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Um prevenido vale por dois

Um prevenido vale por dois
Crédito: Divulgação

Lacan disse a respeito de Marguerite Duras: “Ela não deve saber que escreve aquilo que escreve. Porque ia se perder. E isso seria uma catástrofe” Marguerite Duras assumiu um ar blassé. Continuou a escrever, filmando e fazendo teatro. Hannah Arendt, aluna preferida de Heidegger, figura icônica da filosofia antissemita e escritos humanistas “de profundis”, é mais que uma escritora sobrevivente do Terceiro Reich.

Escapou de Berlim em tempos adversos, fugiu de um campo de concentração nazista, conseguiu embarcar para o sonho americano em pleno cerco de Paris num navio e chegou à América com pouso assegurado e um emprego na universidade. Nada mal para uma figura maldita da Escola de Frankfurt.

Vozes negras se levantam exibindo feridas abertas no Egito, onde os faraós eram negros e os escravos eram brancos, e muita água passou em baixo de todas as pontes até que nos ilhássemos em guetos de ódio, com distâncias cada vez menores entre si.

“Depois do futuro”, de Franco Berardi (foto), é uma publicação da Ubu Editora. O original é de 2009 e tem reimpressão de 2021. Lúcido, bem pesquisado e apesar de constatações pouco otimistas, carrega em suas linhas a possibilidade crítica de entendimento dessa realidade fluída para além da apatia.

O livro “Depois do futuro” aponta que o passado não se reedita, embora os fantasmas sejam persistentes. Desdobramentos mostram que a realidade é mais palpável e manejável que parece.

O filósofo e ativista italiano Franco Berardi, veterano do “Maio de 1968”, tem atitude e não deixa o leitor à mercê do mágico e do fantástico como um menino no “Labirinto do Fauno”, filme espanhol ambientado nos idos de Garcia Lorca. Aliás, cinema é o gancho que o autor usa para ilustrar barbáries familiares.

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