Avaliamos o Renault Logan reestilizado em sua versão topo de linha

Amintas Vidal*
Quando dissemos que a Renault optou por modelos mais simples e robustos para ganhar mercado no Brasil, estamos falando da família Sandero. Sobre sua plataforma estão quase todos os modelos que a Renault vende no País atualmente, exceto o subcompacto Kwid.
Logan, Stepway, Duster e Captur são filhos legítimos deste hatch desenvolvido pela Dacia, subsidiária romena da Renault.
Espaço interno, preço e robustez destes modelos atenderam melhor aos anseios do consumidor brasileiro, assim como acontece com os compradores do Leste Europeu e Ásia, regiões para qual eles foram desenvolvidos originalmente.
No fim de julho deste ano, Logan e Sandero receberam sua terceira reestilização. Na ocasião, a variante aventureira do Sandero, a Stepway, passou a ser um modelo à parte e ganhou três versões.
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Lançada há 12 anos, essa nova reestilização da família Sandero, provavelmente, chega ao seu ápice evolutivo e ganhará uma nova geração na próxima mudança. Algo que sinaliza este limite é a adoção do câmbio CVT.
Entre todas as caixas de marchas que já equiparam esses modelos, essa é a mais atual e sofisticada, mas a plataforma não foi projetada prevendo seu uso, tanto que, o Logan e o Sandero com essa transmissão, tiveram suas suspensões elevadas em 40 mm para acomodar essa caixa sem que a mesma ficasse muito próxima ao chão.
Em tempos de transformação de tudo em SUV, agora temos até um sedan elevado, não por demanda de mercado, mas sim para viabilizar o uso deste câmbio.
DC Auto recebeu o Logan Iconic 1.6 CVT X-Tronic para avaliação, versão de topo da gama. Agora, todas as versões dos três modelos da família são oferecidas completas e sem opcionais, ficando a escolha da cor como a única variação no preço final.
No site da montadora essa versão é ofertada por R$ 71,09 mil. A unidade avaliada tem pintura metálica na cor cinza Cassiopée, que eleva a etiqueta para R$ 72,59 mil.
Equipamentos – Os principais equipamentos desta versão, todos de série, como já dissemos, são: ABS, quatro airbags (dois frontais e dois laterais), Isofix, controle eletrônico de estabilidade (ESC), assistente de partida em rampas (HSA), direção eletro-hidráulica, ar-condicionado automático, câmera de marcha à ré, faróis de neblina, vidros elétricos com “one touch”, retrovisores elétricos e piloto automático (controlador e limitador de velocidade).
Também estão presentes central multimídia, comando satélite no volante, sensor de estacionamento, ajustes de altura do banco e volante, computador de bordo, alarme, rodas de liga leve de 16 polegadas diamantadas, revestimento dos bancos em material sintético que imita o couro, sensor de chuva, sensor de luminosidade, entre outros.
A diferença desta para as outras versões do Logan que trazem o câmbio automático CVT são as molduras plásticas nas caixas de rodas, sobre as caixas de ar e nas bases dos para-choques.
Elas são semelhantes às usadas no Stepway e visam dar mais sentido estético a um sedan com as suspensões elevadas. Em conjunto com as rodas de 16 polegadas, estes apliques conferiram mais robustez à carroceria e harmonia ao modelo, algo pouco esperado para um três volumes com altura de um hatch aventureiro.
Interior – O interior de todas as versões da família passou a ser escuro, inclusive o revestimento do teto e os apliques plásticos das colunas. O volante tem um novo design e detalhes metálicos, assim como a alavanca do câmbio, até então, inédito para estes modelos. No mais, o interior é igual, ganhando apenas novos tipos de acabamentos em algumas peças de painéis e portas.
Nessa versão, única com bancos em material que imita o couro, a aparência é bem melhor que nas que usam tecido, apesar de o interior ficar muito monocromático. Mas são os detalhes que nos fazem lembrar da escolha que a Renault fez em 2007. Rebarbas em peças plásticas e parafusos aparentes são heranças de berço que o Logan carrega e somente uma nova geração poderá resolver.
O Logan Iconic vem equipado com o motor 1.6 SCe (115/118 cv) acoplado ao câmbio automático CVT X-Tronic, mesmo conjunto oferecido no Duster e no Captur. Seu bloco tem 4 cilindros em linha, o cabeçote conta com 16 válvulas e o sistema de injeção é multiponto. O torque é de 16 kgfm, com gasolina ou etanol.
A caixa de marchas CVT X-Tronic tem uma programação que simula seis velocidades que podem ser acionadas através da alavanca de comando. Seu acoplamento é feito por conversor de torque.




Modelo se destaca ao rodar em nossas ruas e estradas esburacadas
O conjunto, motor e câmbio, agradou em uma condução suave. As trocas são imperceptíveis e o escalonamento das marchas é apropriado para um sedan familiar. Somente nas arrancadas, o motor demora um pouco para acordar, obrigando o motorista pisar de forma mais vigorosa no acelerador.
