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Volkswagen Polo Track é o substituto do Gol

Simplificação da versão 1.0 MPI, com preço sugerido de R$ 84,69 mil, é muito superior ao veterano descontinuado
Volkswagen Polo Track é o substituto do Gol
No site da montadora, seu preço público sugerido é R$ 84,69 mil | Crédito: Amintas Vidal

Amintas Vidal*

Após 42 anos de mercado, 27 como o automóvel mais vendido do Brasil, o Gol saiu de linha em 2022.

Na falta de um novo produto, a Volkswagen simplificou a versão MPI do Polo para criar o Polo Track, variante com status de modelo e a missão de substituir o hatch de entrada da marca enquanto um projeto inédito não chega para ressuscitar o nome Gol.

Apesar de a Volkswagen oferecer o Polo Track como um modelo à parte, suas vendas figuram como se ele fosse uma versão do Polo, hatch reestilizado na linha 2023. A estratégia deu certo.

Em 2022, o Polo registrou apenas 8.193 emplacamentos, a 41ª posição entre os automóveis. No fechamento do 1º semestre de 2023 já foram vendidas 37.722 unidades do modelo, o 2º colocado neste momento, segundo os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Veículos recebeu o Polo Track 2023 para avaliação, mas logo depois, o modelo 2024 foi lançado custando R$ 2,400 mil a mais.

No site da montadora, seu preço público sugerido é R$ 84,69 mil. Este valor só vale para a cor sólida preta. A branca, também sólida, custa R$ 900 a mais no preço e, as metálicas, R$ 1,65 mil a mais no preço.
Essa precificação extra trouxe alguns equipamentos. O kit de som, que era opcional, passou a ser de série. Inexistentes anteriormente, a luz de pisca nos retrovisores externos e a regulagem em altura e distância da coluna de direção foram importantes recursos incorporados.

Os principais equipamentos de série do Polo Track são: rádio com bluetooth; ar-condicionado; direção elétrica; travamento elétrico e remoto das portas, porta-malas e tampa de combustível; vidros dianteiros elétricos; banco do motorista com ajuste em altura e rodas em aço revestidas com calotas e pneus 185/65 R15.

Em termos de segurança, os destaques são: 4 airbags; ABS; controle eletrônico de estabilidade (ESC), controle de tração (ASR) e bloqueio eletrônico do diferencial (EDS); “ assistente para partida em inclinações (Hill Hold Control – HHC); sistema de frenagem automática pós-colisão (Post Collision Brake); aviso de perda de pressão pneus; DRL com lâmpadas de alogênio e alerta de não utilização dos cintos de segurança.

O Interatividade Compostion Touch é o seu novo opcional. Ele acrescenta sistema multimídia que permite espelhamento por cabo ao preço de R$ 650.

Motor e câmbio

Equipando apenas o Polo Track e o MPI, atualmente, o motor EA211 tem três cilindros, 999 cm³, injeção indireta multiponto e é aspirado.

Ele rende 84/77 cv às 6.450 rpm e o torque atinge 10,3/9,6 kgfm às 3.000 rpm, sempre com etanol e gasolina, respectivamente. O câmbio é manual de cinco (5) marchas e a embreagem é monodisco a seco.
Lançado em 2017, essa é a primeira reestilização do Polo. Nela, a Volkswagen reposicionou o modelo.

Ele ganhou atualizações mas, também, sofreu simplificações, pois é o único hatch remanescente da marca e precisa ser competitivo contra os seus concorrentes diretos e os concorrentes dos modelos VW descontinuados: up!, Fox e Gol.

Faróis em full LED e design semelhante ao da reestilização europeia do modelo estão entre as principais atualizações do Polo 2023. Motor turbo menos potente, freio a tambor na traseira e rodas menores são alguns exemplos das simplificações.

Projeto independente desta reestilização, o Polo Track resgata o nome de uma antiga versão aventureira do Gol. Baseado na versão MPI do Polo, a de entrada do modelo, o Polo Track recebeu peças redesenhadas e perdeu equipamentos para ficar mais barato e custar, em seu lançamento, R$ 79,99 mil, valor aproximado ao cobrado pelo do último Gol comercializado.

Design

Seus novos para-choques ficaram ao estilo aventureiro, aumentaram os ângulos de entrada e saída e têm maior área sem pintura, algo que reduz o custo de produção.

Os faróis são exclusivos, têm lâmpadas alógenas e não contam com regulagem em altura do facho.

Também sem pintura, as grades que foram redesenhadas, os retrovisores e as maçanetas externas completam as economias em tinta. O emblema, Polo que é feito em letras individuais cromadas, foi substituído por um simples adesivo Track, outro corte de custos.

Fechando o racionamento externo, os cubos das rodas foram trocados por modelos de quatro parafusos no lugar dos de cinco, obtendo economia na peça em si e na supressão de quatro parafusos por unidade montada do Polo Track.

Interior

Internamente, o Polo Track não tem iluminação nos botões dos vidros elétricos e nem ativação dos mesmos por toque único, recursos disponíveis no MPI.

