VIVER EM VOZ ALTA | Nos cento e vinte anos de Drummond

No mês em que celebramos os cento e vinte anos de nascimento de um dos maiores escritores da língua portuguesa, nada mais adequado que destacar as iniciativas em favor da preservação de sua memória e da divulgação de sua bela obra. Uma delas é o espetáculo “Canto ao homem do Povo: Carlos Drummond de Andrade”, que estreou na Casa da América Latina, em Lisboa. Idealizado e protagonizado por Lauro Moreira, sua primeira apresentação no Brasil se deu na Academia Mineira de Letras, ainda em agosto, com o auditório Vivaldi Moreira lotado. Entre os presentes, o cônsul de Portugal em Belo Horizonte, Rui Nuno de Almeida, e, representando o prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage, a escritora Raquell Guimarães, que, na abertura, salientou as vigorosas ações do poder público municipal para resgatar o legado do poeta.
Diplomata de carreira, Lauro Moreira serviu em Buenos Aires, Genebra, Washington e Barcelona. Foi embaixador do Brasil no Marrocos e o primeiro titular da representação brasileira exclusiva junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Com ele, recentemente organizei o livro sobre os primeiros vinte e cinco anos da CPLP, lançado pela Editora Del Rey. Diretor do Departamento Cultural do Itamaraty, também presidiu a Comissão das Comemorações dos quinhentos anos do Brasil. Atual presidente do Observatório da Língua Portuguesa, ainda gravou o CD duplo “Mãos dadas”, em que interpreta poemas de autores de todos os países lusófonos e o histórico álbum “Manuel Bandeira: o poeta em Botafogo”.
Com duração de setenta e oito minutos, divididos em três partes, o recital que concebeu para homenagear Drummond inclui a interpretação de vinte e seis inesquecíveis poemas, entre os quais “Confidência do Itabirano”, “Romaria”, “Sentimento do Mundo”, “Congresso Internacional do Medo”, “No meio do caminho”, “Quadrilha”, “Poema de Sete faces” e “José”. Na última seção do show, há uma projeção selecionada de filmes de Chaplin, seguida da tocante interpretação do poema “Canto ao homem do povo”, que dá o título ao evento. Para concluir, é exibida a sequência final de “O grande ditador”, do mesmo artista, contendo o seu famoso discurso sobre a paz no mundo.
De impressionante atualidade, o espetáculo poderá ser visto em breve para a terra natal do homenageado, onde, certamente, merecerá calorosa acolhida. Lá, todos poderão de novo encantar-se ao ouvir “Mãos dadas”, mais uma preciosa joia da produção drummondiana: “Não serei o poeta de um mundo caduco/Também não cantarei o mundo futuro./Estou preso à vida e olho meus companheiros./Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. /Entre eles, considero a enorme realidade./O presente é tão grande, não nos afastemos./ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas./Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins./O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.
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