Pizzarias surfam na onda do delivery

Quem nunca abriu um sorriso ao ouvir a frase “vamos pedir uma pizza?” por se livrar da cozinha ou não reuniu a turma no melhor rodízio da cidade para comemorar qualquer coisa, que atire a primeira pedra. O certo é que a comida de origem italiana já se abrasileirou faz tempo e a sua praticidade e fácil adaptação a qualquer paladar, aliadas à boa relação custo-benefício, tornou-a um fenômeno de popularidade.
E os números do mercado não mentem. Segundo um estudo inédito realizado pela Associação Pizzarias Unidas do Brasil (Apubra), o mercado brasileiro do segmento teve um crescimento de 499% nos últimos 10 anos. Do total, 85% (60.410) registraram abertura entre 2012 e 2022, bastante impulsionados pela necessidade do delivery em épocas de isolamento social imposto como medida de combate à pandemia de Covid-19.
Minas Gerais seguiu o padrão nacional. Segundo o mesmo estudo, nos últimos 10 anos (de 2012 a 2022), o Estado atingiu um crescimento acumulado de 551% de pizzarias em operação, saltando de 983 (em 2012) para 6.399 (em 2022).
No cenário nacional, Minas está em terceiro lugar no Top 12 dos estados com o maior número de pizzarias ativas no Brasil, representando 9% de todas as unidades abertas, perdendo apenas para o Rio de Janeiro, com 10%, e para o líder do ranking, São Paulo, com 28%.
Os resultados do estudo mostram o território mineiro como rico em oportunidades, mas também repleto de desafios. Com mais de 20 milhões de habitantes, é atraente para as grandes redes de franquia, mas também reserva espaço para os empreendedores locais.
Com 204 unidades espalhadas pelo País, a Patroni se prepara para inaugurar mais quatro unidades no Estado ainda esse semestre, sendo uma em Uberlândia (Triângulo Mineiro) e três na Capital. Elas se somam às três já existentes: Governador Valadares (Vale do Rio Doce), Juiz de Fora (Zona da Mata) e Belo Horizonte. A rede registrou um aumento de 100% no faturamento do delivery nos últimos dois anos. Em 2023, a empresa deve faturar R$ 156 milhões e chegar a 285 lojas. Atualmente, 55% das unidades são no formato on-line.
De acordo com o diretor de Expansão da Patroni, Admilson Souza, a pandemia, além de elevar o volume de pedidos de entrega, também tornou o consumidor muito mais exigente. “O povo mineiro gosta de comer bem e fomos muito bem recebidos no Estado. A pandemia deu outra importância ao delivery e, mesmo podendo sair de casa, as pessoas seguem utilizando o sistema de entrega. São momentos diferentes de consumo. Então, agora é hora de investir para consolidar os dois momentos, investindo em marketing, em parceria com os aplicativos e no fortalecimento da marca. Estamos, por exemplo, desenvolvendo novas embalagens que vão levar a mensagem da Patroni para a casa do cliente, não apenas o produto”, explica Souza.
Pesquisa realizada pela Kantar mostra um aumento de quase 90% no número de brasileiros que pedem comida por delivery pelo menos uma vez por semana nos últimos dois anos. A campeã dos pedidos continua sendo as pizzas, o prato predileto para dividir com os amigos e família, uma vez que 85% dos pedidos são compartilhados.
Além do formato on-line, a Patroni passou a oferecer o conceito 3×1: o franqueado compra um único negócio em que pode trabalhar três marcas da Patroni, pizzas (Patroni), culinária brasileira (Don) e lanches (Carcamanos), tornando o investimento mais eficiente.
A perspectiva é que o crescimento aconteça principalmente por meio das lojas on-line e pelas lojas de rua, que têm um custo fixo muito menor do que as lojas em shopping centers.
“São pontos mais interessantes que os shoppings, que estão muito caros. Orientamos nossos empreendedores para os street malls como opção mais barata e onde já existe segurança”, pontua o diretor de Expansão da Patroni.
Com mais de 80 cidades mapeadas no Estado, cinco unidades em operação e três negociações adiantadas para abertura ainda este ano, a Pizza Prime vira o seu foco para Minas Gerais. A rede paulista vem crescendo concentricamente e a inauguração em Varginha (Sul de Minas) deve ser a primeira das três.
A rede de pizzarias 100% brasileira, Pizza Prime, pretende faturar R$ 130 milhões e alcançar 80 unidades abertas em todo o Brasil até dezembro de 2023. Atualmente, são 70 unidades em dez estados. O investimento médio para abertura de uma loja é de R$ 269 mil.
Para o CEO e fundador da Pizza Prime, Gabriel Concon, ter surgido já como delivery fez com que a rede estivesse preparada quando a pandemia chegou, possibilitando que a Prime dobrasse de tamanho nesse período. Agora é hora de se ajustar ao novo momento do mercado.