Não ter alarme e nem a regulagem em altura do cinto do carona, assim como não poder desativar o airbag do passageiro e receber o rádio com bluetooth no lugar do multimídia foram outras economias aplicadas ao modelo.

Mesmo simplificado, o Polo Track ainda é um Polo, modelo muito superior ao Gol. Sua plataforma MQB é uma das melhores existentes e está presente em todo grupo Volkswagen, inclusive em modelos da Audi. Essa base garante segurança e dirigibilidade ao modelo que o Gol jamais teria.

Em 2017, o Polo recebeu 5 estrelas nos testes de colisão do Latin NCAP. Avaliado no protocolo atual, ele alcançou apenas 3 estrelas, pois o modelo 2023 permaneceu com 4 airbags, dois a menos que os exigidos atualmente para um modelo chegar às 5 estrelas.

Isso não significa que ele ficou menos seguro, apenas que não ficou tão seguro quanto o Virtus, pois o sedan recebeu mais dois airbags de cortina na linha 2023 e atingiu 5 estrelas neste teste.

O Gol, que saiu de linha, usava a plataforma do Polo de duas gerações atrás. Com apenas dois airbags, e sem os controles de estabilidade e tração, hoje, ele ficaria com zero estrela.

Segurança

Crédito: Amintas Vidal

Por sinal, entre os concorrentes do Polo, só o Chevrolet Onix poderá superá-lo em segurança, quando for reavaliado.

Todos os outros hatches montados no Brasil não têm estrutura capaz de gabaritar nestes testes, mesmo se receberem seis ou mais airbags.

Ser muito mais seguro que o Gol já seria motivo suficiente para afirmarmos que o Polo Track é um carro superior ao sucedido. Mas ele vai além: é maior, tem ergonomia acertada, conta com alguns equipamentos mais modernos e seu comportamento dinâmico é muito melhor.

Não houve alteração significativa de medidas entre o Polo Track e o MPI. Por ser uma versão aventureira, o Track teve a suspensão elevada em 1,6 cm que, em conjunto com os novos para-choques, melhoraram seus números para o fora de estrada.

Ele tem ângulo de entrada de 17,2°, ângulo de saída de 28,8°, ângulo central de 18,1° e 16,6 cm de altura livre do solo.

Segundo a Volkswagen, o Polo Track tem suspensões tão robustas quanto às do Gol e a mesma capacidade para circular em vias precárias.

Números

Além dessa diferença de altura em relação ao solo, Polo Track e MPI têm os mesmos números. Comparado ao Gol, o Polo Track é maior em quase todas as medidas.

São elas: 4,08 metros de comprimento (187 mm a mais); 2,57 metros de distância entre-eixos (99 mm a mais) e 1,75 metro de largura (95 mm a mais).

Mesmo com a suspensão elevada, o Polo Track é mais baixo que o Gol, pois seu design é mais aerodinâmico. Ele tem 1,47 metro de altura, 4 mm mais baixo do que o Gol.

No porta-malas do Polo Track cabem 300 litros, 37 litros a mais do que no Gol. Mas, por pesar 1.054 kg (45 kg mais pesado do que o antigo modelo), sua carga útil é de 395 kg, 28 kg a menos do que a dele.

Ambos podem rebocar apenas 200 kg em equipamentos, com ou sem freio. O tanque de combustíveis do Polo comporta 52 litros, 3 litros a menos do que no hatch veterano.

Na cabine do Polo Track quatro adultos têm ótimo espaço para cabeças, ombros e pernas. Por ser mais largo do que o Gol, ao centro do banco traseiro um quinto adulto se acomoda bem em trajetos menores. Em viagens, só uma criança vai com conforto.

Ergonomia

A ergonomia acertada se destaca. O motorista fica com pernas e braços alinhados pois banco, volante e pedais estão corretamente centralizados.

As regulagens em altura e distância do volante, e em altura do banco e do cinto de segurança, permitem postura perfeita ao condutor.

Além deste acerto, no Polo é possível deixar este banco mais baixo do que nos modelos concorrentes, garantindo uma posição ao volante mais interativa com a carroceria, até esportiva, se compararmos à maioria dos hatches compactos existentes no mercado.

A direção com assistência elétrica é muito superior à hidráulica do Gol. Ela é muito leve em manobras, ganha peso adequado com o aumento da velocidade e consegue ser bem direta para um sistema elétrico.

Outra vantagem proveniente da largura do Polo são as bitolas maiores. Em relação às do Gol, a distância entre as rodas no eixo dianteiro é 101 mm maior e, no traseiro, 65 mm.

Todo este ganho na área de apoio, somado à rigidez muito superior da plataforma MQB e a uma suspensão mais eficiente, confere ao Polo Track dinâmica muito superior à do Gol. A carga nas molas e amortecedores é mais elevada, deixando o conjunto mais rígido.

