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Kwid é estratégico nos planos da Renault

Modelo aventureiro, com motor 1.0 flex de três cilindros, mantém as vendas da francesa durante fase de transição
Kwid é estratégico nos planos da Renault
Crédito: Diário do Comércio / Amintas Vidal

Após 25 anos produzindo no Brasil, a Renault iniciou sua terceira grande fase. Na primeira, ela montou os carros da Europa Ocidental.

Na segunda, surfando a popularização dos financiamentos, foram os modelos da Europa Oriental, projetos desenvolvidos para países emergentes.

Agora, para o mercado pós-pandemia, com valores elevados, qualidade idem e volumes reduzidos, ela irá equilibrar a linha nacional entre os modelos destas duas regiões europeias, todos atualizados para atender a essa nova realidade, inclusive, à eletrificação.

Nos últimos anos desta transição, o Renault Kwid manteve a operação nacional viável ao emplacar de duas a cinco vezes mais unidades do que os outros carros da marca.

Em 2023, o Kwid alcançou 63.316 emplacamentos contra 26.506 do Duster, SUV compacto e segundo modelo mais vendido da Renault, de acordo com os dados fornecidos pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

O Veículos recebeu o Renault Kwid Intense Pack Biton, ano 2024, para avaliação. Avaliada em 2022, essa mesma versão apresentava informação errônea no site.

Era oferecida por R$ 67.890 mil, mas, como o teto vem na cor sólida preta, a única não cobrada à parte, era preciso escolher uma das outras cores para compor o biton, acrescentando R$ 700 para a branca sólida e R$ 1.500 mil para as metálicas.

Atualmente corrigido, seu preço já considera a cor branca sólida, a mesma da unidade avaliada. Hoje, essa versão parte de R$ 78.630 mil e chega aos R$ 79.430 mil com qualquer uma das cores metálicas.

Completa de série, os principais equipamentos da versão são: multimídia com espelhamento por fio; ar-condicionado; retrovisores elétricos; câmera de marcha à ré; direção elétrica; sistema stop&start; teto e retrovisores em preto brilhante; revestimento misto em tecido e em material sintético que imita o couro e rodas em liga leve, diamantadas e calçadas em pneus 165/70 R14.

No quesito segurança, ele traz um pouco mais do que o exigido pela legislação que passou a vigorar este ano: controle eletrônico de estabilidade (ESP) com auxílio de partida em rampa (HSA); luzes de circulação diurna em LED (DRL); 4 airbags (2 frontais e 2 laterais); freios ABS; sistema Isofix; três cintos de segurança traseiros de 3 pontos; monitoramento da pressão dos pneus (TPMS); aviso de cintos desafivelados para todas as posições e sistema CAR (travamento automático aos 6 km/h).

Motor e câmbio

O motor do Kwid é o 1.0 flex de três cilindros. Equipado com injeção multiponto, duplo comando de válvulas tracionado por corrente e 12 válvulas sem variação na abertura, ele gera 71/68 cv às 5.500 rpm e 10/9,4 kgfm às 4.250 rpm com etanol e gasolina, respectivamente.

Seu câmbio é manual de cinco (5) marchas e a embreagem é do tipo monodisco a seco.

Propagado como o “SUV dos compactos”, o Kwid é, na verdade, um hatch subcompacto. Porém, alguns números que oferece (185 mm de vão livre; 24,1° de ângulo de entrada e 41,7° de saída) foram mais do que suficientes para classificá-lo como um utilitário esportivo no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Daí o mote publicitário.

Mas, seu design externo o transforma em um mini SUV. Antes da reestilização de 2022, ele tinha um estilo mais off-road, tipo o Renegade.

Pequenas mudanças na dianteira, como o DRL afilado ao alto e os faróis embutidos ao centro do para-choque, deixaram o Kwid parecido com os SUVs mais urbanos.

Interior

Internamente, nem o design, nem a qualidade dos materiais surpreendem como o seu exterior. A cabine confirma a simplicidade esperada para um modelo popular.

