Tilden Santiago deixa legado de lutas sociais

Espiritualidade e política. Os substantivos, por vezes julgados controversos quando aplicados em conjunto na vida pública, são as marcas que representam a busca pelos direitos sociais que estiveram presentes em toda a vida do mineiro, de Nova Era, Tilden José Santiago.
Aos 81 anos, Tilden Santiago faleceu na última quarta-feira e foi mais uma vítima das complicações causadas pela Covid-19, causa do óbito também informada pela Câmara dos Deputados. A partida do ex-parlamentar traz recordações sobre sua trajetória marcante para o Brasil e os países em que viveu em suas missões religiosas e políticas.
As aspirações de Tilden começaram no Seminário de Mariana, na região Central de Minas Gerais, e na Universidade Gregoriana (Roma, Itália), locais onde estudou, respectivamente, filosofia e teologia.
Foram as experiências vividas naquela época, entre 1952 e 1963, que abriram caminho para que ousasse na luta pelos direitos sociais, conforme contou em entrevista concedida em 2019 à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
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O estímulo à vida política ocorreu quando ele deu início, ainda no exterior, à jornada enquanto padre operário, uma missão idealizada pela Igreja Católica Francesa, décadas antes, para que o evangelho estivesse mais presente nas fábricas e locais onde expressiva parte da classe trabalhadora estava.
Após 1966, ano em que retornou ao Brasil, ele se dedicou à ordenação e a movimentos políticos que figuravam em meio ao golpe militar de 1964. Naquele período, Tilden também foi um dos presos que estiveram no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna, mais conhecido como DOI-Codi, com o intuito de que o padre operário passasse informações sobre o Partido Comunista do Brasil.
Passagem pelo DC – Libertado, Tilden voltou a Minas Gerais e conheceu, em 1973, o jornalista e fundador do Jornal DIÁRIO DO COMÉRCIO, José Costa. O encontro transformou a vida do padre operário, que naquele momento iniciou sua trajetória como jornalista e editor de política, passagem lembrada pelo presidente do Conselho Consultivo do DC, Luiz Carlos Motta Costa:
“Nós estávamos em busca de alguém no jornal para dar o suporte. E quando conhecemos o Tilden conseguimos sentir a experiência que ele carregava, uma cultura mais densa. Alegre, conversador e inteligente, ele demonstrava uma bagagem de vida completamente diferenciada. No dia a dia, era ele quem nos ajudava a contextualizar os acontecimentos, e de uma maneira muito feliz, espontânea”, lembra Luiz Carlos.
A saída de Tilden Santiago do DC se deu quando ele ingressou nas candidaturas para a vida parlamentar, com destaque para sua participação na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Tilden foi deputado federal por três mandatos pelo PT entre 1991 e 2003. Entre fevereiro de 1999 e junho de 2000, contudo, o parlamentar se licenciou do cargo para assumir o cargo de secretário de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais.
Vale ressaltar, ainda, a vida acadêmica continuada do ex-parlamentar, que concluiu seu mestrado em filosofia em 1976, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e sua atuação como presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (1981-1984).
Manifestações públicas – O Partido dos Trabalhadores relembrou que Tilden foi também fundador do Jornal dos Bairros, nos anos 70, e ressaltou o período em que ele foi perseguido, além da sua missão como embaixador do Brasil em Cuba no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006).
“Tilden deixa uma grande contribuição para as lutas do povo brasileiro, a quem dedicou sua luta e sua vida”, afirmou o PT em nota assinada pela presidente Gleisi Hoffmann.
Em seu twitter oficial e site, o ex-presidente Lula também se manifestou diante da morte de Tilden Santiago e de todos os brasileiros que perderam suas vidas durante a pandemia: “Tilden militou pela democracia e por um Brasil melhor. Foi mais uma das 630 mil vítimas da Covid-19, essa doença terrível que tem levado tantos brasileiros. Meus sentimentos aos familiares, amigos e companheiros de Tilden”.
Já o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais desejou conforto aos amigos e familiares de Tilden Santiago e afirmou que, “em nome dos jornalistas de Minas, agradece a seu ex-presidente pela defesa intransigente dos jornalistas, do jornalismo e da liberdade de expressão, em um momento delicado da história brasileira, quando, ainda na ditadura, assumiu o comando da entidade”.
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