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VIVER EM VOZ ALTA | A importância das revistas para o modernismo

VIVER EM VOZ ALTA | A importância das revistas para o modernismo
Reprodução de Pedro David - Acervo Museu Mineiro - Inimá de Paula

Em conferência sobre a herança do modernismo pronunciada em primeiro de setembro, no décimo nono Seminário de Diamantina, promovido pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, o Cedeplar, da UFMG, o professor Sérgio Alcides Pereira do Amaral, da Faculdade de Letras daquela universidade, expressou o que, em sua opinião, pode ser visto como o patrimônio de atitudes modernistas, que se comporia de alguns elementos muito claros, como, por exemplo, o anti-academicismo, ou seja, a recusa dos modelos prévios ou prontos, e o anti-colonialismo, que ele definiu como uma expectativa de emancipação ou como uma postura sempre altiva e permanentemente disposta a superar a herança colonial. Por fim, como um dos aspectos mais salientes de tal patrimônio, o professor destacou o engajamento na esfera pública, vale dizer, a inequívoca disposição para expor o seu ideário na arena social e para discuti-lo e debatê-lo, sem medo ou timidez, no âmbito da vida comunitária.

 Como exemplos de tal engajamento na esfera pública, Sérgio Alcides citou a constante presença de vários dos modernistas nas páginas da imprensa brasileira de sua época, dando a cara a tapa. Aí, Sérgio Alcides mencionou Cecília Meireles, com sua coluna diária sobre educação, e Carlos Drummond de Andrade, que escreveu por mais de três décadas nos jornais do Rio de Janeiro, tendo iniciado tal prática, no entanto, ainda em Belo Horizonte, publicando seus primeiros textos no “Diário de Minas”, periódico patrocinado pelo Partido Republicano Mineiro, o PRM.

 Sim, é fato: os jornais foram importantes receptáculos do debate modernista, muitos dos quais resultaram em acesas polêmicas. Mas o que não se pode esquecer é que também as revistas serviram a esse propósito, qualificando-se, na opinião de muitos, como os canais de comunicação preferidos pelos modernistas. Para a professora Luciana Francisco, “a formação do quadro de revistas surgidas na primeira década do movimento modernista brasileiro permite visualizar algo fundamental: as coincidências entre o fim de uma publicação e o início de outra assinalam a continuidade, que não se quebra, da vigência do veículo que se erige como porta-voz do modernismo – o periódico”.

 Ela prossegue: “Desta maneira, a aparente efemeridade das publicações precisa ser relativizada, pois os periódicos trabalharam na configuração de um projeto maior: a renovação e construção de uma literatura, cultura e intelectualidade brasileiras. Espelhando um conjunto de desafios próprios do momento e local em que surgem, cada revista apresentou sua especificidade de propostas e ideias, o que evidencia a existência plural de modernismos que compõem um mesmo movimento em processo de construção. A produção modernista mobilizou o periodismo na divulgação de seus ideais, apoiando-se também na imprensa jornalística, sobretudo na comunicação de seus manifestos, porém são as revistas que melhor permitem visualizar a formação de grupos e propostas de renovação do movimento. Desse modo, o suporte revista não pode ser entendido como mero receptáculo de textos, mas, sim, como necessário exercício para compreender as particularidades da literatura pensada e produzida nesta imprensa”.

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