Todas as superfícies são rígidas e apenas pequenos detalhes cromados, ou preto brilhante, deixam essa versão um pouco melhor do que a de entrada. O design dos painéis e peças internas é espartano e comum, o mesmo em todas as versões.

Na versão avaliada, costuras aparentes e desenhos no banco em linha azul combinam com o material misto do revestimento, outra quebra na simplicidade geral.

Porém, o ótimo aproveitamento do espaço interno é o que mais apreciamos dentro deste modelo subcompacto.

Espaço

Na frente, o painel é curto e chanfrado na parte inferior. Como os bancos recuam muito, até duas pessoas de grande estatura têm muito espaço para as pernas e boa área para suas cabeças, pois o teto alto permite.

A largura limitada da cabine deixa os ombros de ambos mais próximos que o usual. Levando os bancos frontais dois ou três dentes para frente, atrás sobra um bom espaço para pernas, cabeças e ombros de dois adultos. Menos do que na frente, lógico.

Homologado para cinco pessoas, só uma criança encontra conforto ao centro do banco traseiro. Nesta posição, um adulto vai bem apertado, disputando espaço para os ombros com os demais, condição normal nesse segmento.

O espaço no porta-malas também impressiona para um subcompacto: são 290 litros de capacidade, volume maior do que de alguns compactos.

O porta-luvas é igualmente amplo, conta com luz de cortesia e sua trava está à mão. Estranhamente, seu compartimento fica muito recuado, deixando os objetos longe do alcance do motorista.

Números

As outras dimensões são as seguintes: 3,68 metros de comprimento; 1,58 metro de largura; 1,48 metro de altura e 2,42 metros de distância entre-eixos.

Seu tanque de combustíveis comporta, apenas, 38 litros. Ele pesa 820 kg, suporta uma carga útil de 375 kg e o modelo não é homologado para rebocar carretinhas.

O Kwid é um subcompacto de entrada com as vantagens e limitações destes adjetivos. Por ser pequeno, todos os comandos estão à mão e são rapidamente alcançados e manuseados.

Faltam ajustes na coluna de direção e de altura dos bancos. Mesmo assim, a ergonomia é muito boa para um motorista de 1,70 metro, por exemplo.

Certamente, pessoas mais baixas também ficarão bem posicionadas e, as mais altas, encontrarão dificuldades.

Incômodo

Incomoda a proximidade entre os pedais do freio e do acelerador e a posição baixa de todos eles. Dependendo do calçado, ao acelerar, é comum encostar levemente no pedal de freio.

Ao pisar no pedal do freio, costumamos empurrá-lo com o centro do pé e, não, com a parte frontal, a mais correta.

No Kwid, o vidro traseiro é pequeno e a coluna “C” muito larga, restringindo a visibilidade, principalmente para trás e no sentido cruzado.

A câmera de marcha à ré ajuda amenizar essa limitação. Porém, o modelo deveria contar com sensor de estacionamento sonoro, ao menos como opcional.

Suas dimensões reduzidas facilitam as manobras em vagas apertadas e a circular em trânsito pesado. Os equipamentos de bordo têm botões físicos para quase todas as operações, arquitetura ideal.

Altura elevada garante desenvoltura diante dos obstáculos urbanos, rodovias e estradas de terra

O multimídia Media Evolution do Renault Kwid Intense Pack Biton tem tela de 8 polegadas com brilho, definição e sensibilidade ao toque na média do mercado, sem destaques.

Renault Kwid
Crédito: Diário do Comércio / Amintas Vidal

Espelhar celulares por cabo é algo ultrapassado, mas o equipamento se manteve estável, sem falhas, por toda a nossa avaliação.

Ele tem um aplicativo que avalia a condução nos quesitos aceleração, antecipação e trocas de marchas, além de dar dicas para o motorista aprimorar o seu desempenho.

O sistema de som é básico, tem apenas dois alto-falantes, mas estes ficam sobre o painel, criando uma acústica espacial agradável.

Quadro de instrumentos

O quadro de instrumentos não utiliza ponteiros. Ao centro, ele é digital, mostrando a velocidade em número muito legível e informações do computador de bordo e outros dados em caracteres menores.

