Política

Motes petistas

Carlos Perktold*

Quando os petistas fervorosos foram surpreendidos com o Mensalão e, depois, com o Petrolão, houve um mote frequente entre seus integrantes e que, aos seus olhos, justificavam os dois escândalos financeiros: “O PT não inventou a corrupção”. Ouvi isso dezenas de vezes. O PT não inventou a corrupção, é verdade, mas prometeu desde o início de sua fundação que, quando estivesse no poder, tudo seria diferente do que havia sido no passado político brasileiro. Por diferente, queriam dizer que não haveria corrupção e a esquerda no poder seria exemplo de honestidade nunca vista antes no País. Desconhecendo a história, a profundidade política dos fatos e as quantias desaparecidas nos dois escândalos, a maioria dos eleitores brasileiros acreditou neles nas últimas quatro eleições. Isto acabou. Ninguém acredita mais. Cansaram de tanta mentira, daí a faxina partidária no Brasil. Além disso, cite um único país no mundo no qual a esquerda foi eleita ou tomou o poder na revolução e não foi corrupta.

Agora que a direita está em vias de ser eleita para a Presidência, surpreende-se ouvir o novo mote petista: não votar no PT significa que “você é fascista”, como se somente houvesse essas duas opções na vida política. Os dois motes são disseminados pelos paroquianos de uma igreja que, bem organizada e hierarquicamente obediente, cumpre as ordens do Ser Supremo e repetem ad nausem o novo slogan. A maioria dos seus acólitos desconhece o que é fascismo e atribui-lo a todos que votam no candidato da direita, é imaginar que 60%, 70% dos eleitores brasileiros rezam nesta cartilha. Também não é verdade.

A preocupação neste momento é saber se a esquerda aceitará o resultado das urnas. Pelo andar do realejo, a derrota “será feia” como disse o senador eleito Cid Gomes, em uma tentativa de abrir os olhos de seus companheiros e fazê-los ver que houve, sim, muitos e muitos erros nas administrações petistas e cujo resultado é a crise que vivemos há alguns anos. Assim como em sessões psicanalíticas, esse pequeno microcosmo individual, o reconhecimento de que as dificuldades pessoais vêm das próprias decisões de cada um e somente esse reconhecimento nos leva a um novo mundo psíquico, assim também deverá ser o futuro macrocosmo petista ao reconhecer seus erros e fazer um mea culpa pública, acompanhado de pedidos de desculpas e declarações firmes de que os ideais partidários serão recuperados e cumpridos de hoje em diante.

Stela, cinco filhos, já citada em outro texto nesta página, tem esperanças de melhora com a direita no poder e nem de longe pode ser acusada de fascista. “Pelo menos espero ter de volta meus clientes de cozinha e faxina”. Ela alega que acreditou em tudo dito pelos governos petistas, comprou apartamento de “Minha casa, minha vida”, cujo prédio está dominado pelo tráfico de drogas, aceitou outros financiamentos e somente percebeu que não teria mais dinheiro para liquidar suas dívidas quando seus clientes de classe média, aquela odiada pela filósofa Marilena Chauí, também com menos dinheiro, parou de contratá-la duas vezes por semana. Com pouco trabalho, sem dinheiro e cheia de dívidas, Stela não quer mais saber de PT. Ela aprendeu que dinheiro não nasce no asfalto ou em árvores e nem vem do governo. Ele nasce do investimento e trabalho, gerando empregos, riquezas e serviços juntos com pagamentos de impostos, caso contrário, o País para e o desemprego anda depressa.

* Psicanalista, advogado e escritor

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