Kwid E-Tech está entre elétricos mais baratos

Amintas Vidal*
A Renault está “ligada” já faz algum tempo. Desde 2015, ela vende o hatch compacto elétrico Zoe E-Tech para empresas nacionais com pegada ecológica. Para as pessoas físicas, desde 2018. Ele foi o primeiro modelo 100% elétrico a desembarcar no Brasil.
Desde abril do ano passado, ainda em pré-venda, ela passou a comercializar o hatch subcompacto elétrico Kwid E-Tech. Atualmente, tabelado a R$149,99 mil (R$7 mil acima do seu preço de lançamento), ele é R$ 4,09 mil mais caro do que o JAC E-JS1, o elétrico mais barato do País, e tem o mesmo preço do CAOA Chery iCar, seus dois principais concorrentes.
Veículos recebeu o Renault Kwid E-Tech (2023) para avaliação. Importado da China, oferecido em versão única e sem opcionais, só existem três cores disponíveis para o modelo.
A cor branca é a básica, inclusa no preço inicial. A prata, cor metálica, custa R$ 1,50 mil a mais no preço da cor básica. Já a cor de lançamento, verde Noronha, homenagem à ilha na qual a marca desenvolve um projeto de veículos elétricos, parece uma tinta sólida, é uma cor metálica e custa o preço de uma pintura perolizada, R$ 3 mil a mais no preço da cor básica.
Os principais equipamentos de série do Kwid E-Tech são: multimídia com Android Auto e Apple CarPlay por cabo; ar-condicionado; direção elétrica; vidros dianteiros e traseiros com comandos elétricos; retrovisores com ajuste elétrico; rack de teto não funcional e capa dos retrovisores pintados em preto brilhante.
Em termos de segurança, o Kwid é um subcompacto bem equipado. Essa variante elétrica, mais ainda.
Os destaques são: seis airbags; controle eletrônico de estabilidade (ESP) com auxílio de partida em rampa (HSA); assistente de frenagem de emergência; freios ABS; monitoramento da pressão dos pneus (TPMS); aviso de cintos desafivelados para todas as posições; sensor de estacionamento traseiro e câmera de marcha à ré; luzes de circulação diurna em LED (DRL); ajuste mecânico interno dos fachos dos faróis e travamento automático das portas aos 6 km/h.
Motor
Segundo a Renault, o motor elétrico desta configuração é exclusivo para o Brasil. Mais potente que o oferecido na Europa, é do tipo síncrono de imãs permanentes e conta com redutor integrado. Ele rende 48 kW, potência equivalente a 65 cv, entre 4.000 e 14.000 rpm. Seu torque é de 113 Nm, força igual a 11,5 kgfm, disponível desde o início do seu funcionamento.
O conjunto de baterias é do tipo NMC (níquel-manganês-cobalto). Ele tem 26,8 kWh brutos, 25 kWh de capacidade líquida. A transmissão tem acionamento elétrico e conta com apenas uma marcha para frente e a marcha à ré.
Em ordem de marcha, o Kwid E-Tech pesa 977 kg, 152 kg a mais do que a versão Outsider na mesma condição. Contudo, a carga útil suportada é 52 kg menor no elétrico, 323 kg. Os dois não são homologados para puxar reboque.
O Kwid E-Tech comporta apenas quatro pessoas. No banco traseiro só existem dois cintos de segurança e dois encostos de cabeça.
Interior
Internamente, tudo igual em espaço e nos materiais de acabamento. Sua cabine oferece boa área para as pernas de quatro adultos, sem sobras.
Ombros e cabeças têm espaço suficiente para o conforto de pessoas de baixa e média estatura. Ocupantes muito altos ou corpulentos ficam desconfortáveis, pois o modelo é estreito e a distância entre o piso e o teto não é das maiores.
Em ambos, faltam ajustes na coluna de direção e de altura dos bancos, mas, a ergonomia é muito boa para um motorista de 1,70 metro, por exemplo.
No Kwid elétrico, parte do painel é cinza, existem alguns detalhes cromados a mais e outros em preto brilhante a menos.
Como no modelo à combustão, todas as superfícies são rígidas, sem nenhuma área macia, nem mesmo nos encostos de braço. As tramas e cores dos revestimentos dos bancos completam as diferenças entre os acabamentos dos dois.

