 1,3 bilhão).
“A retomada dos investimentos está reaquecendo o mercado do audiovisual. Temos sido procurados por empresas fora de Minas querendo atuar aqui”, informa a analista do Sebrae Minas, Nayara Bernardes, que também é coordenadora de um dos maiores eventos do setor no Estado, o MAX, um salão de negócios destinado ao audiovisual realizado pela instituição. Ela afirma que o mercado já dá sinais de reação e valoriza os investimentos que atende toda a cadeia produtiva do setor.
A linha de crédito atende três linhas: infraestrutura audiovisual, acessibilidade e inovação, e a produção e comercialização, fortalecendo o segmento empresarial de todos os participantes da cadeia produtiva como produtores e distribuidores. “Investir na distribuição é muito valioso pois permite o setor se retroalimentar. Parte do valor arrecadado pelas bilheterias das produções nacionais vai para o Fundo (Setorial do Audiovisual) e retroalimenta o sistema”, diz Nayara Bernardes.
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Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), divulgados pelo Ministério da Cultura, em 2023, das 415 estreias de longas-metragens em cinemas do País, 161 eram produções nacionais (38,7%). Apesar disso, em termos de público, os filmes brasileiros atraíram apenas 3,6 milhões de pessoas, ou 3,2% do total.
Para a analista do Sebrae, a desconstrução da ideia de que o cinema brasileiro é ruim, que investir no cinema é “bobagem”, é lenta, mas já acontece. Além das políticas públicas que contribuem, a diversidade das produções, o investimento em marketing e distribuição, bem como a melhoria da qualidade das obras cinematográficas mostram, na opinião dela, uma evolução nesse sentido.
“A indústria do audiovisual é uma indústria tão importante quanto qualquer outra. Gera emprego, arrecadação e faturamento. Temos aí o exemplo da Coreia do Sul que nos anos 1990, ao perceber que a indústria do cinema quando a exibição do filme Jurassic Park faturou mais que a indústria automobilística, criou políticas públicas para fomentar o setor até ganhar o Oscar, em 2020, com o filme Parasitas”, exemplificou.
A presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual de Minas Gerais (Sindav), Daniela Fernandes, também vê com bons olhos a visão que o BNDES está dando para o audiovisual. “Nos últimos anos, praticamente, só tivemos incentivo por parte de prefeituras ou projetos de empresas privadas de produção de conteúdo”, afirmou.
Segundo ela, no início dos anos 2000, havia uma preocupação com a indústria cultural e audiovisual que nos últimos anos não aconteceu. “Na época, foram lançados vários projetos e programas históricos para a economia criativa e você retomar com esta política do BNDES é fundamental neste momento para a perenidade do desenvolvimento do setor. A política tem que ser de Estado e não de governo”, completou.
O produtor e diretor de cinema Helder Quiroga, da Elipse Conteúdos Audiovisuais, também comemora. Na análise dele, as linhas de crédito a juros baixos possibilitam às empresas a programarem investimentos tanto em suas produções como na infraestrutura necessária para o desenvolvimento tecnológico e competitivo no mercado. “Porém, para que estes investimentos possam chegar na ponta, em nosso caso, em Minas Gerais, têm que vir acompanhados de um plano de diretrizes e metas que consiga aliar recursos, estratégias de desenvolvimento, politicas públicas regionais e descentralização de políticas nacionais de fomento para todos os estados do País”, defende.
Quiroga ressalta ainda que a economia do audiovisual é a que mais emprega as novas gerações no mundo. “Ela detém sob sua tutela uma capacidade única de aliar desenvolvimento econômico e tecnológico, à geração de emprego e renda e ao combate às desigualdades sociais. Além de ter um poder enorme para construção da identidade nacional em termos simbólico e comportamentais”, diz.
Raio-X do audiovisual em Minas Gerais
Tomando como referência a lista de agentes econômicos cadastrados na Ancine, Minas Gerais pode ser considerado o 3º maior polo audiovisual do Brasil, ficando atrás apenas dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Desses agentes, cerca de 50% estão localizados na capital, Belo Horizonte.
O Cadastro Municipal de Contribuintes – CMC – de Belo Horizonte, aponta, em 2022, a existência de 2.334 empresas atuantes no segmento. Destaca-se que no período de 2002 a 2021 o número de empresas ligadas à produção cinematográfica cresceu 449%, a uma média de 22% ao ano.
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