Silviano Santiago na Academia Mineira de Letras

Rogério Faria Tavares*
Eleito para a cadeira de número 13 da Academia Mineira de Letras, na sucessão do saudoso embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, o escritor Silviano Santiago tomará posse no dia 24 de junho, às 20 horas, no Auditório Vivaldi Moreira, na sede da agremiação, no bairro de Lourdes, sendo saudado pelo acadêmico Wander Melo Miranda. O diploma será entregue a ele pelo acadêmico Ângelo Oswaldo de Araújo Santos.
Mineiro de Formiga, Silviano passou alguns anos da sua juventude em Belo Horizonte, quando integrou a chamada ‘Geração Complemento’, responsável pelo lançamento da revista de mesmo nome, em 1955. Do grupo também faziam parte nomes como Teotônio dos Santos Junior, Maurício Gomes Leite, Ary Xavier, Ezequiel Neves, Pierre Santos e Heitor Martins. Em seu doutorado na Universidade de Paris, decifrou o manuscrito “Moedeiros falsos”, de André Gide. Professor emérito da Universidade Federal Fluminense e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, também lecionou nas universidades de Rutgers, Toronto, Buffalo e Indiana.
Detentor dos mais importantes prêmios literários da lusofonia, venceu o Camões em 2022, o Oceanos em 2015 e o Machado de Assis, pelo conjunto da obra, e 2013. Entre seus livros, impossível não mencionar “Em liberdade”, romance originalmente lançado em 1981 e reeditado pela Companhia das Letras em 2022, acrescido do conto “Todas as coisas à sua vez”. Nele, Silviano monta um ‘diário ficcional’ escrito por Graciliano Ramos logo que foi posto em liberdade, em janeiro de 1937, depois de permanecer preso por dez meses e dez dias. Em evidente diálogo com “Memórias do cárcere”, o corpo e a voz do autor alagoano são recriados com extremo engenho, abrindo, ainda, a oportunidade para que se trate de temas fundamentais como o papel dos intelectuais e o permanente embate, no Brasil, entre as forças democráticas e o fascismo, sobre o qual o velho Graça reflete, em passagem mais atual que nunca: “Os regimes fascistas têm loucura pelo espetáculo. Através destes, confundem a alegria e a tristeza, justificam a morte (o sacrifício da) com o ouropel barato das fantasias de Carnaval”. Em outro ponto, quem fala é José Lins do Rego, na casa de quem Graciliano se hospedava, junto com a mulher, Heloísa: “Graça, você precisa compreender que este país é uma bagunça geral. Nada aqui se sustenta dentro de uma ética rigorosa. É sempre um jogo de interesses vergonhoso, mesquinho e camuflado. Na esculhambação nacional, qualquer atitude lógica e coerente torna-se inapropriada. Em lugar de se beneficiar dela, a pessoa correta acaba por ser o único palhaço no carnaval geral a nação”.
Sobre “Em liberdade”, escreveu Adriano Schwartz, da Universidade de São Paulo: “Silviano Santiago domina a tradição, mas também a ruptura e a expansão, e aqui mapeia territórios novos. Ao leitor, fica o privilégio de acompanhar a invenção da voz “precária e única” desse Graciliano Ramos transfigurado, essa voz que é “presente dos homens que me fizeram sofrer e é ameaça para os homens que me fazem sofrer”, essa voz que, por existir, torna possível conceber um futuro diferente, menos repetido e injusto.”
*Jornalista. Doutor em literatura. Presidente da Academia Mineira de Letras
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