Equipamentos
Seus equipamentos de bordo se equivalem, mas o multimídia do elétrico é um modelo mais antigo. Já substituído pela Renault nos modelos nacionais, é aquele com entrada USB na parte superior, que deixa o fio dependurado. Ao espelhar por cabo, seu sistema é estável e relativamente rápido. A tela é pequena para a atualidade, mas em brilho e sensibilidade ao toque ela está na média do mercado.
O som é muito simples, tem baixa potência e apenas dois alto-falantes. Por estarem posicionados avançados na parte superior do painel, encostados no para-brisa, a emissão sonora é interessante, semelhante ao efeito palco presente em equipamentos mais sofisticados.
O ar-condicionado analógico é eficiente. Em dias com temperatura normal, ele resfria rapidamente e mantém a temperatura de forma estável. Porém, nos mais quentes, falta maior volume na ventilação para cumprir este trabalho no mesmo tempo.
Ter os principais comandos por meio de três botões físicos e giratórios, sendo o central menor, permite operação cega, a mais segura.
Funcionamento
Como em todo carro elétrico, seu funcionamento é silencioso, mas ele emite um som “tecnológico”, tipo disco voador em filmes de ficção, para alertar pedestres quando está em baixa velocidade. Diferentemente da maioria, o Kwid E-Tech não tem chave presencial e nem partida por botão.
Oriundo de um modelo de baixo custo, a Renault manteve muitas das suas características. Para a partida, é necessário girar a chave física no tambor até o limite do curso, como no carro convencional.
O câmbio precisa estar em “N” e o pedal de freio acionado. A tradicional indicação “ready” que aparece em todos os painéis dos eletrificados, foi substituída por um simples “OK”, na usual cor verde.
Como no Kwid nacional, o quadro de instrumentos do elétrico também é digital, mas é muito mais funcional. À esquerda fica o econômetro. Doze raios luminosos e visíveis indicam o nível de regeneração ou de consumo da carga da bateria.
O raio mais destacado entre eles divide essas duas áreas e sinaliza que o gasto e o carregamento se equivalem, que o carro está andando “de graça”. Essas são informações essenciais à boa condução em elétricos.
Ao centro, no display digital, além da velocidade destacada e dos dados do computador de bordo, aparecem a porcentagem da carga e a autonomia média com a mesma. À esquerda, barras luminosas registram essa mesma carga e, letras e ícones, indicam a marcha selecionada e outras informações.
Por falar em marchas, seu seletor é rotativo e conta com apenas três posições: “N” ao centro, “D” ao girar para a direita e “R” para a esquerda. Após acostumarmos, fazemos essa operação de forma cega, pois este é um comando simples e que está bem posicionado.

Dinâmica similar a de um modelo esportivo surpreende
A assistência elétrica da direção do Renault Kwid E-Techdeixa a dirigibilidade dos dois modelos muito parecida. O esterço do volante é leve, tanto em manobras de estacionamento, como em velocidades maiores.
Poderia ficar até mais pesado em estradas, entregando mais segurança, mas o conforto é garantido em qualquer situação. Com o entre-eixos pequeno, e o bom ângulo de esterço, o diâmetro de giro é de apenas 10 metros.
O peso extra do Kwid E-Tech abaixou um pouco o seu centro de gravidade. Por um lado, sua carroceria aderna menos em curvas, entregando comportamento mais neutro.
Por outro, suspensões e estrutura sofrem mais com as irregularidades dos pisos, transferindo mais vibrações para dentro da cabine e torcendo mais do que no modelo convencional. Como é recorrente em projetos de baixo custo, as partes plásticas acusam todas essa vibrações e torções estruturais com rangidos internos. Mesmo assim, a robustez das suspensões entrega relativo conforto e demonstra não sofrer com tamanho esforço.
O acerto da altura deste conjunto garante boa capacidade de transposição de obstáculos como lombadas e rampas, sem deixar raspar os para-choques ou bater o fundo do modelo.
Mas, a grande diferença do Kwid elétrico está na dinâmica. Da imobilidade aos 50 km/h ele é quase um esportivo. Cumpre essa aceleração em apenas 4,1 segundos. Leve para um elétrico, ele é ágil no trânsito e econômico em ambientes urbanos.
Acima dos 80 km/h, o fôlego começa a faltar. Para chegar aos 100 km/h são necessários 13,3 segundos, de acordo com o site da Renault.
