VIVER EM VOZ ALTA | Saudação a Antonieta Cunha, no dia de sua posse na Academia

Não há como ser relevante, no século vinte e um, sem respeitar princípios como a diversidade e a pluralidade. É da rica convivência entre pessoas de todas as origens, identidades e trajetórias que se alimentam as comunidades civilizadas. É passado o tempo em que se considerava a homogeneidade um valor. A graça de existir está no contato, no diálogo e na mistura entre os diferentes – o que não significa ignorar os conflitos. Pelo contrário, é por meio da palavra – franca e transparente – que os conflitos se desvelam, se explicitam e, eventualmente, se resolvem.
Lugar para o culto iluminista à palavra e à razão, a Academia Mineira de Letras quer escutar cada vez mais vozes, em atitude inclusiva e acolhedora. Sobretudo se tais vozes vierem de sítios distantes, inesperados, pouco considerados pelo cânone. E por que? Talvez porque sua mensagem e sua dicção conservem o poder de surpreender ou, pelo menos, de intrigar, elemento fundamental para a ampliação dos horizontes e o refinamento da inteligência.
Núcleo de produção, mas, principalmente, de divulgação do conhecimento, a Academia Mineira de Letras chega aos seus cento e treze anos, agora em dezembro, plenamente convencida da necessidade de compreender as dores e os dramas da sociedade em que se insere, em movimento de empatia e de solidariedade. Não há entidade saudável que se refugie em si mesma, apartada da realidade, orbitando em torno de seu próprio umbigo. Sintonizada com a sua época, ela deverá captar as suas aflições e os seus impasses, a eles respondendo de modo vigoroso, seja por meio de uma programação afinada com as questões mais palpitantes da atualidade, seja por meio de publicações que ofereçam a seus leitores a boa dose de reflexão e crítica de que todos precisamos para seguir em frente com a mente atilada e o coração aquecido.
A chegada de Antonieta Cunha à nossa confraria se alinha integralmente à conduta que a Academia ora imprime a seus gestos. Professora por vocação, destino e gosto, foi – e é – mestra dotada da alegria em partilhar o que sabe, como provaram as décadas que passou nas salas de aula, lecionando. Pioneira, fundou a cátedra de Literatura Infanto-Juvenil da Faculdade de Letras da UFMG. Convicta do papel da leitura na formação cidadã, criou bibliotecas importantes, chegando, ainda, a integrar a direção da Biblioteca Nacional. Personalidade marcante do mercado editorial brasileiro, fez da inesquecível Miguilim o ventre gerador de magnífica prole, uma verdadeira multidão de livros, responsáveis por encantar milhares de crianças e de jovens, no país e fora dele. Seu trabalho na Dimensão, na Global e na Rona comprovaram seu compromisso com o melhor.
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Finalmente, como gestora pública, soube transformar as intenções em atos concretos em favor da Cultura, alterando para sempre o panorama artístico da capital mineira. Nas duas vezes em que a Antonieta Cunha coube dirigir a pasta no município, sua atuação foi incisiva, abrindo espaços reais para novos agentes e para outras visões de mundo.
Por tudo isso, é com imensa satisfação que a Academia integra a seus quadros, na cadeira de número nove, não apenas a intelectual, a editora e a administradora de primeira qualidade, mas também a mulher elegante, generosa, afável e sensível que é a nossa sempre querida Antonieta Cunha.
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