Símbolo de Belo Horizonte, Praça 7 completa 100 anos com muitas histórias para contar

Dizem que o coração de Belo Horizonte é a Praça 7. Por lá, pulsa um dos maiores centros comerciais do País, além da cultura, arte, política, manifestações populares e o vaivém de milhares de pessoas. A Praça 7 é o palco de momentos importantes da história da Capital. Neste feriado de 7 de setembro, o icônico cartão-postal completa 100 anos desde a inauguração.
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É que, de acordo com os registros oficiais da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a praça, antes chamada de 14 de Outubro, teria um obelisco que foi encomendado para as comemorações do Centenário da Independência do Brasil, em 1922.
Naquele mesmo ano, foi instalada a pedra fundamental do monumento e a então Praça 14 de Outubro passou a se chamar Praça 7 de Setembro. Contudo, foi somente em 7 de setembro de 1924 que ocorreu a inauguração oficial da praça com o famoso ‘Pirulito’ instalado.
“Poucas pessoas sabem, mas o obelisco foi encomendado para o centenário da Independência do Brasil, ou seja, em 1922. Naquele ano, foi realizado um concurso e o projeto do monumento de granito do arquiteto Antônio Rego, foi selecionado. Em 7 de setembro de 1922, foi apresentada a Pedra Fundamental e anunciada a obra do obelisco”, resgata os detalhes, o diretor do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), Yuri Mesquita.
Segundo o pesquisador, o obelisco esteve em obra por quase dois anos até chegar a data da solenidade oficial. “A inauguração do monumento aconteceu em 7 de setembro de 1924. O obelisco tem quase 14 metros de altura e foi inspirado no Monumento a George Washington, que fica em Washington, D.C., capital dos Estados Unidos”, informa.
Ponto de acontecimentos
O “Pirulito”, como o obelisco é popularmente conhecido, é um dos maiores símbolos de Belo Horizonte e mostra como a população se apropria dos monumentos da cidade de forma muitas vezes inusitada.
“Hoje, o monumento é um ponto de sociabilidade para comemorações, Carnaval, manifestações e movimentos políticos. Ele também já foi envolvido com preservativo em campanhas contra o HIV, e outras infecções sexualmente transmissíveis”, diz o pesquisador.
Ele ainda acrescenta: “É, ainda, um histórico e espontâneo ponto de encontro das torcidas de futebol, especialmente de Atlético e Cruzeiro, em dias de comemorações de títulos, além de manifestações políticas, religiosas e do Carnaval”, enumera Yuri Mesquita.

O obelisco nem sempre esteve na Praça 7
Em 1962, durante a gestão do prefeito Amintas de Barros, o “Pirulito” foi retirado da Praça 7. Um dos motivos foi o trânsito intenso no local. “O obelisco foi levado para um lote ao lado do Museu Abílio Barreto mas, no ano seguinte, foi instalado na Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi. O monumento permaneceu neste local até a década de 1980”, explica o diretor do Arquivo Público municipal.
Desde então, o monumento só foi restituído ao seu local de origem, a Praça 7, a pedido da população da cidade. Contudo, anos antes de voltar, em 1977, o obelisco foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.
Décadas depois, em 1994, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPC-MBH) decidiu fazer o tombamento do Conjunto Urbano da Afonso Pena, que inclui a Praça 7 e o seu obelisco.
Uma curiosidade, segundo a PBH, é que em 100 anos, a Praça 7 só passou por duas grandes restaurações, sendo uma realizada em meados de 1977 e outra em meados de 2003.
Ponto de encontros
Em meio aos comércios no entorno da Praça 7 está um dos estabelecimentos comerciais mais antigos ainda em atividade, o Café Nice, em funcionamento há 85 anos. À frente do negócio, os irmãos Renato Moura Caldeira e Tadeu de Moura Caldeira, comandam o café por 50 anos. Renato conta que a cafeteria virou referência para moradores e turistas.
“Conheço a praça desde criança, quando eu era menino, desde os 7 anos de idade eu passo pela Praça 7. Nessa época, a Praça 7 estava sem o obelisco. Eles tinham tirado o pirulito e levado para a Savassi. Lembro que no lugar estava lá a esfinge dos últimos quatro ex-presidentes de Minas Gerais (assim como eram chamado os governadores na época). Se eu não me engano, eram Afonso Pena, Olegário Maciel, Bias Fortes e Augusto Lima”, recorda Renato Caldeira.

Uma das lembranças que ele mais guarda da Praça 7, olhando pelo balcão do Café Nice, é do retorno do pirulito à praça. “Lembro exatamente do dia em que a Socorro Costa, que era uma das maiores empresas da época, trouxe o pirulito num guincho. Foi o dia em que eles voltaram com o obelisco para a praça”, compartilha.
Ponto de informação
Palco de mobilizações sociais, políticas e culturais. Manifestações que deixaram marcas na história pela amplitude das ações ou pelo clima de tensão que tomou conta da Capital. No centro de tudo isso, o obelisco e os quarteirões fechados são ocupados pelo povo, seja para celebrar conquistas ou para reivindicações e disputas.
Proprietário de quatro bancas de jornais no entorno da Praça 7, Marco Tadeu Tavares Maciel leva para frente o negócio que antes era do tio, e que depois teve o seu pai, Fausto Maciel, como dono e testemunha de tantos acontecimentos que ocorreram no local.
“Meu pai tem uma das bancas há mais de 40 anos. Então, praticamente desde bebê, ele já me trazia para o local. Antigamente a gente tinha poucos grandes jornais e revistas. E a banca sempre foi um ponto de informação. O material era impresso, antes não tinha internet, logo, todas as informações que precisava, você tinha que dirigir a uma banca de revista. Inclusive, eu mesmo leio o Diário do Comércio, porque invisto na bolsa”, afirma.

Uma lembrança que não sai da memória de Marco Tadeu é a manifestação dos perueiros, que ocorreu há aproximadamente 20 anos. “Lembro por que foi mais ou menos uma cena de guerra. Foi o momento que a polícia fechou os comércios todos na região. Aí teve aquelas bombas de gás para dispersar a multidão e tivemos que fechar as portas. Foi algo bem violento”, descreve.
Contudo, ele conta que há momentos de alegria para uns, mas que nem sempre terminaram em festa. “O outro fato também que me marcou foi o jogo do Galo, na final Libertadores, que foi uma surpresa também. Nem a polícia tinha noção que seria tamanha a multidão. Uma das minhas bancas nesse dia foi palco literalmente para os torcedores, porque tinha gente até em cima dela. Degradaram, eu tive que trocar por um novo, foi bastante perturbador”. afirma.
Para ele, a Praça 7 tem uma grande importância para a história da cidade e para os moradores. No entanto, apesar do nome bastante popular, alguma pessoas se perdem no miolo do centro da cidade atrás de informação.
“Acho engraçado é o pessoal que vem de fora aqui. Tem gente que chega na banca e pergunta: Onde é a Praça 7? As pessoas pensam que a praça tem banquinhos, igual no interior. Eu só respondo: A praça é tudo isso aí”, comenta Marco Tadeu apontando o dedo para o obelisco e as avenidas.
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