“Esse é um momento em que estamos olhando muito para dentro do negócio. A partir do meio do ano, voltamos a expandir mais forte. A pizza junta um bom custo-benefício e a experiência de um produto que lembra bons momentos em família e entre amigos, seja no salão do restaurante ou em casa. Vamos lançar um projeto para atender na madrugada. O consumidor mineiro tem a característica de ir buscar no balcão. Enquanto espera, ele bebe alguma coisa e bate um papo. Isso é muito próprio do Estado e faz com que seja importante termos um espaço adequado para recebê-lo”, destaca Concon.

Redes regionais preparam expansão nacional
As redes nacionais de pizzarias estão sempre atentas ao mercado mineiro, mas isso não quer dizer que os empreendedores locais não tenham suas estratégias e um público cativo. Tanto é que algumas marcas independentes já estão se tornando redes estruturadas para invadir o mercado além divisas do Estado.
A Mr.Cheff Pizza é uma franquia mineira de delivery de pizzas, criada em Belo Horizonte em 2019, voltada para pizzas e calzones premium. São três unidades próprias na Capital, nas regiões Centro-Sul, Barreiro e Pampulha, e uma franqueada também na região Centro-Sul. A meta é abrir 12 novas unidades em 2023. O investimento inicial é de R$200 mil.
O CEO da Mr. Cheff, Edmundo Silva Junior, destaca que, apesar de toda a tragédia humana, a pandemia acabou por acelerar o processo de digitalização dos negócios e dos hábitos de consumo e isso, de alguma forma, ajudou no sucesso do seu negócio.
“O nosso plano original era ser só delivery. Então estávamos preparados e não tivemos o tempo de adaptação que a maioria enfrentou. Como uma marca nova, porém, precisava ganhar visibilidade e fizemos um trabalho forte nas redes sociais com influenciadores e impulsionamento. A unidade de Lourdes tem um pequeno salão para receber os consumidores e vamos transformá-la em uma loja conceito. Com a queda das restrições, já indicamos para os candidatos a franqueados que escolham um imóvel que tenha esse espaço”, afirma Silva Júnior.
A aposta parece certa. Belo Horizonte é o terceiro maior polo de delivery no Brasil, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro, com mais de 17 mil restaurantes cadastrados na principal plataforma de delivery do País.
E é nesse ambiente criado pelo crescimento do delivery que outro negócio com DNA mineiro começa a crescer, porém com um modelo de negócios bastante distinto, valendo-se das cozinhas para Centros Gastronômicos, até bem pouco tempo chamadas de dark kitchens (cozinhas escuras).
Proprietário dos restaurantes delivery I Love Pizza, Italianni Massas e Pizzas e Santa Coxinha, Gabriel Correa Lima, observa que do ponto de vista do investimento inicial para a montagem de uma Cozinha para Centros Gastronômicos com foco em delivery, quando comparada a um restaurante tradicional, exige um aporte de apenas 20% do valor total, em média. Economizando em itens como decoração do salão, louças e talheres até a manutenção de uma equipe de atendimento treinada.
A cozinha fica no Barro Preto (região Centro-Sul) e a segunda será aberta na primeira semana de abril, no bairro Santa Cruz (região Noroeste).
“A proposta da empresa em se responsabilizar por toda a logística de entrega, desde a saída das pizzas da cozinha até a casa do cliente, além do suporte para que o meu empreendimento pudesse crescer, me permitiria cuidar ainda mais da produção e gestão do negócio. Esse modelo me permite trabalhar multimarcas e aproveitar a mão de obra de acordo com os momentos de pico em cada uma, deslocando os profissionais de acordo com a necessidade”, avalia Lima.
Exclusividade
Apostando no trinômio BBB – bom produto, bom atendimento e bom preço -, o renomado chef Eduardo Maya segue no comando da Pitza 1780, com duas unidades na região Centro-Sul, nos bairros Funcionários e Santo Antônio.
Dono de uma cozinha autoral, que valoriza ingredientes regionais, ele cita Bill Gates, o dono da Microsoft, para dar a sua receita de sucesso: “Se você quiser chegar onde as pessoas não chegam, faça aquilo que as outras pessoas não fazem”.
Um jeito muito próprio de fazer as coisas parece ser o segredo do chef que está há um ano formatando a expansão do Pitza 1780 por meio de franquias. A divulgação dos valores de investimento e detalhes dos formatos está prevista ainda para este semestre.
Enquanto isso não acontece, ele lamenta a concentração dos deliveries e acredita que o modelo pode ser melhor utilizado.
“O mercado vai continuar com um delivery muito forte e, infelizmente, concentrado. O ideal é que a gente possa voltar com as pessoas para dentro das lojas como era antes da pandemia sem perder o público do delivery”, completa o fundador do Pitza 1780.
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