Variedades

VIVER EM VOZ ALTA | O “Jornal Amoroso” do acadêmico Pedro Rogério Moreira

VIVER EM VOZ ALTA | O “Jornal Amoroso” do acadêmico Pedro Rogério Moreira
Crédito: Divulgação

Mineiro de Belo Horizonte, Pedro Rogério Moreira cresceu entre livros. Seu pai era Vivaldi Moreira, presidente da Academia Mineira de Letras (Pedro foi o seu sucessor na cadeira 38). Seus tios Pedro Paulo e Edison (esse, grande poeta) eram donos da editora e da Livraria Itatiaia, onde, ainda muito jovem, Pedro foi balconista, tendo a oportunidade de conviver com a rica gama de escritores e intelectuais que frequentavam a loja. Atraído pelo jornalismo, trabalhou no “Última Hora”, em São Paulo, em “A notícia” e “O Globo”, no Rio. Por muitos anos, foi repórter da Rede Globo, ficando conhecido em todo o país pelas reportagens que produzia para os telejornais da emissora.

 Depois de trabalhar no Senado Federal e na assessoria do presidente Itamar Franco, pôde dedicar-se mais à sua obra literária, que já reúne títulos importantes, como “Hidrografia sentimental – Aventuras sem malícia de um repórter na Amazônia”, “O almanaque do Pedrim – diário destrambelhado de um mineiro na Amazônia”, “Bela noite para voar – um folhetim estrelado por JK”, “Amor a Roma, amor em Roma”, “Passeio pela magia na história de Carlos Magno”, “Palavras cruzadas”, “Diário da Falsa Cruz de Caravaca”, “Sob o céu de Belo Horizonte” e “O livro de Carlinhos Balzac”, entre outros. Hoje, no entanto, focalizarei “Diário Amoroso – edição vespertina”, publicado em 2007 pela Thesaurus, de Brasília, três anos depois de “Diário Amoroso’, lançado pela mesma editora.

 A caprichada ‘edição vespertina’ tem orelha em versos (brilhantes) de Felix Athayde e um índice a que o autor dá o nome de ‘pauta’, prestigiando o seu ofício de homem da imprensa. Em quarenta e oito textos, Pedro conta histórias saborosíssimas de Minas e do Brasil, evocando a memória de personalidades como Juscelino Kubitschek, Afonso Arinos, Alberto Deodato, Fausto Alvim, Mello Viana, Cyro dos Anjos, Oscar Dias Correa e Otto Lara Resende. Seu fino faro de repórter e seu olhar sensível aos segredos da cidade, no entanto, não o deixaram descuidar dos anônimos, aqueles que passam muitas vezes despercebidos, como o ‘Velho do Carrinho’, também chamado de o ‘Velho da Barba’ ou, ainda, de o ‘Velho do Pandeiro’. Em “Mistério na Praça da Liberdade”, Pedro Rogério apresenta o personagem, contando como o descobriu e o que imaginava a respeito dele. A bela crônica comprova o estilo leve, suave e elegante do autor, presente em todo o volume. Sua linguagem clara, precisa e direta, herdada, seguramente, do jornalismo – e sempre num tom bem-humorado – dá um ritmo muito agradável à leitura e faz com que suas narrativas sejam ‘devoradas’ com prazer. Suas reminiscências são partilhadas com naturalidade, como quem reúne os amigos em torno da lareira e de um bom vinho, numa noite que pede uma conversa boa. O memorialismo de Pedro Rogério não cheira a mofo. Pelo contrário. Tem charme, vigor e viço.

 Ainda sobre o ‘Velho’, escreve Pedro: “Por que não o entrevistei? Por que a chama do repórter de outrora não foi capaz de me inflamar? Ia remoendo tudo isto quando passei diante do busto do velho Bias Fortes, justo onde o mendigo dava suas pandeiradas. Era tanto o remorso que notei um ar de censura republicana no governador que nos deu a nossa Versalhes mineira. ‘Titica de repórter!’, ouvi dele”.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas