Política

Desconto na outorga onerosa avança

Projeto da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) vem gerando polêmica, uma vez que alguns setores falam em mudança no Plano Diretor
Desconto na outorga onerosa avança
Projeto de lei apresentado pelo Executivo municipal recebeu 33 votos favoráveis e sete contrários e avançou para o segundo turno | Crédito: Cláudio Rabelo/CMBH

O Plenário da Câmara aprovou em reunião extraordinária na sexta-feira (24), em 1º turno, o Projeto de Lei 508/2023, que sugere alterar o funcionamento de instrumentos de política urbana previstos no Plano Diretor. Apresentado pelo Executivo, o texto traz, entre suas principais inovações, a proposta de reduzir o custo da Outorga Onerosa do Direito de Construir – contrapartida financeira paga pelos empreendedores para erguer edificações maiores do que o permitido pelo coeficiente básico de aproveitamento dos terrenos.

O objetivo, segundo a Secretaria Municipal de Política Urbana, é adequar os preços desses títulos, de modo a torná-los mais atrativos para o mercado, favorecendo a arrecadação por parte do município. Recursos oriundos do pagamento da outorga onerosa são investidos na construção de habitações de interesse social, aquelas destinadas às famílias de baixa renda.

O texto obteve 33 votos favoráveis e 7 contrários. Eram necessários 28 para aprovação. Antes de seguir para sanção ou veto do prefeito, a proposta ainda precisa receber o aval do Plenário em votação de 2º turno. 

Iniciados às 9h, os debates duraram quase seis horas, e opuseram parlamentares contrários ao PL àqueles que defenderam a proposta apresentada pelo Executivo. Entre os críticos do projeto, vereadores da bancada do PT e do Psol alegaram que o texto representa um tipo de renúncia fiscal, que dificultaria a arrecadação de recursos a serem aplicados na redução do déficit habitacional da cidade, hoje estimada em cerca de 70 mil moradias.

Os parlamentares apontaram ainda que o PL poderia levar a uma descaracterização do Plano Diretor, mudança que desrespeitaria princípios definidos na IV Conferência Municipal de Política Urbana, evento no qual foram firmados os termos centrais para sua para a criação do Plano. Realizada em 2014, a conferência reuniu representantes da sociedade civil, do setor empresarial e do poder público para discutir e propor diretrizes para o desenvolvimento urbano da Capital.

Em contraponto, Bruno Miranda (PDT), líder de governo na Câmara, afirmou que o texto não altera o Plano Diretor, afetando, ao invés disso, o funcionamento de instrumentos de política urbana presentes na legislação municipal. Ainda segundo o parlamentar, a aprovação do texto seria importante porque fomentaria a geração de empregos, em decorrência do estímulo ao setor de construção civil, bem como por incrementar os recursos a serem aplicados no Fundo Municipal de Habitação, destinado ao investimento em moradias populares.

 “Atualmente temos cerca 1,8 milhões no Fundo de Habitação. Caso essa lei já estivesse em vigor, com uma outorga onerosa mais competitiva e alinhada aos valores de mercado, teríamos 90 milhões à disposição do Fundo”, argumentou o parlamentar.

Descontentamento

Antes de iniciar a apreciação no Plenário, a vereadora Iza Lourença (Psol) utilizou o tempo de liderança para manifestar seu descontentamento em relação à forma como a tramitação do projeto ocorreu na Casa e pediu a suspensão da votação. Segundo Iza, além da celeridade imposta a partir da apreciação conjunta do PL nas comissões permanentes e da negativa quanto à solicitações para realização de audiências públicas para debater o tema, haveria recomendação para a não apreciação da matéria por parte de órgãos do Sistema de Justiça, uma vez que não há dados disponíveis sobre a arrecadação da outorga onerosa. “Houve um pedido da Defensoria Pública do Estado e um pedido do Ministério Público para que a gente não vote esse projeto hoje, baseado na falta de dados para que os vereadores tenham condições de votar esse que é um projeto importantíssimo e que ao ser votado aqui, inviabiliza o Plano Diretor da cidade”, afirmou a parlamentar.

Também Pedro Patrus (PT) se manifestou desfavorável a apreciação do PL sem o devido debate com a cidade e falou do possível impacto no orçamento municipal. Disse não ser contra o projeto em si, mas contra à falta de debate sobre ele, uma vez que a proposta altera a vida da população da cidade, em especial dos mais vulneráveis e pode trazer impacto no orçamento. “Esse PL é uma renúncia fiscal ou não é? Os técnicos da nossa Casa, competentes, chegaram à conclusão que sim, é uma renúncia, pois o valor da outorga onerosa já está prevista no orçamento. Então temos uma renúncia sem saber qual é o impacto”, declarou o parlamentar. (Com informações da CMBH)

Entenda o projeto

O PL 508/2023 sugere alterar regras relativas à aplicação de alguns dos instrumentos de política urbana previstos no Plano Diretor. Entre as mudanças propostas estão revisões na Lei 9074/2005, que regula o parcelamento do solo e de edificações da Capital. Atualmente, a norma permite a regularização das construções que excedem o seu coeficiente de aproveitamento apenas por meio do pagamento de Outorga Onerosa do Direito de Construir, ou seja, mediante contrapartida financeira por parte do empreendedor. Em caso de aprovação do PL, a Lei fica readequada, de modo a prever a possibilidade de aquisição de potencial construtivo também por meio de outros instrumentos, como, por exemplo, a Transferência do Direito de Construir (permissão dada ao proprietário de um imóvel para transferir seu potencial construtivo não utilizado a outro imóvel) e a adoção de soluções projetuais de gentileza urbana (como construção, nas edificações, de áreas destinadas à fruição pública ou de área permeável à chuva).

O PL 508/2023 sugere ainda alterar a Lei 11.216/2020, que regulamenta procedimentos relativos ao uso dos instrumentos de política urbana previstos no Plano Diretor. Ele institui a possibilidade de parcelamento, em até 36 vezes, dos valores a serem pagos pela Outorga Onerosa do Direito de Construir, com a possibilidade desconto quando do pagamento à vista. O incentivo abre portas para o fortalecimento da política habitacional de BH, uma vez que recursos advindos do pagamento da outorga são investidos na construção de habitações de interesse social. Outra inovação trazida pelo projeto é a mudança na forma de cálculo do custo da outorga onerosa, de modo a compatibilizá-la com valores praticados no mercado e torná-la mais atraente para os empreendedores.

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