Livros contam a história de Cícero Ferreira

Acontece nesta segunda-feira, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o lançamento da biografia do fundador da Faculdade de Medicina de Minas Gerais, Cícero Ferreira. A obra, em três volumes, já disponível nas livrarias, é de autoria do jornalista e historiador Mário Lara. A pesquisa, que durou 2,5 anos, percorreu arquivos de várias cidades como São João del-Rei e Tiradentes (Campo das Vertentes), Belo Horizonte, Rio de Janeiro, além dos guardados da família. O livro vai atrás das origens do médico, com a chegada da família à antiga comarca do Rio das Mortes, onde hoje estão localizadas as cidades de São João del-Rei, Tiradentes e arredores, ainda no século 18. “Naquela época, Vila Rica passou por uma grave crise de desabastecimento e o Rio das Mortes se tornou um importante fornecedor, fazendo florescer a sua economia. A partir disso começou a atrair muitos imigrantes, inclusive os antepassados da família Ferreira. Para mim era importante conhecer todo esse contexto para entender a personalidade de Cícero Ferreira, um homem que foi muito mais que um médico em Belo Horizonte”, afirma Lara, já antecipando os múltiplos interesses do seu personagem. Ainda nesse primeiro volume, “Ancestralidade – O alvorecer da medicina em Minas Gerais”, o autor busca os primeiros procedimentos médicos realizados pelos cirurgiões-dentistas que atendiam senhores e escravos em uma terra marcada pela escravidão, a ausência de recursos e pouca atuação da Coroa. O segundo livro, “Contemporaneidade – A carreira do apóstolo Cícero” – começa com o patriarca da família Ferreira Rodrigues – José Ferreira Rodrigues – morando no arraial de Bichinho, próximo à Vila de São José del-Rei, hoje Tiradentes, até chegar ao seu neto, Francisco Ferreira Rodrigues Júnior, pai de Cícero Ferreira, já no Arraial de Bom Sucesso. Ali vive o menino até se transferir para Ouro Preto para estudar e seguir para fazer a Faculdade de Direito no Rio de Janeiro, em 1880. A primeira experiência como médico foi em um pequeno povoado na Zona da Mata. “Com suspeita de tuberculose ele se mudou para a Cidade de Minas – hoje Belo Horizonte – que estava em construção e já era conhecida pelos bons ares. No primeiro momento foi trabalhar com Aarão Reis não como médico, mas como fotógrafo. No ano seguinte foi nomeado médico da Comissão de Construção da Nova Capital (CCNC), iniciando uma vida incrível de empreendedorismo em diversas áreas, sempre preocupado com o bem-estar das pessoas”, relembra o autor. No último livro, “O legado – A vida e obra do grande empreendedor”, relata a vida do primeiro médico da nova capital de Minas e como chefe da Seção de Higiene da Prefeitura. Entre estudos sobre novos temas como saneamento, assistência à infância, assistência ao sepultamento de corpos, entre outros, a maior obra de Ferreira foi a construção da Escola de Medicina. Até então, os estudantes mineiros tinham que se descolocar para o Rio de Janeiro ou Salvador para se tornarem médicos. A Faculdade, criada em 1911, era um dos sonhos dos inconfidentes já na década de 1780. “A construção da faculdade foi uma grande batalha. Os jornais cariocas faziam campanha contra e foi preciso buscar apoio para que a obra começasse. Até mesmo em Minas havia desconfiança sobre o projeto. Um dos principais entusiasta foi Miguel Couto – já médico famoso – que tinha sido colega de faculdade de Cícero Ferreira”, relembra o escritor.