Ameaça a Wyllys deve ser apurada

Brasília – O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou na sexta-feira (25) que é preciso aguardar as investigações das ameaças que envolvem o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), que na última quinta-feira anunciou que não vai assumir o mandato para o qual foi reeleito, mas destacou que ameaças a parlamentares são crimes contra a democracia.
“Quem ameaça parlamentar está cometendo um crime contra a democracia porque uma das coisas que é mais importante é você ter a sua opinião e poder expressar a sua opinião”, disse Mourão, após se reunir com o presidente Jair Bolsonaro, que chegou na madrugada de sexta-feira da sua primeira viagem internacional, a Davos, na Suíça, por ocasião do Fórum Econômico Mundial.
“Os parlamentares estão ali eleitos pelo voto e representam os cidadãos que votaram nele. Quer você goste, quer você não goste, você ouve. Se gostou, bate palmas, se não gostou, paciência”, ressaltou.
O vice-presidente disse que é preciso aguardar quais foram essas ameaças contra Jean Wyllys, porque o parlamentar teria se referido a elas de forma genérica. “Quando a gente diz que está ameaçado, tem que dizer por quem, como. Vamos aguardar”, afirmou.
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Questionado se considera correta a decisão do deputado de não assumir o mandato e viver fora do país, Mourão respondeu: “Não sei, não estou na chuteira do Jean Wyllys. Ele que sabe o grau de confusão em que está metido.”
Jean Wyllys anunciou na última quinta-feira que não tomará posse para um novo mandato em fevereiro, apesar de ter sido reeleito em outubro, por causa de ameaças de morte que diz ter sofrido recentemente.
Embates – Wyllys, que tem histórico de duros embates com o presidente Jair Bolsonaro quando ele também era deputado, fez o anúncio em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, cujo teor foi confirmado pela equipe de gabinete do parlamentar do Psol. Ele também publicou em sua conta no Twitter que preservar uma vida ameaçada também é uma forma de luta. O parlamentar disse ao jornal que deixará o Brasil.
“Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!”, escreveu o deputado em sua conta no Twitter.
Wyllys, primeiro parlamentar abertamente gay do Brasil e defensor das causas LGBT, disse à Folha que tem sido acompanhado de escolta policial por conta das ameaças que sofre e também reclamou de ser alvo de notícias falsas divulgadas na internet.
Ao jornal, ele também se referiu a Bolsonaro como “o presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim”. “Esse ambiente não é seguro para mim”, disse o parlamentar.
Wyllys e Bolsonaro tiveram vários entreveros com direito a troca de ofensas mútuas. O parlamentar chegou a cuspir no hoje presidente durante a votação do impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Posteriormente ele alegou que reagiu a uma ofensa dirigida a ele por Bolsonaro.
Wyllys será substituído pelo vereador do Rio de Janeiro David Miranda, também gay assumido e casado com o jornalista Glenn Grenwald, responsável pela revelação do escândalo de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) vazado por Edward Snowden.
Reunião – Mourão disse ter participado de uma reunião muito boa com Bolsonaro, sem dar detalhes do que foi tratado. Relatou apenas que o presidente deve ir para São Paulo neste domingo às 8 horas — ele vai passar por uma cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia –, deve ficar dois dias incomunicável e depois já estará despachando.
Mourão disse que deve assumir como presidente em exercício na segunda e na terça-feiras. Aliás, ele vai comandar a reunião de ministros com integrantes do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre governança. Ele afirmou que Bolsonaro ainda não decidiu sobre como será a reforma da Previdência dos militares. (Reuters)
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