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VIVER EM VOZ ALTA | A trilogia “Alma da África”, de Antônio Olinto

VIVER EM VOZ ALTA | A trilogia “Alma da África”, de Antônio Olinto
Crédito: MARCELLO CASAL JR

ROGÉRIO FARIA TAVARES*

Nada melhor que aproveitar as férias para ler bons livros. Uma dica é a vasta produção de Antônio Olinto, nascido em Ubá, Minas Gerais, em 1919. Seu legado inclui poesia, ensaio, tradução, crítica literária, novela, romance, conto e até dicionário. O autor mineiro dizia, no entanto, que a trilogia “Alma da África” era sua obra mais importante, porque ligava Minas Gerais ao continente africano. Membro da Academia Brasileira de Letras, ele faleceu em setembro de 2009.

Os estudiosos escrevem que um dos méritos de Antônio Olinto foi contestar a tradição do olhar eurocêntrico clássico, que, muitas vezes, reduz o negro a estereótipos. E destacam que as personagens do romancista mineiro têm orgulho de sua cor, de sua terra e de seus costumes. Nos três livros que compõem “Alma da África”, é o africano e, sobretudo, a mulher africana quem ganha proeminência e centralidade. A força das personagens femininas do autor é evidente e forma mais um dos traços que distinguem a literatura de Antônio Olinto das demais.

O primeiro volume da trilogia é “A Casa da Água”. Sobre ele, assim escreveu o acadêmico Alberto da Costa e Silva, o mais importante africanista brasileiro: “Este é um belo livro. Um grande livro. Um dos melhores romances escritos, no século XX, em língua portuguesa. Nele, Antônio Olinto entreteceu invenção e realidade histórica para narrar a saga dos ex-escravos que retornaram do Brasil para a África Ocidental e ali, a partir de uma saudade que tinha muito de perdão, se reencontraram e reagruparam como brasileiros, agudás ou amarôs. (…) Com as histórias que ouviu, algumas vezes perplexo e quase sempre enternecido, e com outras que inventou a partir de seus dias africanos, Antônio Olinto escreveu um admirável romance sobre a nossa África, tão distinta da África que aparece nos jornais, na televisão e no cinema, um romance cuja leitura, em tantos momentos, nos comove e umedece os olhos. É mais que um belo livro, repiso. É um grande livro, vivido com intensidade e paixão, e assim escrito.

O segundo volume é “O Rei de Keto”. A neta da personagem Mariana, também chamada Mariana (filha de Sebastian), estuda em Paris e volta à África, onde faz amizade com Abioran. O livro focaliza a vida das mulheres que, nos quatro dias da semana iorubá, vão de cidade em cidade para vender os mais diversos produtos nos mercados locais, voltando no quinto dia ao mercado número um, situado em Keto, reino de onde vieram escravos para o Brasil, e, também a religião dos Orixás.

No terceiro romance da trilogia, “Trono de Vidro”, depois da morte de Sebastian, o país chamado Zorei cai nas mãos de uma série de ditadores. A filha, Mariana, resolve enfrentar o último deles, candidatando-se à Prefeitura. Organiza um partido e inicia a sua campanha, durante a qual o ditador morre, num desastre de avião. Mariana é eleita presidente e como tal vai às Nações Unidas. Na volta, aceita um convite para visitar o Brasil. Vai ao Piau, terra da avó, hospeda-se como presidente onde sua avó foi escrava. De volta ao seu país, é vítima de um atentado político, mas não morre. O romance termina com as meditações de Mariana, a presidente, ao lado de sua avó, a velha Mariana, agora com 98 anos.

*Jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras

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