Atividade exige mais do que um bom produto

ANDREA ROCHA*
Uma das maiores preocupações de um futuro empreendedor é compreender bem as normas do setor, incluindo a carga tributária, e escolher o modelo de negócios compatível com o investimento, objetivos, mercado consumidor.
Para ajudar o iniciante nessa jornada rumo à cervejaria artesanal, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) oferece informações básicas em manuais, promove seminários e também presta consultoria por telefone e presencial para quem quer começar com os pés no chão.
A preocupação com a capacitação é justificada, principalmente no segmento cervejeiro. Na avaliação do consultor do Sebrae Minas, Diogo Reis, é preciso ter muito cuidado com a “vaidade”, ou seja, essa atividade, que começa com uma paixão, exige muito mais do que a oferta de um bom produto. “Esse mercado é bem mais complexo”, alerta.
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As exigências começam pela concessão dos alvarás, pelos municípios e seguem pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), responsável pelo registro e fiscalização dos empreendimentos.
“Existe um mito de que é difícil regularizar uma cervejaria. Mas é um setor de alimentos, não se pode afrouxar a legislação, que prima pelas boas práticas”, defende.
Para ele, esse é apenas um momento da trajetória do empreendedor, que precisa planejar e ter um bom plano de negócios. “Uma coisa é ser legal, outra coisa é ganhar dinheiro”, resume.
Por isso mesmo, Reis compreende as restrições do Mapa ao microempreendedor individual no mercado de cervejas artesanais.
“É inviável economicamente, ele não conseguiria atender às regras e se manter nesse mercado competitivo”, explica.
Há duas modalidades de empresas permitidas no segmento das cervejarias artesanais. As sociedades limitadas, que exigem pelo menos um sócio, e as Eireles, que demandam aportes iniciais de 100 salários mínimos.
No entanto, embora esse segmento não esteja aberto aos produtores caseiros ou aos que têm menos poder aquisitivo, Reis considera muito positiva a possibilidade de adesão ao Simples Nacional, cuja alíquota inicial gira em torno de 4,5%.
As micro e pequenas cervejarias foram incluídas no regime tributário do Simples Nacional em outubro de 2016 , quando foi sancionada a Lei Complementar nº 155, para desburocratizar a comercialização de cerveja. As novas regras passaram a vigorar a partir de 2018, o que, para Reis, tem contribuído para o crescimento desse mercado.
Métricas – Segundo a lei, para ser considerada uma pequena empresa e ser enquadrada no Simples Nacional, o faturamento não pode ultrapassar R$ 4,8 milhões por ano.
O principal benefício tributário da inclusão das cervejarias no Simples Nacional ocorre nas vendas diretas da fábrica para o consumidor, sem a Substituição Tributária (ICMS-ST). O que tem sido considerada uma grande vantagem para as cervejarias que promovem venda direta na fábrica como, por exemplo, o brewpub (bar onde é servida a cerveja produzida no local); barris de chope, garrafas e enchimento de growlers (vasilhames para levar cerveja para casa) ou em participação em eventos.
Essas variáveis custos, investimentos, tributos e mercados consumidores são contempladas nos seminários realizados pelo Sebrae Minas em algumas regiões do Estado, tendo como foco a seguinte questão: “Como transformar sua paixão cervejeira em negócio?
Nesse seminário são apresentados os modelos produtivos: fábrica própria, cigano (quando o empreendedor terceiriza a produção) e brewpub, onde é feita a venda direta para o consumidor. Para cada um desses modelos há um investimento mínimo, um mercado próprio, e diferentes níveis de padronização, explica Reis. A escolha, nesse caso, vai depender do volume de recursos que o empreendedor tem para investir, a logística e o mercado consumidor.
No caso de fabricação própria, por exemplo, o investimento é mais alto, mas, em compensação, há maiores ganhos em escala e padronização. Na escolha do formato cigano, o investimento é bem menor, mas o nível de padronização diminui e o ganho em escala é limitado. Já no caso do brewpub, o investimento não é pequeno, há padronização, mas não há ganho em escala. São variáveis com as quais devem contar o futuro empreendedor.
A título de exemplo, um brewpub, com produção mensal de 4 mil litros e custo médio de R$ 25/litro, demandaria um investimento médio de R$ 600 mil, com lucro mensal de R$ 30 mil. Já no modelo fábrica própria, o investimento mínimo seria da ordem de R$ 2 milhões para produção mensal de 20 mil litros ao preço médio de R$ 15/litro, com a cerveja direcionada para redes de supermercados e distribuidores.
Segundo Reis, há muitas variáveis nesse mercado, o que exige muita atenção para o tipo de produto ofertado e os canais de venda. No caso do chope, por exemplo, que é uma cerveja mais fresca, o ideal é que seja comercializado diretamente para o consumidor. No caso das garrafas, o indicado já seriam as redes de supermercados, empórios e lojas especializadas.
Justamente em virtude da complexidade do negócio, Reis recomenda ao futuro empreendedor que busque o máximo de informações sobre esse mercado antes de se arriscar no empreendimento. Um dos caminhos é participar dos seminários oferecidos pelo Sebrae Minas. Para isso, basta entrar em contato com a entidade, em suas regionais, e solicitar a realização do evento. Caso haja a possibilidade de formação de um grupo, o seminário é promovido para atendimento dos empreendedores dos municípios de determinada região, como ocorreu em Sete Lagoas, em março deste ano.
*Colaboradora
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