VIVER EM VOZ ALTA | O relançamento dos quatro romances de Godofredo Rangel

Fruto de exitosa parceria entre a Academia Mineira de Letras (AML), o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, a Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef) e a Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), o relançamento dos quatro romances do acadêmico Godofredo Rangel, antigo titular da cadeira de número 13 (hoje ocupada por Silviano Santiago), ocorreu em bela solenidade realizada na última segunda-feira, dia 20 de junho, na sede da AML. Com projeto gráfico de Marconi Drummond, preparação de originais e revisão de Leonardo Mordente, às quatro narrativas se somaram os textos críticos de Antônio Cândido, Autran Dourado, Carlos Drummond de Andrade e Márcio Sampaio, membro da academia e curador da obra de Rangel. Além de expressiva tiragem em papel, a obra já está disponível, integralmente, em sua versão digital, nos sites da Amagis, da Ejef e da AML na internet, providência essencial para ampliar ainda mais o acesso público a esse tesouro da literatura mineira.
Juiz de direito, professor, tradutor, Godofredo Rangel também escreveu contos e literatura para crianças, mas ficou nacionalmente conhecido como o amigo que se correspondeu com Monteiro Lobato por várias décadas. Sua estreia no romance se deu com “Vida ociosa”, a respeito do qual o autor de “Urupês” foi enfático: “Quero ter a glória de ser o primeiro a dizer que ‘Vida ociosa’ só pode figurar em nossas letras junto ao melhor de Machado. Aquilo é uma obra prima de psicologia e realismo das mais puras. É um livro sedimentado e definitivamente lindo”. Sobre o mesmo volume, assim se exprimiu Antônio Moraes, seu sucessor na AML, em seu discurso de posse na instituição, em 1952: “Em ‘Vida Ociosa’ os personagens vivem. Têm carne, têm músculos, têm coração, têm alma, têm nervos”.
Na oração proferida durante o velório do escritor, no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, o então presidente da Casa de Alphonsus de Guimaraens, Mário Matos, foi certeiro: “Godofredo Rangel é certamente o mais mineiro dos escritores de Minas. A sua voz literária, como quer que se manifestasse, transpirava o cheiro da terra, o murmúrio da água do córrego e a poesia do céu de Minas”. A respeito da convivência com o escritor, o mesmo Matos acrescentou: “Como homem e cidadão, era dessas raras criaturas que, depois de meia hora de conversa, deixavam no ouvinte o desejo de incorporá-lo a seu parentesco religioso e a sua amizade, o desejo de convidá-lo para compadre”. Para, mais adiante, concluir: “Há uma palavra que lhe resume a vida toda. Suavidade. Viveu suavemente, tinha a palavra suave, com suavidade deslizava pela existência, amou tem tom suave e suavemente sofreu. Foi uma criatura em surdina, assim como um canto de pássaro, a música na rua dos arraiais ou a melancolia do crepúsculo no campo”.
Feliz em contribuir para o resgate da obra de um de seus antigos integrantes, a Academia Mineira de Letras reitera sua crença no poder da cultura e, em especial, da literatura, como elementos fundamentais para a elevação da cidadania. Não há país livre nem povo emancipado e autônomo que prescindam da convivência com as letras e as artes.
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