Economia

Crise argentina prejudica acerto de acordo entre blocos

Rio de Janeiro – A crise econômica na Argentina está dificultando a conclusão das negociações que se arrastam há cerca de duas décadas entre Mercosul e União Europeia (UE), afirmou uma fonte do governo brasileiro próxima das discussões. Além disso, a instabilidade argentina é uma barreira praticamente intransponível para a criação de um regime de livre comércio com o Brasil no setor automotivo a partir de 2020, disse a fonte, que pediu anonimato. Uma reunião entre representantes do Mercosul para tratar do acordo com os europeus está marcada para o fim deste mês, em Brasília, e a expectativa é de que uma rodada contando com a presença de negociadores da UE possa ocorrer no mês que vem, no Uruguai. Para interlocutores brasileiros, um acordo entre UE e Mercosul nunca esteve tão próximo, dados os avanços obtidos em reuniões técnicas dos dois blocos sobre temas ligados a produtos agrícolas, destaques da pauta exportadora sul-americana, e produtos industriais, principais produtos dos europeus. Mas a fragilidade econômica da Argentina, que enfrenta forte desvalorização cambial, além de um crise institucional, com escândalos de corrupção envolvendo integrantes de governos anteriores e do Congresso local, estão desestabilizando as negociações. “Ficou mais difícil fechar um acordo (com a Argentina e UE) nessa situação”, disse a fonte. “Não ficou inviável, mas mais complicado”, adicionou a fonte. Novo prazo – Representantes do governo brasileiro apostavam que agosto seria um prazo limite para um acordo entre os blocos comerciais, mas diante das dificuldades da Argentina e da necessidade de vontade política de ambos os lados, essa data não será mais cumprida. Além do comércio automotivo, na pauta das tratativas estão discussões geográficas, definição do critério de origem dos produtos e transporte marítimo das mercadorias que serão transacionadas pelas partes. Mesmo que um acordo possa ser fechado este ano e um acerto político seja feito em seguida, a redação técnica do pacto comercial entre os blocos ainda levará alguns meses. O texto do acordo ficaria para ser aprovado no Brasil pelo próximo Congresso que será formado a partir das eleições deste ano. “Faltam poucos pontos de convergência com a posição da Europa, mas, diante desse cenário da Argentina, ficou mais complicado”, explicou a fonte. Na questão automotiva, os europeus estão irredutíveis em sua posição. O nó da negociação está na definição de partes e peças de um automóvel e percentual de origem desses produtos intra e extra blocos. “Pela situação da Argentina, pode parecer que estamos (Mercosul) precisando mais de um acordo que eles (UE). Eles se prenderam em suas posições e não estão flexíveis, mas querem que a gente flexibilize, por exemplo, no setor agrícola”, contou a fonte. Brasil-Argentina – A crise no país vizinho também inviabilizou o fechamento de um acordo para a criação de uma zona de livre comércio entre Brasil e Argentina no setor automotivo. O acordo atual, com regras e parâmetros para a exportação de veículos entre os países, vence em 2020. Nos últimos anos, criou-se a expectativa de que um acordo de livre comércio poderia ser discutido e selado, mas, segundo a fonte, não será em 2020 que ele vai poder se concretizar. “Tem que ser claro: só vamos para livre comércio quando a Argentina tiver condição de cumprir esse acordo direito”, afirmou a fonte. “É melhor fazer em fases e reequilibrando acordo a acordo, dando conforto. Enquanto a Argentina não tiver condição estrutural e econômica, não dá para fazer”, acrescentou. A Argentina é o principal destino de exportações brasileiras de veículos e autopeças. No início do ano, 75% das vendas externas do Brasil no setor foram para o país vizinho, um volume de 253 mil veículos, afirmou a associação de montadoras Anfavea em maio. De lá pra cá, após a Argentina elevar os juros no país para 45%, os embarques caíram e obrigaram a Anfavea a rever suas estimativas para o ano.

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