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Appa já captou R$ 260 mi em recursos financeiros

Em 30 anos, desenvolveu, gerenciou e executou mais de 235 projetos
Appa já captou R$ 260 mi em recursos financeiros
O setor sempre sofreu com o subfinanciamento, diz Vieira | Crédito: Gilberto Goulart

Surgida há 30 anos, em Belo Horizonte, a Appa — Arte e Cultura, Organização Social (OS) e Organização Social Civil de Interesse Público (Oscip) voltada para parcerias público-privadas na área da arte, cultura e patrimônio -, se manteve resiliente e resistente para enfrentar diferentes crises econômicas e políticas, descrédito e descaso com as manifestações artísticas e ataques frontais à cultura e seus agentes. Nesse tempo, apesar das dificuldades, foram mais de R$ 260 milhões captados e mais de 235 projetos.

Nos últimos cinco anos – justamente quando o cenário político se tornou mais duro e a tragédia humana e econômica da Covid-19 se abateu sobre toda a sociedade a partir de 2020 – porém, a profissionalização da gestão fez com que a Appa tivesse um salto de qualidade e uma forte expansão das atividades. Nesse período, a associação passou de 60 para 144 colaboradores e ampliou a abrangência para além das fronteiras do Estado, desenvolvendo parcerias no Amapá, Maranhão, Pará e Rondônia.

De acordo com o presidente da Appa, Xavier Vieira, a OS divide princípios da administração pública, como transparência, isonomia, idoneidade, economicidade e publicidade, mas pode também operar com valores privados como agilidade, versatilidade, foco no resultado e nas pessoas.

“O setor sempre sofreu com o subfinanciamento, a gestão amadora e a desregulação jurídica. Foi só a partir do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), (criado em 2014) que foi permitido ao Terceiro Setor gerir serviços não exclusivos do Estado, como educação, saúde, cultura, turismo etc e remunerar os corpos diretivos. Isso mudou a nossa história”, afirma Vieira.

A aproximação com a Fundação Dom Cabral (FDC) – que faz parte do grupo das dez melhores escolas de negócios do mundo -, em 2017, foi um passo determinante rumo à profissionalização. Por ano, quatro executivos da Appa passam por formação na FDC. Além disso, todos os anos um professor da Fundação ajuda na construção do planejamento estratégico. A partir daí, a constituição de uma diretoria técnica levou à criação de setores como de projetos, comunicação, tecnologia da informação e gente, por exemplo.

“Por fim, criamos o nosso programa de compliance e integridade, e há dois anos uma política de diversidade, equidade e inclusão, mudando a Appa da porta pra dentro. Isso aumentou o grau de satisfação interna e o grau de atração de talentos. Hoje, fazemos entregas melhores porque as pessoas estão satisfeitas. Conseguimos ir para o híbrido e manter a qualidade. Temos um sistema de confiança que funciona muito bem. Quando damos confiança e autonomia, as pessoas respondem positivamente”, destaca.

Em Minas Gerais, a associação está presente em equipamentos como Palácio da Liberdade e Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e Fazenda Boa Esperança, em Belo Vale, na região Central. Está também a cargo da Appa a recuperação do prédio verde da Praça da Liberdade, onde está a sede do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), para a instalação nos próximos meses da Pinacoteca Cemig Minas Gerais e do Centro do Patrimônio Cultural Cemig. Neste mês, a entidade iniciará a preparação para as obras de requalificação de dois andares da edificação, na fase inicial do projeto.

A Appa ainda realiza ações de programação, restauro, educação patrimonial junto ao Centro de Memória da AngloGold Ashanti, que funciona na Casa dos Ingleses, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O espaço foi todo requalificado, com conteúdos modernos que proporcionam uma experiência imersiva e educativa ao visitante. Em 2023, a organização realizará também o restauro do aqueduto Bicame, principal símbolo da cidade de Nova Lima, com investimento da empresa.

Atualmente, a parceria mais ousada da Appa prevê a restauração e requalificação da Fortaleza de São José de Macapá, projeto em parceria com o governo do Amapá, com boa parte dos recursos, cerca de R$ 32 milhões, captados junto ao Econômico e Social (BNDES). A Fortaleza de São José é candidata a Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e terá enorme importância na qualificação do trade turístico do Estado e da região norte do País.

“A pandemia trouxe um enorme receio. Vimos uma possibilidade dos principais contratos serem rescindidos porque não tinham mais finalidade. Poucos projetos de patrimônio tiveram uma sobrevida. Fizemos um plano de crise e pivotamos todas as nossas entregas para o virtual. Fizemos um seminário de ópera com os maiores profissionais do mundo, gente que jamais viria aqui e tivemos um acesso qualificado. Uma mostra de cinema japonês do Cine Humberto Mauro teve mais de 100 mil acessos. Tudo isso abriu possibilidades para trabalhar na região Norte. Encontramos um mercado carente, mal atendido e com muita disposição para fazer as coisas”, explica.

A retomada de mecanismos de fomento com as leis de incentivo junto com a segunda edição da Lei Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo embalam o “otimismo responsável” do gestor. Segundo ele, tudo isso somado às saudades do público das atividades culturais e dos encontros, promete muito trabalho para 2023 e os próximos anos.

“Vejo o mercado com uma demanda represada por parte de governos, patrocinadores, artistas que não conseguiram produzir durante a pandemia. Vários editais de prefeituras para restauro, gestão de equipamentos culturais e eventos estão sendo lançados. Sou otimista com os pés no chão. Esse ano o mercado vai ter uma grande irrigação financeira. E, principalmente, temos um setor que precisa e quer trabalhar e um público que quer celebrar os encontros”, completa o presidente da Appa.

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