VIVER EM VOZ ALTA | Vinte contos sobre a pandemia de 2020
ROGÉRIO FARIA TAVARES*
Acolhido pela sensibilidade da competente Rejane Dias, dona do Grupo Autêntica, empreendimento de grande sucesso em todo o Brasil, reuni, em nome da Academia Mineira de Letras, um time de vinte contistas mineiros para o desafio de registrar, em texto literário, esses momentos tão estranhos e difíceis pelos quais passamos hoje.
As duas dezenas de autores brilharam no cumprimento da tarefa, entregando-me obras-primas que, no futuro, ajudarão os leitores a entender, a partir do olhar da ficção (geralmente o mais apurado), o que tem sido esse ano tão singular de 2020. A coletânea estará à venda em breve, tanto no formato impresso quanto no eletrônico, num gesto de renovado apreço pelo poder do livro e do mercado editorial e pelo seu impacto no desenvolvimento da educação e da cultura no Brasil.
O grupo de convidados é eclético e abrangente, abrigando as mais diversificadas trajetórias e distintas gerações, sem qualquer restrição. O objetivo foi compor um rico painel das vozes literárias de Minas nesse nosso tempo, prestigiando a sua diversidade e a sua originalidade. Berço das mais altas expressões culturais do país, o estado continua oferecendo ao país uma produção literária de altíssima qualidade, o que merece ser amplamente divulgado.
Aproveito esse espaço para agradecer, com gratidão, os participantes desse instigante projeto: Afonso Henriques Guimaraens Neto, Ana Cecília Carvalho, Ana Elisa Ribeiro, Carla Madeira, Carlos de Brito e Mello, Carlos Herculano Lopes, Cidinha da Silva, Cris Guerra, Cristina Agostinho, Eliana Anastasia Cardoso, Francisco de Morais Mendes, Frei Betto, Ivan Angelo, Jacques Fux, Jacyntho Lins Brandão, Laura Cohen, Luís Giffoni, Paula Pimenta, Olavo Romano e Stela Maris Rezende.
Até a reabertura, tão aguardada, das chamadas ‘livrarias físicas’, a literatura sobre a pandemia também prolifera na internet e na imprensa, dos mais variados modos. Os diversos diários, micro-contos e crônicas até agora publicados comprovam o quanto é avassaladora, para a espécie, a convivência com esse vírus mortífero. Isso não passará rápido, da noite para o dia. E deixará marcas duradouras. Talvez seja um dos principais acontecimentos de todo o século vinte e um. Por tudo isso, é tema que não escapará, tão cedo, ao interesse de quem faz Literatura.
Ainda bem. Mesmo que os relatórios médicos e científicos sejam fundamentais para que os pósteros compreendam o nosso drama, ou que o trabalho dos historiadores e dos jornalistas sejam bastante úteis para relacionar as diferentes características desse período, não há como prescindir da Literatura para captar a densa e misteriosa atmosfera atual, que não é fácil decifrar. Ela envolve todos os aspectos da experiência humana, trazendo inúmeras consequências, muitas delas imprevisíveis e incontroláveis.
Foi somente lendo as memórias de Afonso Arinos de Melo Franco que pude sentir o que sofreram os contemporâneos da terrível gripe espanhola, de 1918. O próprio autor perdeu sua mãe e um de seus irmãos para a peste do início do século vinte. A Literatura conserva, de fato, esse poder: o de gerar empatia e paixão, para além do mundo da razão, onde muitas vezes imperam apenas os números, as estatísticas e a frieza.
*Jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras
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