Política

O crime da mãe e do filho da mãe

O crime da mãe e do filho da mãe
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Verdadeiramente, a política nacional precisa assumir postura outra, uma em que as brigas se deem com projeção dalguma vitória porque o que se assiste, cotidianamente, são contendas e debates que se estabelecem a respeito de nada, para nada aferirem, senão algum dividendo político entre os que se convencem, sob o jugo da passionalidade, com garantia de mídia à histeria, de torcer pelo mais forte, mesmo que ante a força bruta percamos todos. Sobre a largueza do mirante, o ponto de vista que se inscreve sugere, por exemplo, que enfrentemos o aborto social a despeito do aborto propriamente dito se, efetivamente, entendermos de lutar pela vida da criança.

É absolutamente necessário que a sensibilidade moral se distenda à compreensão de que a vida não é, simplesmente, condição fisiológica de sobrevivência, mas a ela estão adstritos outros direitos, sejam honra, saúde, integridade física, educação (…), ainda demandando a criança todo afeto do mundo, mas isso acaso as subjetividades que dela cuidam se disponham a dar-lhe – nenhuma garantia. De fato, é preciso, muito preciso que pedras não sejam arremessadas sobre quaisquer Marias Madalenas, sob pena de a hipocrisia obstaculizar o éthos, enquanto “mundo que habitamos”, “nossa morada comum”, impedindo o constrangimento de pecados que cometemos todos, antecipadamente absolvidos ante o que Deus abjeta e aquelazinha intenta cometer a Seu arrepio. Ora, seria o sentimento louvável se a luta contra o aborto fosse mesmo pela vida da criança. Mas, o que se tem, concretamente, é uma briga inglória, uma briga pela briga, sem vitória ou conquista, porque não é pela criança que se embate, mas pela própria moralidade religiosa ou pela própria consciência de certo e errado e de justo e injusto porque, no dia seguinte a seu nascimento com vida, todos os que combateram por ela, simplesmente, desaparecem.

Na verdade, brigaram por si mesmos enquanto perdia a criança que permaneceu perdida entre aqueles campeões do nada.

Seria risível, não fosse dramático este ridículo moral que se cumpre sem constrição, potencializando, a partir de estilingues intelectivos, o alcance das mesmas pedras que biblicamente nos avexaram, mas que agora podem ser lançadas donde queiramos, essa virtualidade espiritual sem responsabilidade social. Ora, afeto a feto se deu, nasceu vivo. Ao menino, nada. Aborto é crime de mãe. Aborto social, do filho da mãe.

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Feito o diagnóstico, uma sugestão profilática objetiva de necessidade imediata para uma luta com vitória: desenvolver leite em pó que substitua o leite materno já que o importamos e o disponibilizamos a preço impopular – universidades, institutos de pesquisa e laticínios, fundações de fomento à pesquisa, empresas privadas, todos ou alguém -, de modo que, os nascidos vivos, porque quem lutamos, possam continuar vivos, pelo menos a partir da efetividade do direito à segurança alimentar dado que, por ora, são alimentados com chá e gelatina, como se dá na maioria dos abrigos, pelo enfrentamento de cólicas lancinantes que lhes imputam as vacas. Que país é esse 4º “top do leite”? Campeão…

Maria Inês Chaves de Andrade
Vice-Presidente da ONG “O Proação”

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