VIVER EM VOZ ALTA | Alguns livros de Paulo Mendes Campos

O primeiro dos quinze livros de Paulo Mendes Campos apareceu em 1951. “A palavra escrita” foi uma coletânea de poemas lançada pelas Edições Hipocampo, de Thiago de Melo e Geir Campos. A respeito dele, escreveu Ivan Marques: “No livro de estreia de Paulo Mendes Campos, por exemplo, os decassílabos e as formas fixas convivem com os poemas em prosa e em versos livres. A mistura incoerente se expõe, quase como um manifesto poético, já na composição que abre o volume, o admirável “Neste soneto”, no qual o criador do ‘verso certo’ (construído nos moldes do árcade Tomás Antônio Gonzaga) confessa sua atração pelo ‘verso errado’, chegando à conclusão de que as falas de seu canto não cabem ‘dentro de forma fácil e segura’ – pois “minha emoção é muita, a forma é pouca”.
Em “O domingo azul do mar”, de 1958, Paulo reuniu textos publicados originalmente em jornais, revistas e antologias. Dois anos depois, com “O cego de Ipanema”, começou a editar volumes contendo as crônicas antes estampadas na imprensa, entre os quais se destacaram “Homenzinho na ventania”, de 1962, “O colunista do morro”, de 1965, “Hora do recreio”, de 1967 e “O anjo bêbado”, de 1969.
Em 1981, pela Civilização Brasileira, lançou “Diário da Tarde”, idealizado em seu sítio na serra fluminense, logo após a aposentadoria no serviço público, como o conjunto de vinte edições de um jornal imaginário, capaz de agrupar textos de naturezas distintas em seções fixas que ganharam nomes como “Artigo Indefinido”, “O Gol é necessário” (onde aborda uma das maiores paixões de sua vida, o esporte), “Poeta do Dia”, “Bar do ponto”, “Pipiripau”, “Grafite”, “Suplemento infantil” e “Coriscos”. Para Leandro Sarmatz, “a grande proeza de Paulo Mendes Campos – seu feito inédito e intransferível – parece ter sido o de acomodar, com total expertise, uma matéria tão variada nestas centenas de páginas do “Diário da Tarde”. A partir de notas e materiais já veiculados, rearranjados sob o guarda-chuva que tanto pode ser o periódico quanto o diário íntimo, ele soube conservar, como um colecionador de si mesmo, uma miniatura da própria obra ao longo do tempo. A poesia e a crônica, o ensaio e o autoexame, as brincadeiras verbais e a observação do cotidiano, além do Rio, do futebol, do humor, este livro contém um pouco disso tudo, oferecido como uma espécie de breviário de sua arte”.
Seu último livro foi “Trinca de copas”, de 1984, surgido sete anos antes de sua morte, em junho de 1991. Doado pela família ao Instituto Moreira Salles (IMS), onde também está o arquivo de Otto, é no acervo de Paulo que se encontram mais de quatro mil recortes de jornal e seus célebres cinquenta e cinco cadernos, onde, segundo a pesquisadora Elvia Bezerra, “ele registrou alguns lembretes do cotidiano e poucas, mas valiosas, notas biográficas. O que ressalta são as anotações de ideias para desenvolver em crônicas; de frases, dele e dos outros; reflexões, planos de antologias, fichamentos de leituras. Sim, fichamentos de leitura, como os de um estudante aplicado. E listas. Muitas listas, não tivesse ele mesmo declarado em entrevista que a filologia era sua vocação natural.”
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Foi Paulo quem melhor se definiu. A passagem está em “Meditações Imaginárias”, do livro “Cisne de feltro – crônicas autobiográficas”, de 2001: ”(Devo) a Minas Gerais, a minha sede, o jeito oblíquo e contraditório, os movimentos de bondade (todos), o hábito de andanças pela noite escura (da alma, naturalmente), a procrastinação interminável, como um negócio de cavalos à porta de uma venda”.
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