VIVER EM VOZ ALTA | As várias formas de ler

Para muitos, o melhor da leitura é a chance de afastar-se do mundo, mesmo que por algumas horas, e mergulhar num universo paralelo, livre das agruras da vida real, principalmente em tempos tão difíceis como o nosso, em que as notícias agradáveis são tão raras (não é à toa que o mercado editorial registrou crescimento impressionante de vendas em 2020).
São, de fato, muito gostosos os instantes passados na companhia de um bom livro, onde quer que seja: em uma biblioteca silenciosa, num canto esquecido da casa, na poltrona mais confortável ou numa boa rede… O tempo voa e o entorno parece irrelevante. Só o que importa é o que brota das páginas viradas com curiosidade e, às vezes, até com pressa.
E como é gostoso comprar um livro! Sobretudo nas livrarias de rua, onde é possível conferir, com as mãos, os lançamentos e as raridades, encontrar amigos, conversar e até tomar um bom café. Belo Horizonte é feliz por ter a Quixote, a Ouvidor, a Scriptum, a Excalibook, a Livraria da Rua… Se, por conta da pandemia, tem sido necessário recorrer às lojas virtuais, conto os dias para que os volumes encomendados cheguem à minha casa.
Espero com ansiedade… Aprecio a capa, o projeto gráfico, a sua presença física, o volume que ocupam nas minhas estantes. Como se eu precisasse me sentir próximo a seus autores e às narrativas que eles criaram. Nada melhor que contemplar os móveis e confirmar que Jorge Amado, Graciliano Ramos e Chico Buarque continuam lado a lado.
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O fato é que o prazer da leitura pode acontecer de modos variados. Agora, com a chegada dos leitores eletrônicos, dispositivos portáteis e de fácil manuseio, outra plataforma se apresenta aos leitores apaixonados, ainda que muitos não tenham se acostumado com a novidade e que vários nem hajam arriscado relacionar-se com ela.
Ao lado dos livros eletrônicos, outro fenômeno relevante é o dos audiolivros, cada vez mais consumidos. Além de acolherem o princípio da acessibilidade e da democratização, eles ainda recuperam a antiga tradição das histórias contadas oralmente, o que é de incrível riqueza, pois valoriza a potência da língua falada.
Além da diversificação dos canais de leitura, os modos como ela pode realizar-se têm se ampliado. Dado interessante é o da proliferação dos clubes de leitores, que se reúnem periodicamente para comentar as obras a cuja leitura seus integrantes se dedicaram nas semanas anteriores. Com a peste, os encontros têm sido virtuais, mas não menos divertidos. Esse tipo de experiência coletiva é de uma enorme potência e reafirma o livro como elemento capaz de agregar as pessoas e de gerar diálogo e reflexão. Ler, portanto, pode não ser um ato assim tão solitário…
Finalmente, a leitura em família, sobretudo com as crianças, também é oportunidade privilegiada de convívio, distração e lazer, além de espaço para o exercício da criatividade e da imaginação. Carlos e Gabriela já são amigos íntimos de Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Eva Furnari, Léo Cunha… O Brasil formou, ao longo dos anos, gerações de talentosíssimos escritores infantojuvenis. Há um tesouro inesgotável de bons textos esperando os exploradores competentes e determinados…
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