Acordo destrava venda de blindados da Iveco

Um dos resultados da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Buenos Aires, ontem, foi a iniciativa de destravar a venda de 156 blindados brasileiros da Iveco, que tem planta em Sete Lagoas (região Central), para o governo argentino.
Os veículos “Guarani 6×6” são fabricados no Brasil, mas têm em sua composição peças argentinas. O acordo, que prevê a transferência de tecnologia, ficou parado por alguns anos, durante todo o governo anterior e vai ser retomado agora.
“Encorajarão a negociação do contrato entre o Exército Argentino e a Iveco Veículos de Defesa para a incorporação de 156 unidades do Veículo Blindado de Combate sobre Rodas ‘Guarani 6×6’, incluindo a transferência de tecnologia, a compensação para o aumento progressivo na fabricação de peças na Argentina, o apoio logístico e para o treinamento de tripulações e pessoal técnico do Exército Argentino”, diz trecho do acordo assinado nesta segunda.
O acordo serve de incentivo também para o investimento brasileiro na indústria de defesa, que Lula pretende fazer crescer.
A produção dos blindados da Iveco no Brasil é concentrada na planta em Sete Lagoas. Recentemente, a companhia foi vencedora de uma concorrência para a venda de 98 blindados para o Exército Brasileiro.
Gás natural
Durante a visita de Lula, o governo argentino anunciou que licitará nos próximos 90 dias a construção do segundo trecho do gasoduto de Vaca Muerta, que chegará à província de Santa Fé, e possibilitará a exportação de gás para o vizinho Brasil. A informação é do ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa.
A Argentina já está construindo a primeira etapa do gasoduto, que ligará a segunda maior reserva de gás não convencional do mundo, Vaca Muerta, na província de Neuquén, com Buenos Aires. O objetivo é estendê-lo à província de Santa Fé.
“Temos a decisão nos próximos 90 dias de colocar em licitação a segunda parcela para garantir por um lado o abastecimento de Uruguaiana, mas por outro… explorar o desenvolvimento da infraestrutura para abastecer o Rio Grande do Sul”, disse Massa, em palestra junto com seu par do Brasil, Fernando Haddad.
“O desafio que temos que enfrentar juntos é que Vaca Muerta chegue ao Brasil para que os brasileiros tenham acesso ao volume de gás que precisam para o processo de desenvolvimento industrial e para que os argentinos tenham a oportunidade de exportar parte do que é nosso recurso, nossa riqueza do subsolo, que hoje está de alguma forma inexplorado ou subaproveitado por falta de infraestrutura”, acrescentou.
A afirmação ocorre em meio à visita de Luiz Inácio Lula da Silva ao país argentino, onde o presidente afirmou ao lado de seu par Alberto Fernández que o governo brasileiro criará as condições para financiar o gasoduto, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).
“Eu tenho certeza que os empresários brasileiros têm interesse no gasoduto, nos fertilizantes que a Argentina tem, no conhecimento científico e tecnológico da Argentina. E se há interesse dos empresários e do governo e nós temos um Banco de Desenvolvimento para isso, nós vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente puder fazer para ajudar no gasoduto argentino”, disse Lula.
Apesar da promessa, o presidente brasileiro deixa nas entrelinhas que o modelo de financiamento não está exatamente definido. Uma fonte ouvida pela Reuters revelou que o Brasil não deve voltar ao modelo anterior de financiar diretamente obras de infraestrutura em outros países, mas financiar a compra de bens de empresas brasileiras a serem usados nas obras.
O acesso ao gás argentino, no entanto, é de interesse direto do Brasil, que hoje depende em grande parte do gás boliviano. O campo de Vaca Muerta está entre os maiores campos gasíferos do mundo, e poderia aliviar a dependência brasileira.
Presidente defende diálogo com a Venezuela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem o diálogo como única solução para a crise venezuelana e disse que espera a volta da normalidade diplomática entre o Brasil e a Venezuela dentro de dois meses, após reunião bilateral entre ambos, prevista para a tarde de segunda-feira, ter sido cancelada.
Lula e Maduro se encontrariam em Buenos Aires às margens de uma reunião da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos(Celac), mas o presidente venezuelano cancelou sua viagem à capital argentina. Lula afirmou, em entrevista coletiva ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, que o encontro “vai ficar para outra oportunidade”.
Lula defendeu Maduro e disse esperar que dentro de dois meses as relações bilaterais entre Brasil e Venezuela sejam retomadas, com aberturas de embaixadas em ambos os países.
“O Brasil vai restabelecer relações diplomáticas com a Venezuela. Nós queremos que a Venezuela tenha embaixada no Brasil, que o Brasil tenha embaixada na Venezuela, e vamos estabelecer a relação civilizada entre dois estados autônomos, livres e independentes”, afirmou.
As relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela foram rompidas pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2020. Mesmo antes disso, em março de 2019, Bolsonaro assinou um decreto proibindo a entrada do alto escalão do governo de Nicolás Maduro, incluindo o presidente venezuelano, no Brasil, o que impossibilitou que Maduro comparecesse à posse de Lula.
Sob Bolsonaro, o Brasil reconheceu o líder de oposição Juan Guaidó como presidente autodeclarado da Venezuela, acreditando a embaixadora dele junto ao país –o que agora será revertido.
Lula criticou Guaidó, afirmando que o reconhecimento dele como presidente da Venezuela por diversos países sem ter sido eleito pelo povo foi “uma coisa abominável para a democracia”.
A Venezuela enfrenta sanções dos Estados Unidos e da União Europeia desde que Guaidó foi reconhecido pelos EUA e aliados ocidentais como o líder legítimo do país por considerarem a reeleição de Maduro em 2018 uma fraude.
“Da mesma forma que sou contra a ocupação territorial russa da Ucrânia, sou contra muita ingerência no processo da Venezuela”, afirmou.
“Para resolver o problema da Venezuela a gente precisa resolver com diálogo, e não com bloqueios. A gente vai resolver com diálogos, e não com ameaças de ocupação”, disse.
O presidente também voltou a criticar o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba e comemorou a presença do presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, na cúpula da Celac em Buenos Aires.
“Estou convencido de que a Celac será muito importante para a América Latina”, disse Lula ao lado de Fernández.
“Espero que logo logo Cuba possa voltar a um processo de normalidade e se acabe o bloqueio a Cuba que já dura mais de 60 anos, sem nenhuma necessidade… Portanto, o Brasil e os países que compõem a Celac tem que tratar Venezuela e Cuba com muito carinho, e aquilo que a gente puder ajudar a resolver os problemas, nós vamos ajudar.” (Reuters)
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