Comutar o câmbio para manual, através da alavanca de marchas, também ajuda, pois o Logan muda de temperamento, ficando bem mais esperto. Mas este sistema não é o ideal, pois não tem aletas (“borboletas”) para as trocas no volante e só funciona com essa mudança de posição da alavanca.
Ao menos deveria haver um botão “Sport” para que o motor respondesse mais rapidamente aos comandos do acelerador e as marchas fossem trocadas em rotações mais elevadas.
Este motor garante um desempenho satisfatório e silencioso, mais pelas longas relações das marchas que pelo isolamento acústico do modelo. Aos 110 km/h, de sexta marcha, ele trabalha em baixas 2.000 rpm.
As suspensões alteraram muito o comportamento de marcha do carro. Em relação ao Logan “normal”, este está mais estável, mas menos confortável. O acerto é mais rígido e a carroceria quase não aderna em curvas.
Para as nossas vias mal conservadas, isso é muito bom. As grandes rodas passam sobre remendos, buracos e lombadas sem aparentarem castigar a estrutura do sedan, mas transferem as vibrações para a cabine.
No trabalho de amortecimento o conjunto mecânico se mostrou eficiente e não deixou o fundo do carro tocar o chão e nem mesmo os para-choques em entradas e saídas de garagens. Mas no momento de retorno, este mesmo conjunto não é tão eficaz, pelo menos acusticamente.
A direção ainda é eletro-hidráulica. Funciona bem, sendo até mais direta que muitos sistemas elétricos, mas é pesada, principalmente em manobras de estacionamento. Até o tamanho do volante, grande, entrega que este sistema não é o ideal para o peso do carro e, provavelmente, deverá ser aposentado na próxima geração, dando lugar a uma direção elétrica.
O ar-condicionado automático tem dois botões giratórios de fácil uso e identificação, além de informarem na tela do multimídia todas as regulagens feitas, algo muito útil quando se está dirigindo. Seu funcionamento é eficiente, pouco ruidoso, esfriando o ambiente rapidamente.
Multimídia – A central multimídia Media Evolution passou a contar com as tecnologias Android Auto e Apple Carplay, permitindo usar Spotify, Waze e Google Maps (Android Auto).
A tela de 7 polegadas touchscreen evoluiu, agora é capacitiva, antes era resistiva. Seu funcionamento já era bom e ficou melhor. Conectado ao Android Auto ela permitiu fácil acesso a todos os recursos do smart phone, com destaque para o Spotify.
O aparelho possui botões para ligar e regular o volume do som, mas não são giratórios, como seria o ideal. A entrada USB fica na parte de cima, deixando o cabo à frente da tela, algo que deveria ser corrigido. Dependendo a luminosidade ambiente, a tela fica um pouco escura. Mas o comando do áudio é satélite, atrás do volante e de uso cego. Em nossa opinião, o melhor que tem, pois não desvia a atenção do motorista.
O espaço interno, grande trunfo do modelo, continua o mesmo. Ele é mais largo que a maioria dos seus concorrentes e tem um desenho mais quadrado da carroceria que garante bom espaço para ombros, pernas e cabeças de quatro adultos.
Em marcha à ré, em ruas acidentadas, não se vê nada pelo retrovisor interno, tornando obrigatório o uso da câmera para realizar essa manobra. Este sistema apresenta linhas auxiliares, mas elas não são esterçáveis.
Consumo – O primeiro teste padronizado de consumo que fizemos na ultima avaliação, a do Argo GSR, repetimos com Logan. Resumindo, circulamos em um mesmo trecho rodoviário de exatos 38,4 km, duas vezes, rodando de forma econômica e de forma usual.
Na volta econômica, mantivemos a velocidade em 90 km/h e, na usual, 110 km/h, respeitando as velocidades máximas em cada trecho. Ar-condicionado ligado e regulado na refrigeração média, os vidros fechados e somente o motorista a bordo completam os parâmetros.
Em ambos os casos, aceleramos de forma progressiva e antecipamos as desacelerações usando o freio motor, isto é, mesmo buscando manter as velocidades determinadas, dirigimos sempre de forma econômica. Apenas com etanol no tanque, na volta econômica, registramos 13 km/l. Já na volta usual o consumo foi de 11,7 km/l.
A solução encontrada pela Renault para usar o câmbio CVT no Logan criou o primeiro sedan aventureiro do nosso mercado, pelo menos na altura da carroceria. Como o vão-livre não atinge o valor mínimo para homologar um SUV no Brasil, nem ele e nem mesmo o Stepway CVT receberam essa comenda.
Mesmo assim, essa versão tem um comportamento mais apropriado nas nossas vias ruins e mesmo nas não pavimentadas. Para quem quer levar a família e bagagem para circular por nossas estradas precárias, o Logan CVT é uma boa opção.
*Colaborador
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