[EDITORIAL] Barreiras ainda são ineficazes
A corrupção na esfera pública, assunto bastante antigo em nosso País, ganhou, nos últimos anos, destaque e atenção, acompanhados de sinais claros de que a maioria da população não aceita mais conviver com as diversas formas de desvios que, como regra, enche os bolsos de agentes públicos. Tal disposição costuma ser apontada como um dos elementos que favoreceram a vitória do presidente Jair Bolsonaro e daqueles que, ao seu lado, prometiam fazer do combate à corrupção o centro de suas atenções e de seus compromissos. Também parece ter ficado evidente, nos fatos que vieram a lume nos últimos anos, que os desvios de recursos, não importa a sua forma, ou recheavam os bolsos dos corruptos ou alimentava partidos políticos e suas campanhas, numa troca de favores cujas consequências são hoje amplamente conhecidas.
Foi nesse contexto, e com supostas boas intenções, que se optou pela proibição de financiamentos particulares a partidos, campanhas ou políticos, o que foi entendido como medida profilática capaz de fazer cessar os desvios, então transformados em rotina, e que geravam também as tais “sobras de campanha” de destino quase sempre incerto e altamente duvidoso. Sem o dinheiro de empresas particulares, sinônimo também, quase sempre, de tráfico de influência, foram estabelecidas as novas regras de financiamento público de campanhas, que vigoraram nas eleições passadas. Dinheiro público, dinheiro, portanto, saído dos bolsos de cada contribuinte, mas capaz, pelo menos, de realizar a tão desejada profilaxia, já que as verbas seriam divididas proporcionalmente entre os partidos, que por sua vez bancariam as campanhas de seus candidatos.
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Mais uma vez, para desilusão talvez dos mais crédulos, a diferença entre o desejável e o acontecido foi grande e não foi preciso muito tempo para que se percebesse como partidos políticos e candidatos – nem todos é de se supor – se adaptaram aos novos tempos e com assustadora agilidade.
Simplesmente inventaram o que seriam “candidatos laranja”, cuja única função aparente era receber verbas e transferi-las, mediante variados artifícios, aos escalões mais altos de seus respectivos partidos. Se tanta criatividade e agilidade fossem usadas para bons propósitos certamente o País estaria, hoje, em condições melhores.
Diante do acontecido ou, por enquanto, das fortes evidências de que aconteceu, o importante é chegar à verdade e aos responsáveis pelas ilicitudes. É só o que podem esperar todos aqueles que acreditavam, ou ainda acreditam, que o País seria, finalmente, passado a limpo, restaurada a ética e os bons costumes na política.
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