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VIVER EM VOZ ALTA | A literatura de Kiusam de Oliveira

VIVER EM VOZ ALTA | A literatura de Kiusam de Oliveira
Crédito: Pixabay

Kiusam de Oliveira nasceu em uma família que sempre deu prioridade à educação. Leitora compulsiva desde criança, adorou quando a mãe se tornou membro de um clube do livro. Ajudava-a a fazer os pedidos. Sua ligação com a dança também sempre foi forte. Aos seis anos, começou a fazer ballet clássico. Tempos depois, dava aulas para os alunos iniciantes. Militante no Movimento Negro Unificado (MNU) desde os doze anos, seu encontro com a dança afro foi natural. Participou da Escola de Samba Unidos do Perouche, em São Paulo, e foi uma das fundadoras do Bloco Afro Ilú Obá de Min e das Oficinas “Cantando e dançando com os Orixás”. Apaixonada pela vida acadêmica, tornou-se mestre em Psicologia Escolar e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).

Sua estreia na literatura se deu em 2009, lançando, pela Mazza Edições, de Belo Horizonte, o belo “Omo-Obá – Histórias de Princesas”, com ilustrações de Josias Marinho. O volume apresenta ao público seis personagens encantadoras, recontando mitos conhecidos das comunidades africanas de tradição ketu. Recomendada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), a obra ainda foi uma das representantes do Brasil na Feira do Livro de Bologna, na Itália, uma das maiores do mundo, e adotada pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), de 2011. O enredo prova para as crianças que não há somente princesinhas louras ou de olhos azuis…

“O mundo no black power de Tayó” é de 2013 e ganhou desenhos de Taísa Borges. Editado pela ótima Peirópolis, apresenta aos leitores uma protagonista de seis anos que tem uma alegria contagiante e uma incrível capacidade de resistência. Em determinado trecho do livro, quando os colegas de escola da menina zombam de seu cabelo, ela responde: “Meu cabelo é muito bom porque é fofo, lindo e cheiroso. Vocês estão com dor de cotovelo, porque não podem carregar o mundo nos cabelos como eu posso’.

Em 2014, foi a vez de “O mar que banha a Ilha de Goré”, com ilustrações de Taísa Borges, também da Peirópolis, dessa vez em coedição com a Fundação Biblioteca Nacional. A trama – que mostra a história de Kika, uma garota de dez anos que vai ao Senegal revisitar as memórias de seus ancestrais – é apontada como capaz de resgatar a autoestima das crianças afro-descendentes, característica que, de resto, permeia toda a produção literária de Kiusam de Oliveira, hoje avaliada por muitos especialistas e críticos como uma “literatura curativa”.

Um dos exemplos mais contundentes disso está em “O black power de Akin”, lançado pela Editora de Cultura em 2020, com ilustrações de Rodrigo Andrade. Com prefácio do cantor Emicida, o livro é sobre um menino de doze anos que é vítima constante de bullying na escola por conta de seu cabelo crespo, que ele tenta esconder dos colegas indo para as aulas de boné. No momento de maior dramaticidade do enredo, o garoto chega a pegar uma tesoura para desfazer-se completamente do cabelo, quando é impedido pelo avô, cuja presença é fundamental para o desfecho.

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