Nas laterais, a rotação do motor, a temperatura do sistema de arrefecimento e o esgotamento do tanque de combustíveis são indicados em escalas de luzes.

O giro só é registrado de 500 em 500 rpm e a temperatura é sinalizada em frio, normal e superaquecido, esquema gráfico impreciso.

Merece destaque o controle satélite do sistema de áudio e telefonia. De uso cego, o mais seguro, ele é um dispositivo oriundo dos primeiros carros nacionais da Renault e ganhou função para atender chamadas de celular, recurso inexistente na época.

Ar-condicionado

Em dias com temperatura normal, o ar-condicionado manual resfria rapidamente e mantém a temperatura de forma estável. Porém, nos mais quentes, falta maior volume na ventilação para cumprir este trabalho satisfatoriamente.

O Kwid é um carro mais leve do que robusto. Ele se beneficia do baixo peso no desempenho, no conforto de marcha e na economia de combustível.

A direção elétrica é muito leve em manobras, mas a assistência continua excessiva em deslocamento, ou seja, deveria ganhar peso mais progressivamente.

Suas suspensões são rígidas para o seu peso, transferem um pouco as irregularidades do piso para a cabine.

Mesmo assim, a carroceria inclina em curvas, mas o Kwid mantém o controle direcional em uma condução responsável, embora, com frequência, cante os pneus nessas conversões.

Obstáculos

A altura elevada deste conjunto garante desenvoltura sobre obstáculos urbanos. O Kwid passa por lombadas e acessa rampas de garagem sem raspar o assoalho ou os para-choques.

Trafegando por vias esburacadas e mal asfaltadas, suas suspensões não aparentam sofrer com esses pisos precários, acerto ideal para as nossas cidades, rodovias e estradas de terra.

Mesmo tendo o motor simplificado, menos potente do que o do Sandero, o modelo acelera com agilidade. Seu giro sobe muito rapidamente, pois a relação das marchas é curta e elas são bem escalonadas.

O curso da alavanca não é muito longo e os engates não são imprecisos, mas a proximidade entre as posições das marchas dificulta as suas trocas rápidas sem erros na seleção.

Rodando

Este acerto é bom para trafegar em cidades, porém, pouco confortável em estradas. Aos 110 km/h e de quinta marcha, o motor já está girando entre às 3.000 e 3.500 rpm, registradas no impreciso tacômetro.

Essa característica ajuda em manobras de ultrapassagem e, até mesmo, ao usar o freio-motor em reduções. Mas o carro fica “amarrado” ao motor, não desloca por inércia, exigindo uso constante do acelerador.

Por essa condição, e também pela simplicidade do projeto, o Kwid não é silencioso internamente.
Pouco aerodinâmico e carente de materiais fono-absorventes mais robustos, seu conforto acústico é baixo, o esperado nessa categoria.

Consumo

O Kwid é econômico, mas não é o melhor neste quesito. No nosso teste rodoviário padronizado, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e, outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.

Na volta mais lenta, o Kwid Intense registrou 21,7 km/l. Na mais rápida, 18,3 km/l, sempre com gasolina no tanque.

No teste de consumo urbano, rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito.

Nele, o Kwid atingiu a média de 13,8 km/l, também com gasolina. O sistema stop/start, recurso que desliga o motor em semáforos funcionou em todas as paradas, contribuindo com o resultado.

As unidades do Kwid montados em a partir de janeiro de 2024 ganharam equipamentos que não estavam nesta unidade 2023/2024.

Luz de direção nos retrovisores, regulagem de altura do facho dos faróis e botão na tampa do porta-malas para sua abertura elétrica deixaram o modelo mais completo.

Em nossa opinião, as versões de entrada Zen e Intense têm o melhor custo-benefício, pois trazem todos os equipamentos relevantes.

O Kwid Intense Pack Biton e o Outsider são versões que só acrescentam elementos estéticos e por valores consideravelmente mais elevados. São variantes para quem faz questão de um visual mais elaborado, apenas isso.

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