VIVER EM VOZ ALTA | O novo livro de Laura Erber

Ilustrado por Herbert Loureiro, “O método de Pepe Chevette” (Editora Biruta, 69 páginas), da escritora, artista e professora Laura Erber, convida os leitores a uma fascinante viagem pelo mundo das ideias, das palavras e das frases. O personagem central é um garoto que quer desesperadamente saber como fazer as redações pedidas pela professora, na escola. Triste pela morte da avó Elvira, que lhe ajudava nas tarefas da escrita, Pepe tem quarenta e oito horas para entregar o texto encomendado, o que lhe deixa apreensivo: “Como ele iria escrever aquela redação em apenas dois dias? De onde iria tirar as ideias? Onde encontraria as palavras? Como saberia se as palavras eram as certas?”
As dificuldades do menino em começar suas redações são descritas de modo poético: “Quando o Pepe se sentava diante do papel para escrever uma redação, as ideias ou evaporavam feito sorrisos de alguns adultos, ou se transformavam em vagalumes, como nas fábulas de crianças menores do que você ou eu. Se tentasse agarrar uma ideia luminosa e voadora, quando finalmente a capturasse iria ver que ela não tinha nenhum brilho, nenhuma luz, era uma ideia boba e meio mortinha, sem real encanto. Se era difícil capturar ideias boas, a coisa era pior com as palavras boas”.
Em uma das mais instigantes passagens desse livro inspirado e inspirador, sintonizado com o dia a dia das crianças de hoje, a narradora da história vai, espertamente, abrindo engenhosos caminhos para facilitar o encontro entre Pepe e o seu ‘dever de casa’: “Se uma redação fosse um videogame, o jogo começaria com a Caça às Ideias Luminosas, depois haveria uma busca pelo Cofre das palavras certas e na última fase ele teria de conseguir atravessar sem cair e sem morrer o Vale das Frases Quebradas ao Meio.” Uma primeira pista do que pode ser uma ótima saída aparece logo depois: “Às vezes o Pepe pensava que se pudesse escrever usando as ideias e as palavras dos outros tudo seria mais fácil”.
A conversa com o professor Monza dá a Pepe mais noções sobre a natureza das palavras. Diz o mestre: “Pois é Pepe, com as palavras é diferente. Porque as palavras funcionam uma depois da outra, em fileira. Mas há algo em comum entre imagens e palavras (…) Palavras e imagens não são reais como as pessoas que podemos abraçar e tocar. Podemos pegar uma foto, mas a imagem que vemos na foto só conseguimos pegar com nossos olhos, não com nossas mãos. (…) E é justamente por isso que cada um deve descobrir um método de pegar palavras e imagens”.
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Na sequência, Monza apresenta a Pepe o processo criativo utilizado por autores como J.K. Rowling, Balzac, Mark Twain e Agatha Christie. Motivado em ajudar o aluno, segue com ele para a casa de Turmalina, irmã gêmea da professora do menino, mas ela, infelizmente, não tem como ajudá-lo. O insight para a redação só surge mesmo no dia da entrega do texto, quando Pepe está a caminho do colégio. E é surpreendente, por valer como o tão precioso método de pegar palavras mencionado pelo professor.
Sofisticado e envolvente, “O método de Pepe Chevette” não é só para as crianças ou para os chamados pré-adolescentes. Narrativa para ser decifrada em suas várias camadas, atrai leitores de todas as idades. Desde que apaixonados pelas incríveis aventuras proporcionadas pelos livros.
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