“Travessias” mostra cinema feito em MG

Reforçando a importância e a trajetória da cultura audiovisual de Minas Gerais, o Cine Humberto Mauro recebe, a partir de hoje e até 7 de setembro (quinta-feira), a mostra “Travessias”, focada na diversidade e na invenção características do cinema mineiro. A programação valoriza o trabalho de cineastas que foram e são decisivos para a consolidação da paisagem cinematográfica de Minas Gerais. O objetivo é compreender algumas das aproximações entre a arte do Estado e do País, além de reforçar a importância da cultura audiovisual mineira dentro do contexto nacional. A entrada nas sessões é gratuita, com retirada de ingressos a partir de 1 hora antes, na bilheteria do cinema.
Concebida pelo professor, pesquisador e escritor Luís Flores, a linha curatorial da mostra busca privilegiar, sobretudo, um recorte histórico do cinema mineiro. O intuito é atestar a diversidade das formas de expressão existentes desse território e a força de invenção de seus artistas, além de contribuir para a preservação da memória e a formação dos espectadores em geral. Como parte da proposta de formação de público e reflexão crítica, a mostra também traz outras atividades complementares à programação, como palestras e sessões comentadas por cineastas, pesquisadores e especialistas.
Além disso, será oferecido um minicurso gratuito, ministrado pelo curador e pesquisador Luís Flores, intitulado “Cinema mineiro moderno”. O trabalho busca oferecer um retrospecto histórico, reflexivo e analítico das principais obras realizadas com base no território e na cultura de Minas Gerais nas décadas de 1960, 1970 e 1980. O curso é voltado para estudantes de cinema, pesquisadores e público interessado em geral, e será realizado amanhã e domingo (3), de 14h às 17h, com inscrições mediante preenchimento de formulário disponibilizado em link na internet e no perfil da mostra no Instagram (@travessias2023).
Os filmes escolhidos para a programação da mostra “Travessias” foram divididos em quatro linhas temáticas com o propósito de facilitar a compreensão do público e destacar as relações estéticas existentes.
O primeiro programa, denominado “Estórias”, homenageia escritores mineiros cruciais. Dois filmes adaptam obras de João Guimarães Rosa: “Mutum” (foto), de 2007, dirigido por Sandra Kogut, e “A hora e a vez de Augusto Matraga”(1965), dirigido por Roberto Santos. Já os outros filmes deste recorte dialogam com o autor Murilo Rubião. É o caso de “O Ex-Mágico da Taberna Minhota” (1996), realizado por Rafael Conde, e “Quintal”(2015), de André Novais Oliveira.
“Vertentes”
A segunda linha curatorial é intitulada “Vertentes”, e reúne obras realizadas por cineastas importantes dentro do território mineiro. O conjunto é composto pelas propostas ousadas de “Sagrada Família”(1970), dirigido por Sylvio Lanna, e “Perdidos e Malditos” (1970) de Geraldo Veloso, e também pela narrativa mais contemporânea de “Uma Onda no Ar” (2002), realizado por Helvécio Ratton. Estão incluídos, ainda, curtas-metragens de cineastas mineiros historicamente importantes, como Neville d’Almeida, Maurício Gomes Leite, Rosa Antuña, Flávio Werneck, Geraldo Veloso, Padre Massote e Adélia Sampaio, cujo curta-metragem mais recente, “O mundo de dentro” (2018), será exibido em caráter especial. Este recorte da programação contempla também a estreia mineira do mais novo curta dirigido por Sylvio Lanna, “Olho olho” (2023).
“Atravessamentos”, a terceira linha temática, é caracterizada por dois movimentos simétricos: cineastas mineiros que filmaram em outros estados e cineastas de outros estados que filmaram em Minas. No primeiro eixo – cineastas de Minas filmando em outros estados –, serão exibidas as obras pioneiras “A Vida Provisória” (1968), de Maurício Gomes Leite, e “Mangue Bangue”(1971), de Neville d’Almeida, além de “Um filme 100% brasileiro” (1985), de José Sette de Barros. Já no segundo eixo – cineastas de fora filmando em Minas – conta com filmes como A Casa Assassinada (1971), realizado por Paulo César Saraceni (e adaptado da obra homônima de Lúcio Cardoso, o célebre escritor de Curvelo), Os Inconfidentes (1972), de Joaquim Pedro de Andrade, Vida de Menina (2003), da consagrada cineasta Helena Solberg, e Mauro, Humberto (1975), de David Neves.
O último programa, batizado de “Picadas” – palavra que remete aos caminhos abertos no matagal a golpes de facão –, situa os filmes mais próximos do escopo contemporâneo, atualizando e renovando as questões do audiovisual mineiro. São eles “Andarilho” (2007), de Cao Guimarães, “Aboio” (2005), da cineasta Marília Rocha, e “No Coração do Mundo” (2019), com direção assinada por Gabriel Martins e Maurílio Martins. Entram também neste recorte as obras “Girimunho” (2011), de Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr., “A Rainha Nzinga chegou” (2019), realizado por Isabel Casimira Gasparino e Júnia Torres, “Sete anos em maio” (2019), dirigido por Affonso Uchôa, e “República” (2020), de Grace Passô.
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