VIVER EM VOZ ALTA | A primeira revista modernista de BH

Em obra clássica (“O movimento modernista em Minas – uma interpretação sociológica”, Editora da Universidade de Brasília, 1971, 182 páginas), o professor Fernando Correia Dias escreve que o Grupo Modernista de Belo Horizonte se forma, de fato, em 1923. E ganha sentido em 1924, após o contato com a caravana de intelectuais vindos de São Paulo. Mas o momento da decolagem do grupo, segundo ele, viria em 1925, com a publicação do primeiro número de “A Revista”, dirigida por Francisco Martins de Almeida e Carlos Drummond de Andrade, tendo como redatores Emílio Moura e Gregoriano Canedo.
Em carta datada de 20 de maio, Drummond antecipa a Mário de Andrade o seu envolvimento com “A Revista”:
“O Francisco Almeida, mais dois amigos e mais eu, está fazendo uma revista, cujo primeiro número deve sair em junho. Aqui em Belo Horizonte isso de revista não pega. Em todo caso, vamos fazer ainda uma experiência. É claro que contamos com você, se bem que eu seja o primeiro a não querer sacrificar algum trabalho seu, de fôlego, e que por isso mesmo deve aparecer numa revista de circulação realmente grande, peço que nos mande ao menos duas linhas de prosa ou verso, como entender”.
Dessa publicação, saíram três números, datados de julho, agosto e setembro de 1925. Este último, no entanto, só circulou em 1926. O “Diário de Minas” registrou com entusiasmo o aparecimento da nova publicação:
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“Foi posta, desde ontem, em circulação, “A Revista”, magnífica publicação literária que tem, pelo valor dos intelectuais que nela colaboram, plenamente garantido o seu sucesso”.
No primeiro número de “A Revista”, colaboram Mário de Andrade, Austen Amaro, Magalhães Drummond, Gregoriano Canedo, Pedro Nava, Milton Campos, Alberto Campos, Alberto Deodato, Drummond, Martins de Almeida e Emílio Moura.
No segundo número, há um artigo sobre psicanálise assinado por Iago Pimentel, por muitos anos professor de psicologia e médico em Belo Horizonte. Artigo que, para Fernando Correia Dias, foi um dos primeiros a respeito do tema a ser publicado em Minas Gerais.
É também do segundo número de “A Revista” a publicação de três versos de Drummond (“Coração numeroso”, “Música” e “Igreja”) que depois seriam incluídos em seu livro de estreia, “Alguma poesia”, de 1930. Há, ainda, um fragmento de Godofredo Rangel e um conto de João Alphonsus, “A pesca da Baleia”, que daria nome a seu segundo volume de contos; e uma espécie de poema em prosa de Wellington Brandão.
Ainda no segundo número de “A Revista”, na seção “Marginália”, se comentam a presença de Alphonsus de Guimaraens na vida literária mineira e o centenário de Bernardo Guimarães.
No terceiro número de “A Revista”, há poemas de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho. Também aí se publica artigo de crítica de Emílio Moura sobre “Vida Ociosa”, de Godofredo Rangel. De novo, o professor Iago Pimentel inicia a publicação de um texto de Freud, por ele traduzido. Drummond publica um pequeno ensaio a respeito de Poesia e Religião. Há o conto “Os caprichos da sorte”, de Godofredo Rangel.
“A Revista” não prosseguiu, mas foi etapa fundamental no percurso literário de seus fundadores, abrindo caminho para a emergência de uma nova mentalidade.
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