Usina de Retiro Baixo deve paralisar operações
São Paulo – A hidrelétrica de Retiro Baixo, no rio Paraopeba, informou que deve paralisar as operações hoje, após o rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) na semana passada ter gerado um turbilhão de lama que poluiu o manancial e deixou mortos e desaparecidos.
Uma onda de água turva com sedimentos gerada após o incidente tem avançado pelo rio e poderá alcançar a usina na próxima semana, entre 5 e 10 de fevereiro, de acordo com um boletim do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) nesta segunda-feira.
A Retiro Baixo Energética, que tem como principais sócios Furnas, da Eletrobras, e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), disse que a parada da usina tem como objetivo “proteger seus equipamentos” e que na ocasião também realizará manobras para fechar suas tomadas d’água.
A usina chegou a ser desligada logo após o incidente, mas retornou à operação no sábado, devido a um deslocamento mais lento que o previsto da lama pelo rio, afirmou a empresa.
A água com rejeitos de minério de ferro pode causar graves danos às turbinas, o que justifica a parada em Retiro Baixo.
Três Marias – A operação é importante também para reduzir riscos de danos à hidrelétrica Três Marias, da Cemig, no rio São Francisco, do qual o Paraopeba é afluente, disse à Reuters o engenheiro civil Carlos Goyano, especialista em projetos hidrelétricos.
“A usina (Retiro Baixo) vai ter que ficar inoperante. Vai inutilizar a usina. Também não pode abrir o vertedouro (para a passagem da água) porque vai contaminar a jusante (no sentido da correnteza). Vai fechar tudo e virar só uma barragem, um prejuízo enorme”, afirmou ele, que já trabalhou em empresas de projetos como Engevix e Enge-Rio.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a usina de Retiro Baixo deve usar seu reservatório para “amortecimento da onda de rejeitos, a depender da operação da usina”. Em nota, a agência acrescentou que “está se avaliando, ainda, se a onda de rejeitos alcançará o reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias”, que fica a 30 quilômetros de distância.
Procurada para comentar a situação de Três Marias, a Cemig disse que “está acompanhando o fluxo da pluma de segmentos”.
Em entrevista ontem, o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, disse que a companhia está tomando medidas para bloquear o fluxo de lama, como a instalação de uma membrana na altura do município de Pará de Minas, na região Central, para evitar que haja interrupção da captação de água nas cidades a jusante do rio Paraopeba. Ele não comentou sobre a situação das hidrelétricas.
Candonga – As consequências do desastre para o setor de energia lembram, em menores proporções, o caso da hidrelétrica de Candonga, no rio Doce, que foi invadida em 2015 por rejeitos de mineração após um rompimento de barragem da Samarco, mineradora da qual a Vale é sócia junto à anglo-australiana BHP.
A usina de Candonga, que está parada até hoje, tem como sócios a própria Vale e a Cemig, por meio da Aliança Geração.
Se a capacidade do reservatório de Retiro Baixo para segurar o fluxo for esgotada, a água poderia ser liberada posteriormente para seguir a caminho de Três Marias, mas com potencial de danos já menor, segundo Goyano.
“Acho que em Três Marias, mesmo que chegue, o reservatório lá é muito grande, aí não teria tanto impacto. Aí talvez já tenha (a água) absorvido bastante o ferro e aí o prejuízo é menor”, acrescentou ele, ressaltando que ainda assim poderia haver danos às máquinas.
“Trabalhei mais de 40 anos nessa área e nunca tinha visto essas situações (como em Candonga e agora em Retiro Baixo)”, destacou o engenheiro. Procurada, a Aliança não respondeu pedidos de comentário sobre a situação da usina de Candonga.
De acordo com o boletim da CPRM, o fluxo de água turva chegaria à usina de Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro se mantida a atual velocidade de deslocamento. (Reuters)
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