Variedades

VIVER EM VOZ ALTA | As celebrações dos cento e dez anos

VIVER EM VOZ ALTA | As celebrações dos  cento e dez anos
CRÉDITO:ALISSON J. SILVA

ROGÉRIO FARIA TAVARES*

Um país se alimenta do vigor das suas instituições. Não é possível conceber uma nação civilizada e desenvolvida sem elas. No campo da cultura, sua atuação é indispensável. São instituições culturais fortes e bem geridas que mantêm acesa a chama das artes, divulgando o acervo nacional, formando o gosto do público e alfabetizando as novas gerações no que é bom e belo. Solo a partir do qual o povo ergue a sua identidade e projeta seus sonhos, a cultura é elemento que agrega e integra, que convida à comunhão e à contemplação coletiva das representações artísticas. Tarefa de todos, sua fruição é direito assegurado pela Constituição e deve unir a inteligência dos poderes públicos e da iniciativa privada.

Nascida em Juiz de Fora, em dezembro de 1909, a Academia Mineira de Letras venceu o desafio do século vinte, chegando esse ano às suas onze décadas. Dona de raro capital simbólico, é a única casa mineira que foi capaz de abrigar, ao longo de sua trajetória, sob seu imponente teto, nomes como Alphonsus de Guimaraens, Abgar Renault, Cyro dos Anjos, Emílio Moura, Henriqueta Lisboa, Affonso Arinos de Melo Franco, Ayres da Mata Machado Filho e Eduardo Frieiro. Sem falar em homens de Estado como Juscelino Kubitscheck, Tancredo Neves, Milton Campos, Pedro Aleixo, Oscar Dias Correa, Paulo Pinheiro Chagas e Edgar da Mata Machado. Ou em cientistas como Francisco Magalhães Gomes e Hilton Rocha. Sua composição atual é igualmente eclética e abrangente, despida de preconceitos de qualquer natureza. Em torno de uma acolhedora mesa de chá, flui – amena, suave, elegante – a conversa entre intelectuais de visões de mundo absolutamente distintas, o que não impede o diálogo e a amizade. É possível discordar sem brigar ou ofender o outro.

Em honra dos cento e dez anos, será realizada, para convidados (sobretudo os familiares dos antigos membros da AML), sessão solene no dia 11 de novembro, quando, depois da confraternização e de alguns poucos discursos (os de praxe), terá lugar um recital de poesia, o ponto alto e central do evento. Os atores do competente grupo “Palavra Viva,” dirigido por Robson Vieira, interpretarão vinte e sete poemas escritos por acadêmicos de ontem e de hoje, entre os quais estão Yeda Prates Bernis, Maria José de Queiroz, Carmen Schneider Guimarães e Elizabeth Rennó. Já no dia 21 de novembro, o acadêmico Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB, celebrará missa em ação de graças na capela do Palácio Episcopal, na Praça da Liberdade. No dia 13 de dezembro, por iniciativa do deputado Doorgal Andrada, neto do acadêmico Bonifácio Andrada, a Assembleia Legislativa fará sessão especial para marcar a data. O mesmo ocorre em 17 de dezembro, na Câmara Municipal de Juiz de Fora, onde a Academia realizou sua primeira reunião, no começo do século passado. Lá, faremos uma homenagem aos fundadores, todos eles apaixonados pela missão de promover a literatura e a língua portuguesa, razões que justificam, até hoje, a nossa existência.

Esse necessário e saudável trabalho de reativação da presença pública da Academia é compensador. Algumas das sementes plantadas já começam a dar frutos. Ela está cada vez mais aberta para o povo e para a cidade, que na instituição vêm reconhecendo, com simpatia, um lugar apropriado para a expansão e o exercício do amor pela cultura, pela educação, pela arte, pela história e pela memória.

*Jornalista. Presidente da Academia Mineira de Letras

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas