Bolsonaro não descarta trocar Luna

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro afirmou que “existe a possibilidade” de substituição do atual presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, em meio às crescentes críticas do chefe do Executivo contra a estatal devido aos aumentos dos preços dos combustíveis.
“Existe essa possibilidade”, respondeu Bolsonaro ao ser questionado sobre uma possível troca no comando da Petrobras em entrevista à TV Ponta Negra, do Rio Grande do Norte, exibida ontem.
“Todo mundo no governo – ministros, secretários, diretores de empresas, presidentes de estatais – pode ser substituído se não estiver fazendo o trabalho a contento. Então não quer dizer que vai ser trocado ou que não vai ser trocado. Eu só não posso trocar o vice-presidente da República, o resto todos podem ser trocados, obviamente por motivo de produtividade, motivo de falha ou omissão no respectivo serviço”, acrescentou.
Os preços dos combustíveis da Petrobras são, de forma recorrente, alvo de críticas de Bolsonaro, uma vez que as altas geram inflação e insatisfação na população e em importante eleitorado do presidente, os caminhoneiros.
De outro lado, a gestão de Luna entregou um lucro recorde da Petrobras de R$ 106,7 bilhões em 2021, principalmente devido ao avanço de 77% do preço do barril do petróleo no período e valores mais altos dos combustíveis.
Bolsonaro chegou a dizer anteriormente que a Petrobras poderia ter um lucro menor, se não seguisse sua política de paridade de preços em relação às cotações internacionais.
O lucro de 2021 permitiu, contudo, que a companhia anunciasse pagamento de dividendos também recordes de R$ 101,4 bilhões referentes ao exercício de 2021, o que acaba engordando o caixa da União, a principal acionista da empresa.
Apesar da declaração de Bolsonaro sobre uma possível troca do presidente da Petrobras, Luna ainda tem mandato até 2023. Mas o governo tem maioria no conselho de administração se Bolsonaro decidir sobre o assunto.
Procurada pela Reuters, a Petrobras não retornou de imediato a pedido de comentário sobre a declaração do presidente.
Privatização – Bolsonaro voltou a criticar a Petrobras pelo aumento dos combustíveis anunciado na semana passada, quando a estatal reajustou o diesel em 24,9% e a gasolina, em 18,8%.
Em trecho da mesma entrevista exibido na terça-feira, o presidente disse que “a gente está esperando, inclusive, ter um retorno da Petrobras para rever esses preços que foram absurdamente majorados na semana passada”.
Na íntegra da entrevista, exibida ontem, o presidente voltou a falar da privatização da estatal.
“Não tenho poderes sobre a Petrobras, para mim é uma empresa que poderia ser privatizada hoje, ficaria livre desse problema”, disse Bolsonaro.
“A Petrobras se transformou na Petrobras Futebol Clube, onde o clubinho lá dentro só pensa nele, jamais pensam no Brasil”, acrescentou.
Não é a primeira vez que o presidente fala sobre a privatização da petrolífera. Ele já chegou até a dizer que a empresa fosse fatiada para então ser vendida.
Base aliada discute subsídios para combustíveis
Brasília – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou ontem que a base do governo discute subsídios específicos para atender determinadas categorias e setores, aproveitando para reforçar a tese de que a guerra na Ucrânia poderia justificar uma exceção no Orçamento.
O deputado relatou ainda que projeto aprovado na última semana pelo Senado que cria uma conta de compensação para as variações dos preços dos combustíveis está “fora do radar” na Câmara. A Casa já aprovou na mesma semana um outro projeto aprovado pelos senadores que altera as regras de cobrança do ICMS sobre combustíveis.
“A base está discutindo essa questão, principalmente no que pertine a fazer um subsídio dirigido”, disse Lira a jornalistas, considerando “falta de sensibilidade” a possibilidade de se levantar a inelegibilidade de quem aprovar subsídios, citando categorias como taxistas, motoboys, motoristas de Uber e caminhoneiros como eventuais beneficiários.
“O que tem aqui é o PLP votado. É o projeto do Senado, são os subsídios para os setores”, afirmou, questionado sobre outras iniciativas legislativas que possam abordar o ICMS sobre a gasolina.
“Setorizados, com impacto menor para a economia e com a exceção clara que temos uma guerra em curso. Então, se isso não é uma excepcionalidade, eu não sei o que será mais. Nós fizemos aqui uma PEC de guerra para liberar o Orçamento com a pandemia. Nós estamos num momento agora com a guerra em andamento.”
Ao criticar eventual concessão de um subsídio mais geral, o presidente da Câmara lembrou da necessidade de se manter a responsabilidade fiscal, argumentando que “o subsídio amplo nos combustíveis atende a quem pode arcar com a inflação normal no mundo”, defendendo que seja privilegiado “quem não pode”.
Lira aproveitou ainda para cobrar da Petrobras que reduza os preços dos combustíveis diante da baixa do dólar e do preço do barril, dois componentes do preço dos produtos.
“Nós estamos com o petróleo baixando, e o dólar baixo. E a cobrança é: a Petrobras agora vai baixar o preço do combustível? O óleo diesel é mais barato fora do que aqui. Nós vamos ter redução de preço? Ou é só como invasão, que vai avançando, avançando, e não recua?”, questionou.
“É importante que a Petrobras recue do preço e do aumento que deu”, declarou.
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