O Olhar do Mercado Financeiro sobre o ESG
Carlos Braga*
Em junho de 2004, um grupo de 20 instituições financeiras globais responsável pela gestão de mais de US$ 6 trilhões endossou uma iniciativa patrocinada pelo Pacto Global da ONU intitulado “Who care Wins” estabelecendo pela primeira vez a integração de aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) nos critérios de investimentos do mercado financeiro e nas práticas empresariais em geral. Desde então existe uma pressão crescente por parte dos investidores, consumidores e stakeholders para entender como as empresas criam valor ao incorporar objetivos ESG na sua estratégia de negócios.
E de forma prática o que é o ESG? Trata-se de uma estrutura de gerenciamento de risco e investimento que busca avaliar os desafios e oportunidades que os fatores ambientais, sociais e de governança representam para o valor de uma empresa. O ESG deve ser visto como uma história de sucesso visto que em poucos anos, evoluiu de um tema restrito ao mundo das Finanças para um assunto que está no topo das agendas corporativas em todo o mundo. No entanto, também precisamos reconhecer as imperfeições do ESG. A falta de padrões universais e dificuldade de acesso as pequenas e médias empresas entre outros aspectos onde há espaço para melhorias.
Em muitos casos, os efeitos da pandemia da Covid-19, guerra da Ucrânia e a demanda crescente da sociedade por maior justiça social, diversidade e inclusão levaram as empresas a avançar na escala de maturidade ESG em um ritmo mais rápido. Neste sentido, o mercado financeiro passou a valorar com um prêmio significativo empresas geridas com foco maior na sustentabilidade em relação a seus pares menos sustentáveis, e isto tem levado a uma busca nunca vista pela adoção de práticas ESG.
Exemplificando em números a Agência Internacional de Energia estima que apenas a transição energética exigirá cerca de US$ 1 trilhão de investimentos anuais, gerando novas oportunidades para o setor industrial no Brasil com sua matriz energética renovável. De acordo com a Global Sustainable Investment Review, em 2020 o volume de investimento ESG atingiu US$ 35,3 trilhões representando um total de 35,9% dos ativos globais sob gestão. Enquanto isto no Brasil tivemos 282 emissões de títulos ESG totalizando R$ 197,35 bilhões desde 2015, segundo a certificadora NINT. O número de empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade (ISE) da B3 mais que dobrou para 70 ações, contra média de 30 na última década.
Como podemos ver os líderes empresariais nunca estiveram tão engajados realçando ainda mais o seu dever fiduciário como indutores desta agenda. Acreditamos que o mercado financeiro saberá recompensar cada vez mais as empresas que adotarem as práticas ESG como parte da sua proposta de valor e planejamento de longo prazo, com benefícios claros para os seus stakeholders e a sociedade em geral.
*Vice-presidente do IBEF MG, Coordenador de Programas ESG da FDC, Consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento e conselheiro de diversas empresas privadas e organizações do terceiro setor.
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