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VIVER EM VOZ ALTA | Algumas escritoras africanas

VIVER EM VOZ ALTA | Algumas escritoras africanas
Crédito: Divulgação

Vencedora do prestigiado Prêmio Camões de 2021, a escritora moçambicana Paulina Chiziane, nascida em 1955, sempre conta que aprendeu a escrever na areia, durante as aulas que se davam ao ar livre. Desafiando os costumes, foi a primeira mulher de seu país a publicar um romance, “Balada de Amor ao vento”, de 1990. Ela relembra que começou a escrever o livro em plena guerra civil. Militante da Frente de Libertação de Moçambique (a Frelimo), Paulina não aborda apenas as questões políticas em sua obra. Um traço marcante de sua produção literária é a relação com a história oral. Paulina se preocupa em recolher as narrativas antigas, passadas de boca em boca, de geração em geração, sobretudo pelas mulheres. A autora diz escrever por gosto e que a escrita, para ela, é lugar do prazer e do lazer. A leitura é sua outra paixão. E a literatura brasileira, uma velha conhecida. Os nomes de Jorge Amado, Ferreira Gular, Vinícius de Moraes e Clarice Lispector são destacados toda vez que a escritora fala sobre o tema. Dois de seus livros estão publicados no Brasil: “Niketche, uma história de poligamia” saiu pela Companhia das Letras. “O canto alegre da perdiz” foi lançado pela Dublinense.

 Já em Angola, a primeira referência é Alda Lara. Nascida em Benguela, em 1930, é considerada uma das vozes fundadoras da literatura de seu país. Formada em medicina em Portugal, doutorou-se em psicologia infantil. Escreveu poemas e contos. Embora tenha falecido bastante jovem, com apenas trinta e dois anos, foi capaz de deixar um legado literário relevante. Embora não tenha propriamente militado nas lutas pela libertação colonial, influenciou vários jovens que nela se empenharam e conviveu com alguns de seus líderes, como Amílcar Cabral e Agostinho Neto. Entre os temas de sua predileção, estavam sempre a infância, a identidade nacional e racial e a vida como angolana no exílio, sobretudo em Portugal. Seus textos ainda expressaram as dificuldades da vida diária sob o colonialismo, as ambições emocionais, as alegrias e os prazeres simples da vida. Para muitos estudiosos de sua obra, ela realçava com frequência valores como a justiça e a generosidade.

 Em São Tomé e Príncipe, outro país africano de língua portuguesa, não há como contornar o legado de Alda Espírito Santo, considerada o nome máximo entre as escritoras do país. Nascida em 1926 e falecida em 2010, compôs uma poesia tida como de luta e de protesto, como arma de combate contra o regime colonial. Com a independência de São Tomé, em 1975, Alda assumiu responsabilidades políticas importantes. Foi ministra da Educação, ministra da Informação Pública e fundadora da União Nacional dos Escritores e Artistas de São Tomé. É dela a composição do Hino Nacional. Seu livro de poemas “É nosso solo sagrado da Terra” é de 1978, mas nunca mereceu uma edição no Brasil.

 Finalmente, da Guiné Bissau, destaca-se o nome de Odete Semedo (foto), sobre quem já escrevi nessa coluna. Nascida em 1959, é autora de “Entre o ser e o amar”, “Soneá: Histórias e Passadas que ouvi contar”, “No fundo do canto” e “Literaturas da Guiné Bissau: cantando os escritos da história”. Assim como Alda Espírito Santo, atuou na vida pública, exercendo as funções de ministra da Cultura e ministra da Saúde. Sua ligação com Belo Horizonte é afetiva: aqui ele fez o seu doutorado em letras, na PUC Minas, onde há um núcleo de excelência no estudo das literaturas africanas em língua portuguesa, liderado, entre outras, pelas professoras Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira.

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