VIVER EM VOZ ALTA | Lídia Jorge, romancista portuguesa

Uma das mais premiadas escritoras portuguesas, Lídia Jorge nasceu no Algarve, em 1946. Sua vasta obra inclui romances, contos, crônicas, ensaios e peças de teatro, além de poemas e textos para crianças. Formada em filologia românica pela Universidade de Lisboa, lecionou em Angola e em Moçambique, durante os anos finais da presença portuguesa no continente africano. Tal período influiu decisivamente sobre a sua literatura e a sua visão de mundo.
Sua estreia se deu em 1980, com a publicação de “O dia dos prodígios”. A obra foi recebida como inovadora da técnica e da estética do romance português. O parágrafo com que abre tal livro dá uma boa medida de sua força: “Um personagem levantou-se e disse. Isto é uma história. E eu disse. Sim. É uma história. Por isso podem ficar tranquilos nos seus postos. A todos atribuirei os eventos previstos, sem que nada sobrevenha de definitivamente grave. Outro ainda disse. E falamos todos ao mesmo tempo. E eu disse. Seria bom para que ficasse bem claro o desentendimento. Mas será mais eloquente. Para os que creem nas palavras. Que se entenda o que cada um diz. Entrem devagar. Enquanto um pensa, fala e se move, aguardem os outros a sua vez. O breve tempo de uma demonstração”.
“O cais das merendas” chegou em 1982 e mereceu menção bastante elogiosa de Eduardo Lourenço (professor e filósofo português, ganhador do Prêmio Camões de 1996): “No momento em que Portugal abandonava as últimas ilusões épicas e o mundo nos descobria como paraíso turístico, Lídia Jorge, cronista minuciosa e irônica da metamorfose do nosso secular ‘cais das merendas’, em vitrina cosmopolita, inventou-nos uma singular epopeia. A epopeia virtual, cândida, perversa e cômica – com uma gota de sangue por cima – de quem, daqui em diante, habitará a História dos Outros como se fosse nossa.”
De 1988, “A costa dos murmúrios” chegou ao cinema pelas competentes mãos da diretora Margarida Cardoso. O longa está disponível no youtube e vale a pena ser visto. Conta uma das histórias mais interessantes que já li. Na edição brasileira, da Record, ganhou ‘orelha’ do querido escritor baiano Antônio Torres, que assim se expressou: “O que ela nos oferece aqui é uma história de amor e guerra. Melhor dizendo, de um amor contrariado por uma guerra colonial, quando Portugal fazia na África o seu Vietnam, sob o pretexto de que estava a defender a civilização ocidental, portanto, branca. Ao contrário do que objetivava, estava mesmo era cavando a sepultura do regime patriarcal e imperial do indefectível Antônio de Oliveira Salazar, que durou 41 anos, vindo a ruir em abril de 1974, quatro anos depois da sua morte”.
Outro livro imperdível de Lídia Jorge é o ótimo “O vale da paixão” que ganhou, no Brasil, o nome de “A manta do soldado”. Eduardo Prado Coelho resumiu com maestria o vigor da prosa da autora: “O que me prendeu de imediato na leitura deste livro é a espantosa força de seu arranque. Poucos livros têm a capacidade de criar uma situação, uma imagem intensa, um fulgor transbordante, e depois instalarem-se na própria energia que daí resulta…”
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