Ele garante muito “chão” ao modelo, pois a carroceria quase não aderna e o Polo Track contorna as curvas de forma muito neutra, sem tendência em sair de frente ou de traseira, arrastando-se lateralmente quando levado ao limite da aderência dos pneus, comportamento bem mais seguro.

Confortável e seguro, modelo mostrou desempenho convincente

Apesar de toda essa estabilidade, o Polo Track não é desconfortável. Trabalhando em conjunto às suspensões, os pneus de perfil alto ajudam isolar a cabine das irregularidades do piso e quase sempre conseguem.

Apenas em buracos ou remendos maiores, um baque seco é sentido a bordo. No mais, o sistema funciona em silêncio ou com ruídos abafados, se mais exigido.

A altura maior em relação ao solo e os para-choques redesenhados permitem ao Polo Track superar lombadas e entradas de garagens sem tocar nestes obstáculos.

Um carro com motor 1.0 aspirado nunca é esportivo, mas os motores de três cilindros têm torque mais elevado e em faixa de giro mais baixa do que os de quatro cilindros.

Rodando

Aliando o seu ruído grave de funcionamento ao câmbio manual exemplar da Volkswagen, “pilotar” o Polo Track é muito divertido.

Em subida de serra, o motor mostrou força acima das 2.500 rpm e empurrou o carro até às 6.000 rpm de forma quase linear.

Muito responsivo e estável, o Polo Track contornou curvas com precisão e mostrou ter fôlego para andar além da velocidade permitida, baixa nesses trechos, é certo, mas com um desempenho convincente.

As trocas de marchas são precisas, o curso da alavanca é curto e os batentes firmes, características dos câmbios manuais da marca alemã.

Mas, para ter essa agilidade em velocidades menores, as relações das marchas ficaram curtas, prejudicando o deslocamento em estradas.

Na quinta e última marcha, aos 90 km/h, o motor trabalha às 3.000 rpm, e aos 110 km/h, ele gira quase às 4.000 rpm. Contudo, o Polo Track fica “amarrado” ao motor, isto é, sempre é preciso algum curso no acelerador, pois ele não fica solto para deslocar por inércia.

Em ambas as velocidades, o silêncio a bordo já impressiona. Mesmo com o motor acima dessas rotações, o ruído que invade a cabine não é tão elevado, permitindo conversar em tom normal de voz.

O barulho do arrasto aerodinâmico e do atrito dos pneus também ficam muito contidos, considerando que o Polo Track é um carro de entrada.

Acabamento básico

Assim como era no Gol, os acabamentos internos e os equipamentos de bordo do Polo Track são básicos.
Nele, todos os painéis e peças na cabine são bem injetados e montados, mas tudo em plástico rígido.

Não existem revestimentos macios ao toque além do aplicado aos bancos.

Nestes, dois tecidos diferentes e costuras em linha na cor laranja compõem a cobertura. Em um interior monocromático, apenas algumas variações de tons de cinza, texturas nas superfícies e alguns desenhos geométricos quebram a monotonia.

Pequenos detalhes cromados, partes imitando alumínio fosco e peças em preto brilhante disfarçam a simplicidade interna.

O ar-condicionado analógico é comandado por três botões, sendo o central menor, o que permite operação cega. Em volume de ventilação, tempo de resfriamento e manutenção da temperatura o sistema é bem eficiente.

Se as saídas centrais do painel frontal fossem mais amplas, ele seria menos ruidoso. Caso houvessem saídas traseiras, o tempo de resfriamento seria ainda melhor.

A qualidade do som é baixa, assim como é simples o equipamento, mas ele oferece bluetooth, rádio e entradas USB e SD Card.

Nele, alguns sistemas do carro podem ser comandados, como a desativação do controle de tração e a verificação da calibragem dos pneus. Os instrumentos do painel são analógicos, bem dimensionados e seus números, ponteiros e frações, são bem visíveis.

A tela digital posicionada entre eles apresenta o computador de bordo que, apesar de mostrar dados únicos, tem três páginas para cada tipo de informação e dimensão correta dos dígitos.

Consumo

Dessa vez avaliamos o consumo do Polo Track em viagem para o litoral Fluminense.

Circulando sempre com etanol, obtivemos boas médias de consumo, na ida e na volta, aferidas apenas nos trechos de estrada, excluindo a saída e as chega às cidades.

Dirigindo de forma econômica, apenas o motorista e pouca bagagem, no sentido ao litoral, descendo, o consumo foi de 15,2 km/l em um trajeto de 516 km.

Surpreendentemente na volta, subindo, e nas mesmas condições e trajeto, o consumo ficou em 14,8 km/l.
Robusto, valorizado no mercado de usados e relativamente barato de manter, o Gol fez muito sucesso com os brasileiros.

O Polo Track pode não substituí-lo nestes quesitos à altura, mas em segurança, dinâmica e ergonomia, virtudes muito mais importantes em um carro, ele está no mesmo patamar dos hatches europeus e muito acima do Gol e de outros projetos desenvolvidos para o Brasil e outros países emergentes.

*Colaborador

Rádio Itatiaia

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