VIVER EM VOZ ALTA | No centenário do acadêmico João Valle Maurício

Prestes a completar cento e treze anos, a Academia Mineira de Letras (AML) tem intensificado a realização de atividades no interior do Estado, onde é sempre muito bem recebida. Em julho, lançou sua revista de número oitenta e um em Ouro Preto, na Biblioteca Pública Municipal, em sessão de que participaram vários de seus integrantes, como o prefeito Angelo Oswaldo e o escritor Ailton Krenak, recentemente eleito para a cadeira de número 24, na sucessão de Eduardo Almeida Reis. Em setembro, esteve presente no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas, evento reconhecido em todo o País pela excelência com que é organizado. No final do ano, será a vez de viajar a Montes Claros, onde os acadêmicos prestarão as devidas homenagens a dois intelectuais nascidos na cidade, ambos celebrando o primeiro centenário de nascimento: Darcy Ribeiro e João Valle Maurício.
João Valle Maurício cantou a paixão por sua terra em prosa e verso. Na imprensa da cidade, tanto no “Diário de Montes Claros” quanto no “Jornal do Norte”, comparecia sempre com casos notáveis, preservando a memória da região e de seus personagens mais marcantes. Seus livros comprovam o apreço que tinha por sua gente, fonte inesgotável de deliciosas histórias e inspiração para a Poesia. E para a música. Seresteiro, habitou as noites de luar do sertão mineiro com alegria e festa. Sábio, soube celebrar o milagre da vida entre os amigos e a harmoniosa família que formou. Gregário, ergueu o Automóvel Clube e o Lions Clube Tropeiros. Possuía o que se chama de verdadeiro “espírito acadêmico”, pois era absolutamente aberto, voltado para a convivência amena, suave, terna e elegante, despida de preconceitos ou elitismos. Era inegável sua habilidade em comunicar-se de modo espontâneo e extrovertido com todas as pessoas, sem qualquer tipo de discriminação. Foram seguramente tais qualidades que o levaram a integrar a Academia Mineira de Medicina e a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, e a fundar a Academia Montesclarense de Letras, instituição respeitada em todo o estado. Sua posse na cadeira 14 da Academia Mineira de Letras se deu em 10 de março de 1983. Eleito na sucessão de Almeida Magalhães, foi saudado por Aires da Mata Machado Filho, que, em inesquecível discurso, ressaltou a importância de sua contribuição à literatura, reproduzindo algumas das mais belas passagens de suas publicações.
Cardiologista, João Valle Mauricio exerceu a medicina com aguda sensibilidade social e em sintonia com os mais necessitados, a quem nunca negou assistência e amparo. Vereador e presidente da Câmara Municipal de Montes Claros, fez da Saúde Pública uma de suas bandeiras, o que o levaria, mais tarde, ao posto de secretário de Estado, no governo do acadêmico Francelino Pereira. A educação foi outra de suas preocupações. Do seu sonho e de sua imensa coragem, surgiu o que é hoje a Universidade Estadual de Montes Claros, a Unimontes, polo de desenvolvimento científico e cultural do Norte de Minas.
Por todas essas razões, nada mais justo que comemorar publicamente a potência e o vigor de seu legado. Uma comunidade que se preza louva e, sobretudo, estuda a trajetória daqueles que, por atos e palavras, souberam amá-la e apreciar os seus encantos. Tais atitudes são fundamentais para animar as novas gerações a seguir adiante, mantendo acesa a tocha da Civilização. É o que faremos em Montes Claros no dia 2 de dezembro, na sessão que a AML conduzirá em parceria com a Academia Montesclarense de Letras, presidida com brilho e competência pela professora Ivana Ferrante Rebelo.
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