VIVER EM VOZ ALTA | Com a palavra, Maria Estela Kubitschek Lopes

Desde a semana passada disponível no canal da Academia Mineira de Letras (AML) no youtube, a entrevista que fiz com a arquiteta Maria Estela Kubitschek Lopes foi concebida para marcar os quarenta e cinco anos do falecimento de seu pai, morto em trágico acidente automobilístico, em 22 de agosto de 1976, em circunstâncias que até hoje levantam polêmicas. Ao longo de seus sessenta e quatro minutos de duração, a sessão aborda as passagens principais da vida do antigo ocupante da cadeira de número 34 da AML, para a qual elegeu-se com o voto unânime dos acadêmicos, sendo recebido, em sua posse, pelo cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta.
A filha de Juscelino começou por destacar algumas mulheres notáveis que influenciaram decisivamente na sua formação e, igualmente, na trajetória de seu pai, como a avó, Julia Kubitschek; a mãe, Sarah, e a irmã, Márcia. Sua relação de amor e respeito por seus pais biológicos, Oswaldo e Judith, foi tratada com carinho e saudade, sendo exemplo para todos os brasileiros. Maria Estela também relembrou seus tempos como moradora do Palácio da Liberdade, durante o período em que JK governou Minas, e ainda falou como era a vida na Belo Horizonte daqueles anos cinquenta. Dona de ótima memória, recordou-se de momentos cruciais da campanha de Juscelino para a Presidência da República e de episódios importantes de seu governo, como a construção de Brasília, finalmente inaugurada em 21 de abril de 1960.
Fluente, leve, elegante, espontânea, Maria Estela sublinhou o apreço com que o pai lidava com os artistas e os intelectuais, desde quando assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte e resolveu idealizar a Pampulha, hoje patrimônio da Humanidade. Já naquele período, procurou cercar-se de personalidades da cultura, de que um dos exemplos foi sua sólida amizade com Oscar Niemeyer. Como presidente, JK mantinha, entre seus assessores, nomes do porte de Augusto Frederico Schmidt, Alphonsus de Guimaraens Filho e Autran Dourado. Amigo de Tom Jobim e de Vinícius de Moraes, a eles encomendou a “Sinfonia da Alvorada”, obra composta para celebrar o nascimento da nova capital do país. Ciente do papel central que a educação, a cultura e as artes desempenham no desenvolvimento econômico e social de um povo, foi governante que soube prestigiar e promover essas dimensões tão fundamentais para a experiência humana. Importantes demais para serem abandonadas pelo Estado.
Corajosa, Maria Estela não escapou dos temas mais espinhosos, como a cassação dos direitos políticos de seu pai, em 8 de junho de 1964. Em detalhes, ela descreveu as situações humilhantes a que Juscelino foi submetido posteriormente, sofrendo o cárcere em Niterói e a prisão domiciliar em seu apartamento no Rio de Janeiro. Vigiado vinte e quatro horas por dia, o presidente só podia receber a visita dos médicos e de familiares. Até para submeter-se a um procedimento médico, fora de casa, precisou de autorização especial. A filha de JK também não se furtou a falar sobre o exílio na França e a ida para os Estados Unidos. Seu depoimento foi concluído com relevante reflexão sobre o legado de Juscelino para o Brasil e acabou se constituindo, pela sua força, como fonte preciosa de pesquisa para os estudiosos da história brasileira, que, certamente, já viveu dias bem melhores que os atuais.
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