Em modo ECO, padrão ativado sempre que se liga o carro, a potência do motor é reduzida para preservar a bateria e sua velocidade é limitada aos 100 km/h.
Rodando em cidades planas, e de forma econômica, é possível atingir, ou até superar, os 298 km de autonomia declarados pela montadora.
Em estradas, a autonomia é menor, principalmente aos 110 km/h, pois é necessário desligar a função ECO. Nesta condição, ele atinge sua velocidade máxima, limitada aos 130 km/h, também visando poupar energia.
Consumo
Normalmente, os modelos 100% elétricos informam o consumo em kWh a cada 100 km. Nós convertemos essas médias para km/kWh, padrão que adotamos nas nossas avaliações.
Em nosso teste padronizado de consumo rodoviário, realizamos duas voltas no percurso de 38,7 km, uma mantendo 90 km/h e, outra, 110 km/h, sempre conduzindo economicamente.
Na volta mais lenta, o Kwid E-Tech registrou 8,6 km/kWh. Na mais rápida, 6,4 km/kWh.
No teste de consumo urbano, rodamos por 25,2 km em velocidades entre 40 e 60 km/h, fazemos 20 paradas simuladas em semáforos com tempos cronometrados entre 5 e 50 segundos e vencemos 152 metros de desnível entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito. Neste teste, o Kwid E-Tech atingiu 10,1 km/ kWh.
Foi interessante observar que o Kwid elétrico é muito sensível às variações da topografia. Nos trechos mais planos deste teste urbano, ele registrou consumos excelentes, próximos á 13,5 km/kWh, média que daria ao modelo uma autonomia de 337 km.
Em cidades planas essa distância pode ser alcançada com apenas uma carga, mas em Belo Horizonte, é impossível.
Considerando os nossos resultados nos testes padronizados de consumo e a carga líquida da bateria, 25 kWh, o Kwid E-Tech 100% carregado percorreria 252,5 km circulando até os 60 km/h em cidades com topografia acidentada.
Rodando por estradas, atingiria 215 km aos 90 km/h e apenas 160 km aos 110 km/h, situação em que o consumo energético registrado no econômetro não sai da faixa vermelha, o menos eficiente possível.

Carregamento
São muitos os tipos de equipamentos que podem ser usados para recarregar o Kwid E-Tech. Ele tem tomadas do tipo 2 para carregamento em corrente alternada e “combo” tipo 2 para sistemas que funcionam em corrente contínua, os mais rápidos. Resumindo, no carregador portátil que vem com o modelo, é possível recuperar a carga total da bateria em 24 horas, se conectado a uma rede de 110V, e em 12 horas, se a rede for de 220V.
Conectado a um “wall box”, vendido à parte, as baterias aceitam carregamento de até 7,4 kWh, levando, aproximadamente, 3 horas para recuperar a carga total.
Nos raros carregadores públicos de alta potência, os únicos que trabalham em corrente contínua, este tempo pode cair para até 40 minutos.
Cálculos
Com grandes diferenças nos preços dos combustíveis e nas tarifas de energia elétrica Brasil afora, para saber as condições necessárias para recuperar o investimento superior no Kwid E-tech em relação ao à combustão, é preciso analisar inúmeras variáveis.
No geral, o valor do km rodado no modelo elétrico é, em média, seis vezes menor do que no Kwid à combustão.
Mesmo assim, um motorista normal, que roda 20 mil km por ano, precisará de mais de dez anos para pagar o investimento adicional.
Somente frotistas e motoristas profissionais levariam menos de três anos para fazer essa compensação, caso rodem acima dos 80 mil km anualmente.
Além das revisões mais baratas, condição inerente aos elétricos, o Kwid E-Tech conta com a ampla rede de concessionárias da Renault, estrutura que a CAOA Chery e a JAC não oferecem.
Outra vantagem do chinês da Renault em relação aos seus concorrentes é compartilhar diversas peças com o modelo nacional, algo que impacta, e muito, no valor e no tempo de reparação.
Não existe carro elétrico barato no Brasil. Entre os menos caros, o Renault Kwid E-Tech é o que entrega as melhores condições de aquisição e manutenção. Para fins profissionais, ou para quem quer iniciar no mundo dos elétricos, ele é uma ótima opção.
*Colaborador
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