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VIVER EM VOZ ALTA | A Revista Verde, de Cataguases

VIVER EM VOZ ALTA | A Revista Verde, de Cataguases
Crédito: Pixabay

Lançado, há poucos dias, pelo premiado Luiz Ruffato, “A Revista Verde, de Cataguases – Contribuição à história do Modernismo” (Autêntica, 190 páginas) é livro que oferece aos leitores os resultados de uma pesquisa rigorosa sobre o movimento literário que eclodiu em 1927, em plena Zona da Mata mineira. O interesse do escritor pelo tema não é novo. Nascido no município, Ruffato publicou, em 2002, “Os ases de Cataguases – uma história dos primórdios do Modernismo” (Instituto Francisca de Sousa Peixoto, 125 páginas). Agora, suas reflexões aparecem mais densas, completas e precisas, dando conta de responder à principal pergunta que os interessados no assunto formulam: ‘Por que Cataguases?’ E afastando, de vez, a ideia de que o evento foi um ‘fenômeno inexplicável’, ou um ‘exotismo literário’.

 No ensaio, redigido no estilo claro e elegante de sempre, Ruffato explica que, já no começo do século XX, a cidade se firmava como núcleo industrial relevante, dotada de boa infraestrutura urbana e alcançada pelo ramal ferroviário (era ‘ponta de trilho’, como se dizia à época). O Ginásio Municipal oferecia educação de alto nível e foi nele que os integrantes da Revista se formaram. Ali, tinham acesso às boas leituras e desenvolviam a habilidade da crítica e do debate, sem falar na oportunidade de publicar seus escritos e de fazê-los circular, por haverem reativado o “Jornal do Estudante”. A par do que acontecia no resto do país, não lhes faltou animação para fundar a “Verde”, que teve seis números, e foi, na visão de Ruffato, um dos mais fortes meios de divulgação das ideias modernistas que se espalhavam rapidamente pelo Brasil, naquele momento. Ele comenta que a iniciativa dos jovens mineiros foi tão importante que, já na segunda edição, “Verde” recebeu textos de várias partes do país. De fato, aí estão Alcântara Machado, Abgar Renault, Mário de Andrade (com o poema “Rondó de Brigadeiro”), Ribeiro Couto, Emílio Moura e Yan de Almeida Prado. No terceiro número, aparece o “Manifesto do Grupo Verde”, que, embora muito criticado, cumpre a função de explicitar algumas das orientações seguidas pelos seus membros, entre as quais: “Trabalhamos independentemente de qualquer outro grupo literário”; “Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros”; “Não temos ligação de espécie nenhuma com o estilo e o modo literário de outras rodas”.

 Num interessante anexo ao final do volume, Ruffato traça uma pequena biografia de cada um dos participantes do Movimento Verde, destacando, ainda, sua produção bibliográfica, o que torna possível entender, sobretudo, o percurso que cada um deles seguiu, depois do fim da revista. Aí, é possível acompanhar a trajetória de nomes como Henrique de Resende, Ascânio Lopes, Guilhermino César, Camilo Soares e Francisco Inácio Peixoto, cuja atuação em favor do Modernismo acabou repercutindo também na arquitetura de Cataguases, que ganhou edificações emblemáticas desse período histórico. Uma das personalidades mais notáveis do grupo, no entanto, foi o mais jovem de todos, Rosário Fusco, que, depois da “Verde”, acabaria escrevendo obras fundamentais para a literatura brasileira, como “O agressor”, de 1943, considerada por Antônio Cândido como a obra inaugural do surrealismo no país.

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