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VIVER EM VOZ ALTA | Conversa com a escritora Laura Erber

VIVER EM VOZ ALTA | Conversa com a escritora Laura Erber
Crédito: Divulgação

Tema desta coluna na semana passada, “O método de Pepe Chevette” (Editora Biruta, 69 páginas), novo livro de Laura Erber, motivou-me a conversar por e-mail com a autora, atualmente residindo na Dinamarca, onde leciona na Universidade de Copenhagen. Apaixonada por livros desde a infância, a escritora relatou a alegria de redescobrir, há cerca de quatro anos, alguns volumes que costumava ler ainda menina, quando surgiu a vontade de criar uma narrativa para crianças, tendo como tema a relação dos pequenos com a literatura.

“(…) queria tocar em algumas questões atuais, falar sobre a perda de uma certa experiência literária (…). Hoje, tudo é tomado como documento ou mera tradução da realidade em palavras bonitas. Fala-se muito em criatividade, mas o que temos visto são formas cada vez mais limitadas de se encarar o ‘eu’ dentro de uma história. A de Pepe mostra como há ou pode haver muitos sujeitos dentro de um mesmo ‘eu’. São muitas as maneiras de dar voz à primeira pessoa do singular. Ela é singular, mas não necessariamente uma só”.

No enredo, Pepe precisa entregar uma redação para a professora em 48 horas, o que o deixa bastante apreensivo. No curso das páginas, o garoto vai descobrindo um método para escrever. É a esse respeito a reflexão de Laura.

“Fiz um livro sobre como funcionam as histórias. Ele expõe a invenção de um método prazeroso e coerente com a necessidade do personagem. A escola, infelizmente, não incentiva muito a invenção de métodos de escrita. Em geral, apresenta formas de fazer, mas descobrir uma forma de fazer é uma aventura deliciosa. Uma criança é pesquisadora e inventora por natureza. Os processos de descoberta não deveriam ser vistos apenas como meios em direção a um resultado. Eles têm sua beleza própria. Foi o que eu quis mostrar no livro”.

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Sobre sua relação com a escrita, Laura Erber relembrou as férias na casa dos avós, em Belo Horizonte, quando costumava criar versos numa máquina datilográfica “preta, enorme e meio enferrujada”. A autora contou que, mais tarde, começou a fazer pequenos livros por conta própria, com a capa amarrada por um barbante.

A experiência escolar também foi positiva. “Estudei em um colégio que incentivava bastante a escrita livre. As melhores redações eram lidas para todos e esse era um momento que os alunos aguardavam com ansiedade. Como frequentemente as minhas redações eram escolhidas, passei a compor histórias sobre a turma. Eram ficções, mas os personagens eram os colegas e os professores da escola. Meus amigos queriam muito saber o que aconteceria com eles nas histórias. Era muito divertido”.

“Meus pais liam muito para mim e eu já achava os livros objetos meio mágicos”, acrescentou. Entre os autores que marcaram sua trajetória como leitora, Laura destacou Cecília Meireles (com “Ou isto ou aquilo”), Sylvia  Orthof, Bruno Munari, Elvira Vigna (e sua série de livros com o personagem Asdrúbal) e Monteiro Lobato, com o seu “Memórias da Emília”, sobre o qual a autora disse: “Acho que esse livro foi importante no sentido de despertar o meu interesse por meta-literatura. Certamente, ‘O método de Pepe Chevette’ também se deve a esse tipo de leitura”.

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