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VIVER EM VOZ ALTA | A literatura de João Gilberto Noll

VIVER EM VOZ ALTA | A literatura de João Gilberto Noll
Crédito: Cláudio Santana / Divulgação

Nascido em Porto Alegre, em 1946, João Gilberto Noll morreu em 2017, legando à língua portuguesa uma das mais potentes obras literárias da contemporaneidade. Autor de duas dezenas de livros, conquistou por seis vezes o Prêmio Jabuti. Entre suas publicações mais conhecidas, destacam-se “Hotel Atlântico”, de 1989, “Harmada”, de 1993 (considerada pela revista “Bravo” um dos cem livros essenciais da literatura brasileira) e “Lorde”, de 2004. Algumas de suas ficções foram levadas ao cinema por diretores como Murilo Salles, Suzana Amaral e Maurice Capovilla. Noll também escreveu contos e três histórias para crianças (que são, certamente, para leitores de todas as idades). Professor convidado da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, o autor também foi escritor residente no King’s College, de Londres.

Em vários de seus depoimentos públicos, Noll dizia fazer uma ‘literatura pulsional’, encarando seu ofício como um ‘ato de aventura’, pleno de riscos e de possibilidades. Destacava não saber nada do que iria acontecer quando se sentava à sua mesa de trabalho, para criar suas narrativas. O professor Luís Alberto Brandão, da UFMG, ressalva, no entanto, que tal declaração não deve levar à ideia de que o autor escrevia despreocupadamente ou guiado pela intuição. Pelo contrário: “Noll desenvolvia um trabalho extremamente apurado e rigoroso no trato com a linguagem, elemento fundamental para compreender a sua produção literária”. Em diversas entrevistas, o escritor afirmava que a linguagem era uma forma de chegar ao outro e que a literatura o salvava: “Se não fosse a literatura, eu seria uma lápide”.

Apaixonado pelo canto lírico, Noll também ficou conhecido por valorizar intensamente as dimensões do ritmo e da musicalidade das palavras na composição de seus textos, conhecidos, ainda, por portarem inequívoca carga poética. Outra expressão artística com a qual a literatura do escritor se relaciona de modo claro é o Teatro. Noll gostava sempre de realçar o seu caráter litúrgico, ritual, próximo das artes cênicas.

Lançado por iniciativa do programa de pós-graduação em Letras: Estudos Literários, da UFMG, e organizado por Luís Alberto Brandão, “Canção de Amor para João Gilberto Noll” (Relicário, 2019, 261 páginas) ilumina com eficiência o caminho dos que se dispõem a conhecer ou a aprofundar-se no universo literário do autor. O volume reúne valiosos testemunhos de escritores, editores e críticos que conviveram com o escritor, como Sérgio Sant’anna, Luci Collin, Julia Panadés, Francisco de Morais Mendes, Ana Martins Marques, Ricardo Aleixo, Bruna Kalil Otero, Guiomar de Grammont, Eduardo de Jesus e Zulmira Ribeiro Tavares.

O livro também recupera, para os leitores, duas importantes entrevistas concedidas por Noll: uma para o professor Ricardo Barberena, no Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUC do Rio Grande do Sul e a outra para o jornalista Pedro Maciel, no Instituto Moreira Salles, em Belo Horizonte, em 1999, em que o autor declara: “A literatura tem que mexer também com as utopias (…) Eu acho que a gente deve, enquanto romancista, lutar pela participação da maior parte das pessoas na vida, e lutar pela conservação dessa vida em qualquer instância que você possa imaginar. Que o sufoco é grande, a opressão do real é grande, esse real que nos metem goela abaixo é grande”.

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