“Vestido de Noiva” está de volta ao CCBB BH

Em 28 de dezembro de 1943, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues revolucionava a forma de fazer dramaturgia no Brasil ao estrear, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o espetáculo “Vestido de Noiva” sob a direção do polonês Zbigniew Ziembinski, com o grupo amador Os Comediantes.
Exatamente no dia em que a peça completará 80 anos, a diretora de teatro Ione de Medeiros e o Grupo Oficcina Multimédia retornam ao CCBB BH para uma temporada comemorativa do espetáculo. Isso após estrear na capital mineira em maio passado e circular pelos CCBBs de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, sempre com casa cheia e ingressos esgotados em todas as sessões.
Desta vez, as apresentações acontecem a partir de hoje e até o próximo sábado (30) e continuam após o período de festas, de 5 de janeiro a 5 de fevereiro de 2024, sempre às 20h, de sexta a segunda-feira.
“Queremos valorizar esta obra tão revolucionária e a mente brilhante do dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, que deu início a um processo de modernização do teatro brasileiro”, afirma Ione de Medeiros, explicando porque esta é uma temporada de celebração. “Também voltamos para nossa casa alegres por termos apresentado a montagem em quatro metrópoles brasileiras com críticas positivas ao trabalho,” diz. A montagem do Grupo Oficcina Multimédia celebra, também, os 45 anos de atuação cultural ininterrupta do grupo, que tem como marca a ênfase à experimentação e ao risco.
Da estreia em Belo Horizonte em maio de 2023 até agora, o GOM apresentou Vestido de Noiva 81 vezes para um público de 10.000 espectadores, em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
No palco, seis atores – Camila Felix, Henrique Torres Mourão, Jonnatha Horta Fortes, Júnio de Carvalho, Priscila Natany e Victor Velloso – se revezam nas cenas entre personagens masculinos e femininos, sem distinção de sexo, numa performance que dá continuidade à proposta de duplos e trios como no espetáculo anterior da companhia, “Boca de Ouro” (2018/2019), que marcou a estreia do grupo no universo de Nelson Rodrigues.
Inconsciente
Escrita em 1943, a peça “Vestido de Noiva” que completa 80 anos em dezembro, deu início a um processo de modernização do teatro brasileiro. “A peça lida com o inconsciente e com a falta de uma ordem cronológica, o que nos desafiou a construir uma dinâmica de montagem que pudesse levar o público à compreensão destas camadas de acontecimentos e diálogos que se relacionam”, diz a diretora Ione de Medeiros.
Em “Vestido de Noiva”, Nelson Rodrigues mescla realidade, memória e alucinação para contar a triste história de Alaíde. Após ser atropelada por um carro em alta velocidade, ela é hospitalizada em estado de choque. Na mesa de cirurgia, oscilando entre a vida e a morte, a mente de Alaíde tenta reconstruir sua própria história e, aos poucos, seus sonhos inconscientes e desejos mais inconfessáveis vêm à tona. Quem vai ajudá-la nesse processo é a enigmática Madame Clessi. Juntando as peças desse quebra-cabeça, ela conduz Alaíde na busca pela reconfiguração de sua própria identidade.
A montagem preserva a dramaturgia original da obra de Nelson Rodrigues e incorpora soluções cênicas que são marcas da identidade do GOM. No espetáculo, um narrador em vídeo conduz a história e permite ao público ir conectando peças como num quebra-cabeça.
“O material cênico tem rodinhas e alturas variadas, o que possibilita aos atores se posicionarem em níveis diferentes, conferindo à cena uma atmosfera de flutuação e, ao cenário, uma mobilidade fluida”, explica Ione.
O espetáculo começou a ser concebido antes da pandemia e o processo continuou de forma remota durante o período de isolamento. “Descobrimos infinitas possibilidades de criar cenas em vídeo usando somente os recursos que tínhamos em casa. Diante de um fundo verde, os atores gravavam as cenas usando as câmeras de seus próprios celulares. Posteriormente, editamos essas cenas e incluímos os atores em cenários diferentes”, diz Ione. Alguns trechos gravados neste período foram mantidos na montagem.
Além de marcar as celebrações dos 45 anos do Grupo Oficcina Multimédia e 40 anos de direção teatral de Ione de Medeiros, “Vestido de Noiva”, a 24ª montagem, dá continuidade a uma proposta de imersão na obra de Nelson, iniciada com “Boca de Ouro” (2018/2019), que teve temporadas em Belo Horizonte (CCBB BH) e São Paulo (Sesc Santo Amaro) com apresentações com ingressos esgotados.
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